114 Não era Ricardo.

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Povs Lauren

Olhei pra trás com a esperança boba de que ela ainda estivesse ali, na minha porta. Não estava. Entrei em casa e encontrei papai no escritório.

- Oi, minha menininha! Achei que não voltaria mais! Como foi a viagem? – papai perguntou me abraçando.

L - Foi difícil... Mas depois te conto. Estou tão cansada!

- A mila que te trouxe? Por que ela não entrou?

Laur - Ela está chateada comigo... – encolhi os ombros. – Bom, vou tomar um banho e descansar um pouco. Amanhã eu te conto tudo, ta?

- Tá bom! – beijou minha testa e fui para o banho.

Cansada e muito chateada, inutilmente deixei a água tentar levar aqueles sentimentos. Sai do banho e olhei o celular. Nada. Ela não tinha ligado. Já havia dado tempo dela chegar em casa, mas ela não ligaria. Estava com raiva e com toda razão. Eu não quis ouvir o que ela tinha pra me dizer, eu sequer deixei ela tentar me explicar e já fui logo com dez pedras nas mãos!

Deitei na cama e coloquei o celular do lado, com o toque mais alto para que, se acaso houvesse alguma chamada, eu conseguisse acordar. Tentei dormir, revirei na cama e não consegui. Já passava das onze da noite e ela não havia ligado.

“Se Maomé não liga para a Montanha, a Montanha liga para Maomé!”. Peguei o celular e digitei os números mas não coloquei para chamar... Fiquei olhando para o aparelho, pensando se realmente deveria ligar ou se deveria deixar que ela me procurasse. Parei de pensar e pressionei o botão verde.

Do outro lado o telefone chamava... Uma... Duas... Três... Quatro... Cinco...

Camz - Oi – a voz fria do outro lado me fez arrepender momentaneamente de ter ligado.

Laur - Desculpa... Fiquei preocupada – menti tentando amenizar a frieza da voz de Camila.

C - Não precisa. Estou bem – mais uma vez a voz fria.

L - …, mas eu fico. Camila... Não faz assim.

C - Assim como, Lauren?

L - Assim, com essa frieza! Poxa... Eu... Eu estava chateada.

Camz - E não conta o quanto eu fiquei chateada? Affe, laur... – a voz agora não era mais fria... Era pesada, mas tinha sentimento.

Não soube o que responder. O silêncio se instalou de uma forma sufocante! Do outro lado eu ouvia a respiração pesada de Camila e mal conseguia conter as batidas do meu coração.

Camz - …, foi o que eu imaginei... Não conta. Sabe, Lauren, as vezes te acho tão egoísta por sempre achar que sabe de tudo, que sente tudo! Deveria me ouvir outras vezes... Ahn? O quê??? Como você entrou a...

L - camz??? Mila??? CAMILA!!!

A voz de camz havia sumido de uma hora para outra! O desespero começou a tomar conta de mim. Peguei uma roupa e sai do quarto correndo.

Encontrei papai no corredor. Seus olhos estavam envoltos num semblante carregado.

Laur - Papai, alguma coisa aconteceu com a camz ! Eu estava no celular com ela e de repente ela parou de falar comigo e parecia falar com alguma outra pessoa que estava lá!

- Mas... Como assim?

Laur - Depois eu te explico! Tenho que ir pra lá agora! – procurei as chaves e não encontrava.

- Lauren, você não vai dirigir nesse estado! Eu te levo lá e você me conta o que aconteceu pelo caminho! – falou me acompanhando.

L - Então vamos rápido! Ela pode estar em perigo, papai!!!

“Foi o Ricardo! Só pode ter sido ele!”

Entramos no carro e eu expliquei resumidamente o que havia acontecido para meu pai. Contei o porquê tínhamos ido viajar, mas tudo muito resumido. Não estava com muita cabeça para contar nada direito! Queria ver a Camila logo, queria saber que estava tudo bem com ela, mas algo me dizia o contrário.

Chegamos no prédio e não tinha ninguém na portaria. “Foi assim que ele entrou! O porteiro não estava daí ele aproveitou e subiu! Mas quanto tempo será que ele ficou vigiando?”. Olhei em volta, tentando ver se tinha alguém por perto, alguém que tivesse visto Ricardo subir.

- Lauren, encontrei o porteiro – olhei para papai e ele estava com o olhar assombrado, perplexo. – Liga para a polícia! – falou olhando para algo atrás do armário da portaria.

Meu sangue gelou. Imaginei o que tivesse acontecido, mas não olhei. Minha preocupação com a Camila aumentava em doses cavalares! Se ele tinha sido capaz de machucar alguém que não tinha nada a ver com a história... O medo de ser tarde demais me fez jogar o celular em papai e subir correndo as escadas.

Papai gritou algo que não consegui ouvir. Meu pensamento só estava em mila e no medo que eu estava de ter acontecido alguma coisa.

“Mas já era para ele ter sido preso! Era para ele estar na cadeia! O que deu errado? Ai, meu Deus, protege a mila! Não deixa nada de mal ter acontecido com ela, Senhor!”

Rezava todas as orações que sabia enquanto subia os doze andares. Não sei como, mas subi todos sem sequer sentir o cansaço. Papai chegou alguns instantes depois, me impedindo de abrir a maçaneta.

- Calma, Lauren!!! – disse bem baixinho, mas num tom de preocupação e ordem. – Se ele estiver ai dentro não é prudente que entremos assim! Ele pode fazer alguma coisa conosco e com ela também!

Laur - Como você quer que eu fique calma, pai?! Vai saber o que ele esta fazendo com ela!

- Eu já liguei para a polícia, Lauren! Não podemos fazer muita coisa!

Laur - Não acredito nisso! – fiz cara de desaprovação. Não estava acreditando que ouvia aquilo do meu pai!

- Você fica aqui e eu...

- Ora, ora, quem está aqui... Só faltava você para a festa começar! Não convidei o coroa ai não, mas... Até que ele é atraente!

Minha cabeça rodou! Por alguns segundos não consegui entender o que estava vendo. Estava atônita! Parada na soleira da porta, com um sorriso displicente nos lábios e um revólver apontado para nós.

L - Mas...

- Sim, querida... O que você achou? Que tira tudo de mim e as coisas ficam assim, como estão? Não, Lauren... Não pode ser assim, meu bem!

Sorriu cinicamente até que meu cérebro finalmente processou aquilo: Não era Ricardo.

•Cᴀᴍʀᴇɴ• √ ᗩᗰOᑎᘜ ᑕᕼᗩᑎᑕᗴ Onde histórias criam vida. Descubra agora