Povs Lauren
Fiquei deitada na cama enquanto Camila tomava banho. Ela tinha ficado totalmente estranha depois que atendeu o celular. Poderia jurar que não eram as meninas no telefonema.
Enquanto Camila se vestia tomei banho para que fossemos em busca da próxima família. Ela estava calada e isso me dava ainda mais certeza de que alguma coisa havia acontecido naquele telefonema, mas eu estava realmente com medo de perguntar.
Não foi difícil acharmos a casa da família Souza. Ficava na periferia da cidade. Não era um lugar tão miserável quanto o que visitamos em porteirinha, mas também era deplorável o estado de sobrevivência. O esgoto a céu aberto, crianças brincando em um córrego imundo... Por alguns instantes me perguntei para onde iam os nossos impostos, mas acabei me lembrando que, para muitos governantes, é melhor virar o tapete do que mandá-lo para lavanderia. Infelizmente essa é a realidade do país.
Chegamos a um barraco sem reboco, pequeno, onde se via algumas crianças brincando na frente e uma mulher de rosto bem marcado lavando roupa.
Laur - Boa tarde. Poderíamos falar com a senhora por alguns instantes? – perguntei sorrindo.
- Se for mais uma dessas pesquisas de sei-lá-onde, pode ir indo que estou muito ocupada – falou sem sequer olhar para nossas caras.
Laur - Não, Senhora. Gostaríamos de falar sobre um desaparecimento que aconteceu há cinco anos.
A mulher parou o que estava fazendo e nos encarou. Seu olhar continha um misto de raiva e tristeza. Senti o medo correr em minha espinha.
- Por que vocês querem saber? Quem são vocês? – disse se aproximando do portão.
Laur - Gostaríamos de algumas informações sobre o desaparecimento – agora o diálogo ficava por conta de Camila. O olhar intimidador da mulher fez com que eu me afastasse.
- Vocês são da policia? – olhou-nos desconfiada.
L - Não. Estamos aqui para tentar ajudar a encontrar a moça que sumiu.
- Ela não sumiu! Ela foi levada!!! Vocês querem o quê? Se divertir com a desgraça dos outros? Podem ir dando o fora daqui! Não quero mais urubus usando o desaparecimento da minha filha!!! – falou se afastando do portão.
Recuei um pouco mais diante da agressividade da mulher. Camila continuava impassível.
Camz - Senhora, não queremos usar nada. Queremos colocar a pessoa que fez isso na cadeia, mas precisamos de provas. Sabemos quem foi, mas não temos como provar ainda, por isso viemos até aqui! Por favor, precisamos da sua ajuda.
A mulher nos encarou por um longo tempo, até que se aproximou do portão novamente.
- Em que vocês podem ajudar? A polícia não fez nada, o que vocês podem fazer? Você sabe o que é perder um filho?
Olhou no fundo dos meus olhos. Engoli seco.
– Não... Vocês não sabem. Sentir ele crescer na sua barriga – tocou o ventre. – Sentir os primeiros chutes, amamentar e ninar...
Posicionou os braços como se estivesse ninando uma criança.
– As primeiras palavras... Os primeiros passos... Você sonha que ela vai ser doutora e que vai ter uma vida muito melhor do que a merda que você teve. Ai vem alguém e tira a sua menininha de você! Você acha que sabe o que é dor, mas você não sabe. Você acha que sabe o que é amor, mas você não sabe. Mesmo que tenha mais quatro filhos.
Percebi que ela se referia as crianças que antes brincavam no quintal e agora olhavam assustadas para nós.
– Você nunca vai esquecer a perda de um. Porque são todos únicos. E o mais triste sabe o que é? Descobrir que ninguém se importa com sua dor, com sua perda. Que está todo mundo dentro das suas casas enquanto você sai por ai gritando desesperada o nome da sua filha, forçando sua cabeça a imaginar que ela está na casa de uma amiguinha, enquanto seu coração está apertado com medo de que tenha acontecido alguma coisa.
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•Cᴀᴍʀᴇɴ• √ ᗩᗰOᑎᘜ ᑕᕼᗩᑎᑕᗴ
Humor03 •𝐂𝐨𝐧𝐜𝐥𝐮𝐢𝐝𝐚• √ ɴãᴏ ᴘᴇʀᴍɪᴛo ᴀᴅᴀᴘᴛᴀcᴀo √ ➪ ᴅᴇ ᴍɪɴʜᴀ ᴀᴜᴛᴏʀɪᴀ √ ➪ ᴄʀᴇ́ᴅɪᴛᴏs ᴘᴀʀᴀ ᴄᴀᴘɪsᴛᴀ ➪ Umapessoaai2 / CamzLolo S͎I͎N͎O͎P͎S͎E͎ Cᴀᴍɪʟᴀ Cᴀʙᴇʟʟᴏ "Nossa..." pensei de boca aberta ao ver aquele sorriso. Sempre fui o tipo de mulher que se i...
