Capítulo 3 - Uma crise

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- E não importa o que você faz, ou quem você é. Se estiver disposto a ajudar a causa, nós estaremos dispostos a aceitar você no grupo. – Noah terminava seu tradicional discurso em frente de todo o ensino médio. Aquele era o último ano em que o fazia, pois no próximo entraria para a faculdade. E por incrível que pareça, todos queriam estar no grupo do príncipe Müller, todos queriam ajudar a causa. Ninguém sabia o que ele fazia para que isso acontecesse, mas ninguém achava aquilo careta. Em vez disso, todos observavam admirados o jovem Noah. E todos estavam correndo para as inscrições, pois haviam somente 30 vagas naquele ano.

“Que piada”, pensava uma jovem. “Eles estão ajudando crianças na África, mas querem apenas 30 pessoas para isso. Eu pensava que se precisava de mais do que algumas centenas, para algo tão grande.”

A jovem garota estava enganada. Noah Müller com certeza sabia o que estava fazendo. Algumas pessoas queriam entrar no grupo ano passado apenas para que pudessem ter um certificado no seu currículo. E por isso, este ano ele seria mais seletivo. Eram 3 os jurados, mas todos sabiam que a decisão final era de Noah. Ele pesquisaria mais a fundo a vida dos inscritos, para que pudesse saber então, quem realmente estava disposto a ajudar, e não a fim apenas de uma menção honrosa pelo projeto.

- Com licença, querido Noah, – a diretora sempre tratava ao príncipe com a maior educação e simpatia possíveis, afinal, pode se dizer que a escola evoluiu consideravelmente graças às grandes doações da Sra. Elizabeth Müller – eu estive pensando, você gostaria de comparecer ao jantar para os membros de ouro deste ano? – ela dizia com curiosidade na voz, pois queria saber a reação de Noah diante de tal convite.

- Olá, Sra. Marks. Claro, seria uma honra. – Noah sorriu, e até mesmo a Sra. Marks ficava encantada quando ele fazia aquilo.

- Que ótimo, querido. O convite será enviado hoje à noite, com o dia e horário do jantar. Mande lembranças para seus pais – ela acariciou levemente seu ombro antes de ir embora.

O sinal tocou, e todos voltaram às suas respectivas salas de aula. O carismático Müller ficou então, sozinho na sala de reuniões. E começou a pensar no quão exausto estava de fazer aquilo todos os anos, desde o início do ensino médio. Noah nunca havia pensado assim, para ser sincero. Mas por algum motivo, ele estava inspirado a sair de sua rotina naquele ano. Não, ele não podia fazer isso. Não podia decepcionar as pessoas quando elas esperavam muito dele.

Sempre a mesma coisa. Ninguém esperava que de repente, o jovem Müller saísse da linha e fizesse algo inusitado, por que aquilo não fazia seu estilo. Aquilo o assustava. O fato de as pessoas sempre esperarem o melhor de Noah. Então ele foi até o banheiro, trancou-se numa cabine e pôs-se a pensar. Sua cabeça estava doendo. Seus pensamentos reverberavam como se estivessem acusando-o de ser perfeito. Noah isso, Noah aquilo.

E é aqui que tudo começa a mudar na vida do nosso pequeno príncipe. Quem imaginaria que algum dia ele, de repente, estaria cansado de fazer o que sempre fez? Como se você gostasse muito de tomar café, e num dia acorda e simplesmente pensa: eu não quero mais tomar café!

Ele estava cansado. Mas o que diabos estava acontecendo, afinal? Müller já estava pensando em ler o que o horóscopo do dia reservava para o signo de virgem. Ou em ligar para a sua mãe e perguntar se aquilo era normal. Certo, essa era a melhor opção. Então pegou seu celular e discou os números. Sua mãe atendeu no segundo toque:

- Olá, meu príncipe – até mesmo essa palavra estava irritando Noah. Por que todos tinham que chamá-lo de príncipe, afinal? E por que essa era a primeira vez que aquilo incomodava-o? – está tudo bem? Não deveria estar na sua aula? – Elizabeth expressava preocupação em sua voz. Ela nem mesmo esperou alguma palavra do pequeno gênio, já mudou seu caminho direto para a escola.

(IM)PERFEITO - Romance gayOnde histórias criam vida. Descubra agora