Capítulo 7 - Voz de Cobre e Fogo

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Só percebeu que martelava o próprio dedo quando Henri segurou sua mão. Não sentia dor, apenas um leve formigar sobre a unha. Estava absorto o dia todo, não saíra daquela placa por quase toda a manhã e não queria sair. Na verdade, seus pensamentos o perturbavam, sempre voltando para o sonho que tivera. Sonho? Pesadelo.

- O que há com você, Dio? Está estranho. - Henri segurou o martelo e puxou a placa para sua frente na mesa, assumindo a tarefa. 

Virou as costas para o calouro, pois não devia explicações a ele. Seu bom humor também era medido com o mau humor e muitos conheciam a sua dubiedade inofensiva. E também conheciam o porquê dela. Dioge conhecia apenas um outro órfão na Academia, e este órfão era Mya Patlovich, sua eterna e maior inimiga em tudo. A garota, no entanto, lidava tão bem com sua situação de abandono, que quase não parecia diferente de qualquer nobre rico daquela escola. Ela se via como filha de Felon, como sua maior defensora e aluna. Para ele, não passava de um modo dela se ver confortável no mundo, o professor nunca nutriria sentimentos por alguém além dele. Yvo lhe contara sobre aquilo, depois que ele e Patlovich discutiram no corredor externo, certa vez.

- Você não pode condenar alguém que, assim como você, não sabe se deve ter raiva dos próprios pais ou se deve ter compaixão por eles. Ninguém conhece os motivos pelos quais são órfãos, nem se estão mortos ou se estão fugidos. Tudo o que se sabe é que tomaram o cuidado devido para que vocês dois estivessem vivos agora. - O ferreiro tinha uma grande novela familiar, com intrigas que nem mesmo os maiores bisbilhoteiros da Academia conheciam. Mas, para ele, Yvo era mais um companheiro de taverna. Quando sentavam-se lado a lado no balcão, ouvindo as músicas do palco e pedindo mais uma ao taverneiro, o professor se tornava amigo e eles conversavam sobre tudo.

- Acho que isso não faria diferença para Mya, ela tem Felon.

Dioge estava já um pouco bêbado.

- Isso é o que vemos no exterior, nunca conhecemos de verdade o coração de uma mulher. - o homem parecia muito sábio ao dizer isso. 

- Mulher? - ele rira, empurrando a caneca no balcão. - Ela não é mulher, é uma garota. 

- E você é um garoto, não um homem. Se me perguntasse, diria que ainda irão se dar muito bem. - Yvo entornou um longo gole de cerveja de Kayalto e bateu a caneca com força no tampão de madeira. - Você está limitado demais em ouvir apenas o que ela diz, e não o que ela sente. Dioge, o que eu lhe ensinei sobre a forja?

Dioge era um ótimo aprendiz na Oficina, seria um sênior caso a disciplina fosse oficializada, no entanto era tido como repetente e fracassado. Assim como nas demais áreas de sua vida. Mas, quando Yvo dizia que esperava algo dele, então tinha de corresponder às expectativas. Afinal o professor parecia ser o único que não o levava como um traquinas, inútil ou órfão. 

Todavia, ele continuou em silêncio. 

- Ouça a forja, antes de ouvir aquilo que quer fazer. Ouça o que o fogo deseja, antes de começar a moldar o metal. É ele quem diz quantos centímetros deve ter a barra ou de que formato será a peça. Muitas vezes isso pode alterar todo o projeto, mas será uma obra, ao invés de uma simples peça. 

- O que isso tem a ver?

- Não é apenas na forja que devemos aprender a ouvir o desejo do éter. É também nas pessoas. - Yvo abriu um leve sorriso, porém Dioge não pôde compartilhar daquele momento, estava mais sóbrio que antes e negava com os pés juntos falar a palavra "éter" sem que fosse alguma traquinagem. 

Ele não acreditava no éter, ou em qualquer baboseira sobre mágica. Conhecia as próprias mágicas e sabia como elas funcionavam: com fios, roldanas, inteligência e muita diversão. Ninguém precisava de mágica se tivesse um cérebro, o problema era convencê-los de que estavam todos sendo enganados por um grupo de "Mestres" formados em sofismo, do qual a Família Kay era a chefe, evidentemente.

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⏰ Última atualização: Oct 11, 2017 ⏰

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