1 - O covil

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   Era manhã. A névoa cobria parcialmente a visão na floresta. Era possível enxergar apenas três árvores a frente até tudo ficar branco. Dois cavaleiros trotavam lentamente esmagando as folhas secas no chão. Os galhos pelados, retorcidos e ameaçadores se destacavam na paisagem nebulosa. O que facilitava a locomoção era o espaçamento grande entre as árvores. As vestes negras definiam os dois. Capas longas que se estendiam quase até o chão. Seus cavalos continham os pelos marrons escuro, desgastados e sujos. O cabelo de um dos cavaleiros era curto e negro intenso. Era como se os fios absorvessem toda a luz que ali batia. Seu rosto era livre de pelos. O outro, mais jovem, tinha traços mais leves no rosto e seu cabelo corria até a parte traseira de sua cabeça onde terminava em um coque. Uma mecha pequena caia pela sua testa e dançava na frente de seu olho, cujas cores combinavam. Um azul escuro muito exótico e intenso. Parecia que tinha a noite no olhar. Ambos carregavam expressões sérias nos rostos. Um clima não muito agradável pairava ali.

-São tempos sombrios. – suspirou o que parecia mais velho. -Primeiro Marcos no mês passado. Então Ronald três dias depois. Peter na semana seguinte e Conner na outra. O sumiço de Eli não me conforta nem um pouco... – deu uma pausa e suspirou - Espero que Eli esteja bem. Espero que não o achemos como achamos Conner ontem. Não podemos perder mais de nossos homens e... Ele é um amigo importante demais para que possamos perdê-lo. –fitou por um tempo o horizonte. A preocupação estava estampada em seu rosto.

-Eu concordo com você, irmão. –Dessa vez o mais jovem quebrava o silêncio. –Ele realmente é um bom amigo. –Foi sua vez de fitar o horizonte e ficar em silêncio. –Temos companheiros amedrontados por conta disso. Eu não os culpo... –Continuou. – Os lobos das montanhas geladas do Sul são muito ferozes, mas com a ajuda dos lobos brancos do oeste está quase impossível aguentar. –Deu uma pausa e suspirou – Me desconforta não saber o motivo desses ataques incessantes. Essas duas raças de lobos não deveriam ser inimigas? –Indagou para o mais velho.

-Eles costumavam ser. Esses animais são difíceis de interpretar. Feras com comportamentos indecifráveis e aleatórios. –Olhou para o horizonte de novo. – Eli era um grande caçador e nem mesmo ele conseguiu decifrar os enigmas propostos por esses animais.

O mais novo pareceu perceber que aquilo fazia sentido. Os dois continuaram em silêncio. O fato de ter mais um companheiro sumido e, o fato de que os outros que sumiram antes tiveram um fim trágico, não deixava uma boa atmosfera. Estavam preocupados com o amigo. Os cavalos continuaram trotando lentamente.

-Ele teria servido de grande ajuda ontem. –Falou o mais novo de cabelos azuis escuros. –Saberia o jeito exato de emboscar aqueles crocodilos e os lobos.

-De qualquer maneira a gente se virou. –O mais velho respondeu.

-Pelo menos sairíamos com alguns arranhões a menos. –Ele suspirou fundo.

Um estalo de galho seco soou em seus ouvidos. Veio de alguma das árvores ao redor. Os dois pararam seus cavalos e em uma sincronia jogaram suas capas para o lado deixando à mostra uma espada cravada numa bainha em suas cinturas. Um silêncio pairou sobre o lugar por uns segundos. Apenas o vento uivava. Um bater de asas ecoou e chamou a atenção dos dois.

-Um corvo. –Disse o mais velho franzindo a testa.

-Deve ter algum motivo para ele estar aqui no meio dessa floresta. Procurando alimento, talvez.

Logo botaram seus cavalos para trotarem mais rápido, seguindo no céu, um corvo que pairava acima das árvores. Corriam em uma velocidade média, tentando enxergar o ponto preto acima através da névoa e desviando das árvores.

Anjo de Duas CarasOnde histórias criam vida. Descubra agora