4 - A Taverna da Lua

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   O cavalo foi se aproximando cada vez mais da barreira, o que para Lenn naquele momento era impossível. De tão imensa que era, pareciam que estavam grudados em seus tijolos e concretos mesmo estando a metros de distância. Era realmente imensa. Victor guardou o pano branco de volta em seu bolso. Lenn estava tão impressionado que quase deixou passar uma imensa escadaria que se estendia na sua frente. Continha no mínimo uns quatrocentos degraus, não muito altos e com um espaçamento grande entre um e outro. Estes levavam mais para frente do que para cima. A largura horizontal também era imensa, e passariam ali quarenta pessoas uma ao lado da outra sem um mínimo de preocupação. Esta era moldada em mármore branco.

Thandra teve que andar por mais um tempo antes de chegar ao seu primeiro degrau. Pareciam que estavam perto antes, porém, a imensidão da muralha enganaria qualquer um. Percebeu duas estruturas, uma em cada extremo do primeiro degrau, que se estendia em um extenso corrimão até chegar ao último. Eram estátuas de bebês alados que descansavam em uma só perna em cima de pedestais bem moldados e grafados, com listras e formas redondas, envolto em umas raízes verdes que deixavam desabrochar inúmeras flores vermelho alaranjadas. Eram estátuas grandes, essas. Não representavam bebês em seu tamanho real. Junto com a altura do pedestal em que se apoiavam, os rostos dos bebês chegavam à altura do rosto de Lenn, que estava montado no cavalo. As duas seguravam também, na direção em que os andarilhos subiriam a escada, um amontoado de hastes esverdeadas que terminavam em múltiplas flores exatamente iguais às que rodeavam o pedestal. Eram vermelho alaranjadas e desabrochavam em pontudas pétalas que entortavam para fora no final. Algumas pontas da mesma cor saiam do centro destas.

Olhou para o final da escada. Mesmo levando pouco para cima, ainda era alto. Lenn avistou uma enorme porta que parecia ser de madeira e, em sua frente, dois brilhos estranhos que reluziam à luz do luar.

-Segure-se. –disse Victor pondo o cavalo a subir as escadas.

As dores que sentia em suas costas voltaram a incomodar quando a égua se pôs a subir os degraus. Elas doeram toda a viagem, porém, aquele curto intervalo de tempo em que Thandra desacelerou, o fez com que desacostumasse com a dor.

Os degraus eram espaçados entre si, mas não para as enormes pernas de Thandra, que subia dois de cada vez hora ou outra. Via a porta ao fundo da escadaria ficar cada vez maior e a muralha ficar imensa. Dava a impressão de perfurar as nuvens.

Conseguiu enxergar algo que se parecia com duas torres, bem na direção da porta de madeira, que estava bem maior agora. Essas duas torres se estendiam e, com um relevo na parede lisa da muralha, iam até o chão, uma de cada lado da escadaria. Eram enormes de largura. Os trotes e as dores nas costas e costelas continuaram até chegarem ao topo.

A porta de madeira parecia dez vezes mais alta do que antes. Era enorme. Ela se encontrava aprofundada um pouco da face da muralha. Em volta havia algum tipo de portal que ia se aprofundando em formas redondas e diminuindo de tamanho até chegar às bordas da porta. Era muito bem detalhado, esculpido leve e perfeitamente com algumas formas que pareciam raízes com inúmeras folhas.

Mais à frente da porta, parados um do lado do outro, estavam os responsáveis por refletirem a luz da lua tão intensamente. Eram dois homens que trajavam armaduras metálicas tão brilhantes que Lenn quase pôde enxergar o seu reflexo. Usavam um elmo com um tipo de crista vermelha no topo da cabeça e carregavam espadas quase duas vezes maiores que a de Lenn em suas cinturas. O peitoral metálico levemente inchado e com marcas de abdome masculino chamava atenção. Os braços eram cobertos, detalhadamente, por placas de aço que terminavam em uma luva também metálica. As juntas que pareciam estar expostas eram cobertas por uma cota de malha que provavelmente cobria todo o torso pelo interior da armadura.

Anjo de Duas CarasOnde histórias criam vida. Descubra agora