Direção Perigosa
As chaves: era tudo o que ele precisava. Seu boné estava posicionado em seu devido lugar. Já estava atrasado. Seus amigos, provavelmente, já o esperavam impacientemente pela demora. Da cozinha, sua mãe observava tudo. Ela não acreditava que aquela pequena criança que ela educou e acompanhou todos seus passos se tornara no homem que estava à sua frente; não acreditava que aquele adolescente tímido e ingênuo se tornara naquele que estava prestes a sair para uma festa bem longe. Ele estava preparando seu próprio destino. Ele havia sido negligente com os ensinamentos de sua mãe. Sem que ela perceba, uma lágrima intrusa e solitária escorria pelo seu rosto, demonstrando toda sua mágoa, tristeza e solidão profunda. O som da porta batendo fortemente foi ouvido, o que a fez levantar seu olhar em direção ao barulho e perceber a ausência de seu filho. Agora as lágrimas escorriam desenfreadamente. Ela escorregou suas costas pela parede até sentar no chão. "Por quê? ", ela se perguntava. "Será que não fiz o suficiente? ". Perguntas, e mais perguntas, porém, sem nenhuma resposta.
•••A felicidade de Felipe era visível. Ele freou o carro bruscamente em frente a casa de seu último amigo.
Deu três buzinadas e o viu entrar com duas meninas, uma de cada lado. Ele revirou os olhos, não achava certo o que fazia. Se não fosse por seus amigos, ele estaria se divertindo com sua mãe, em sua casa. Ele percebera o estado depressivo dela continuamente. Achara que não tivera uma boa infância. Mas será que agora era o momento adequado para brincadeiras? Já estava com dezenove anos, poderia estar cursando uma faculdade e dar orgulho para sua mãe, mas resolveu curtir a juventude. E lá estava ele, pela estrada da vida, já muito longe de seu lar.
Buscando não olhar para trás, Felipe couduzia aquele veículo a uma velocidade razoável. Estava tudo tranquilo, até seu amigo que estava no banco de passageiro lhe oferecer uma bebida. De primeira, ele negou mas, com a insistência deles, ele aceitou uma, apenas uma. Já aberta, ele segurou a latinha com a mão direita e deu seu primeiro gole; fazendo uma careta e sendo aplaudido por seus amigos em seguida. Dos seus lábios surgiu um pequeno sorriso tímido. Não havia sido tão ruim quanto imaginava. Com um impulso, ele levou novamente a bebida a sua boca e tomou seu segundo gole, dessa vez sem caretas. Logo ele já estava pedindo mais e mais cervejas. O álcool já estava circulando seu sangue. A adrenalina estava presente em suas veias. Ele pesou seu pé no acelerador do carro, aumentando sua velocidade e arrancando gargalhadas de seus amigos no banco de trás e despertando um olhar assustado do passageiro ao seu lado, mais logo também foi tomado pela adrenalina juntamente com os outros.•••
Cansada de tanto chorar, ela se levantou do chão e foi em direção a seu quarto tomar um banho para afastar toda àquela tristeza. Ao subir as escadas, sentiu uma pontada muito forte em seu coração que a deixou com falta de ar. Imediatamente ela sentou-se no chão tentando assimilar o que estava acontecendo. "Será que meu filho está bem?", foi a primeira coisa que veio em sua cabeça. Rapidamnte, correu até a sala e pegou seu celular discando o número do seu filho. Após longos e torturantes segundos a ligação foi atendida...
•••
Tudo estava tão irreal. Eu parecia estar levitando na Via Láctea com o brilho das estrelas ofuscados em minha visão, que no caso, era os faróis dos carros transitando na pista. Não sabia que a bebida nos proporcionava essa sensação tão boa. Fui "acordado" com o som do meu celular tocando. Peguei-o e visualizei em sua tela "Leila". Era minha mãe; há muito tempo não a chamava de mãe. Revirei os olhos e deslizei meu dedo pela tela do celular, atendendo a chamada e levando o celular ao ouvido mas, fui interrompido por um clarão muito intenso em meu rosto e uma buzinada prolongada, seguido de um impacto muito forte e de uma gritaria irritante. Levei as mãos ao ouvido e deixei mundo girar. Senti toda a bebida na garganta, querendo sair mas engoli novamente. A cerveja estava mostrando seu lado negativo. Eu parecia estar em um Globo da Morte. Fechei os olhos, para conservar o que tinha comido em meu estômago. Coloquei as mãos no volante novamente, que até então estava em meu ouvido; apertei fortemente e em um movimento rápido o girei para a direita, logo sentindo um outro impacto, dessa vez mais fraco que o outro, e percebi que o carro havia parado de se movimentar. Com um rápido impulso olhei para o lado e me deparei com a pior cena da minha vida: havia um galho de árvore cravado no crânio do passageiro. Me recusei a olhar para trás com medo do que veria. Por um momento desejei estar morto. Todas àquelas pessoas haviam perdido suas vidas por causa da minha irresponsabilidade. Só não fui a óbito também porque estava usando o cinto de segurança.
Muitas vezes não damos ouvidos aos nossos pais. Certamente, eles já passaram por situações semelhantes à nossa e sempre que eles avisam e porque já sabem o que vai acontecer. A mesma coisa acontece com as regras. Todas elas foram criadas para nossa proteção e se violarmos qualquer uma delas, estamos colocando nossa vida em perigo e muitas vezes, a das pessoas ao nosso redor. Se Felipe estivesse ouvido sua mãe, estaria em sua casa nesse momento, e o melhor, não estaria se culpando pela morte de seus amigos; também não estaria em um banco de réu respondendo aos questionamentos do juiz.As pessoas que nos amam que sofrem por nossas atidudes.
Pense nisso!