Perigo mortal
Cheguei na casa da minha tia e me sentei, não pretendendo me levantar por tão cedo. "Despertaria" apenas para ir embora ou para comer, claro. Esta manhã havia sido muito cansativa na escola. Fechei os olhos tentando me relaxar. Permaneci assim por poucos segundos pois, assim que a sala escureceu abri-os novamente para ver o que era. Tinha uma mulher na porta, ou melhor, a Clarice tinha escurecido meu mundo e de todas as formas possíveis. Ela havia prejudicado muito a vida de meus pais, então virara inimiga deles. E se ela lhes fizeram mal, eu também não gostava dela. Olhei para o lado oposto e fiz uma careta discretamente, enquanto minha tia veio conversar com ela. Me levantei, fui pra fora da casa e me sentei na calçada do outro lado da rua. Não iria sofrer aquela tortura. Jamais dividiria meu oxigênio com ela.
Fiquei ali por mais um tempo me distraindo com as pedras sobre o asfalto, e nem percebi a chegada da minha prima.-- Oh Mat, me ajuda aqui! -- ela disse com tantas embalagens nas mãos que não conseguiria dar nenhum passo.
Não falei nada, apenas fui em sua direção e agarrei alguns pacotinhos que nem mesmo sabia do que se tratava. Passei pela sala e vi que Clarice estava sentada sozinha. Não dei atenção, ergui a cabeça e fui atrás de minha prima, mas fui interrompido:
-- Não me conhece? -- perguntou cínica.
-- Não. -- disse secamente.
-- Chega de enrola! Me dá isso de uma vez. -- falou puxando o produto de minhas mãos, mas sem que eu soltasse.
-- É alfinete. -- deduzi arqueando a sobrancelha.
-- Não vai ficar assim! -- disse revirando os olhos e soltando o pacote depois de um longo tempo me encarando.
-- Não revire os olhos na minha frente se quiser eles em sua cara. -- disse saindo em seguida para onde minha prima me aguardava.
-- O que "não vai ficar assim"? -- perguntou minha prima assustada.
-- Ela sempre fala isso mas não faz nada. -- falei dando de ombros.
Ela fez uma careta mas continuou fazendo o que estava fazendo enquanto eu a observava trabalhar.
•••
Percebi que um carro parou próximo o portão da casa. Fui me certificar de quem se tratava, mas não reconheci. Era um Corolla amarelado com vidros muito escuros, me impossibilitando de ver quem o conduzia.
•••
Depois de um bom tempo resolvi ir embora. Sai fora do portão e percebi que o carro suspeito ainda estava estacionado na calçada vizinha. Já havia muito tempo que estava lá, o que me deixou mais desconfiado ainda. Voltei e para chamar meu tio para ir lá ver se ele conhecia.
Quando ultrapassei o portão, vi que a porta do motorista estava abrindo vagarosamente. Meu corpo começou a gelar levemente, deixando meus cabelos no alto. Continuei a observar mais e depois de um tempo vi ela saindo de lá elegantemente com os olhos fechados. Percebi a confusão em que meu tio se encontrava. Ele não a conhecia direito. Ela abriu os olhos e sorriu sem mostrar os dentes. Logo sua mão foi levantando calmamente até a altura de seu ombro. Dei um pequeno passo para trás, sentindo meu calcanhar alcançar o muro. Encarei aquele cano metálico com ou grande buraco negro ao meio.-- Linda não é? -- provocou sorrindo porém sem abaixar a arma.
-- O quê? -- retruquei inocente, fazendo-a revirar os olhos.
-- Já conversamos sobre isso né? -- falei me irritando.
-- Venha arrancar meus olhos agora! -- convidou.
-- Você não tem coragem. -- afirmei me referindo a arma, mas não com tanta certeza.
-- Suas últimas palavras! -- disse passando a pistola para a mão direita que até agora estava na esquerda e me ignorando completamente.
-- Últimas palavras só falamos na hora da nossa morte. -- disse tentando ganhar tempo para ver se alguém me socorria mas a rua estava extremamente desértica.
-- Não acha que seria uma boa hora para pronunciá-las?
-- Não vou morrer agora. -- afirmei dando de ombros.
-- É o que vamos ver! -- falou destravando a arma e tentando aprimorar mais sua mira.
-- Três... Dois... -- disse imitando uma voz robótica -- Um...
Fechei os olhos, sem esperar por algo, mas logo escutei um disparo inesperadamente. Meus ouvidos doeram por causa do barulho. Meu ombro ardeu fortemente, me fazendo soltar um grito e levar a mão livre até ele ao mesmo tempo. Meus olhos se encheram de lágrimas. Olhei para frente e a vi com um enorme sorriso nos lábios.
-- É só o começo! -- disse de forma assustadora.
-- Não mexa com meus pais. -- falei sem força que ela nem sequer escutou.
Nunca, nunca mesmo reaja perante uma cena dessas ou semelhante a ela, como por exemplo, um assalto. Não enfrente se você está em desvantagem. Se a pessoa tem coragem de segurar uma arma, ela tem coragem de matar. Se ela está armada é sinal de que não está com boas intenções. Lembre-se: Sua vida é importante para você?
Vá e faça sua escolha!