11 - A segunda reunião

25 0 0
                                    

Já havia passado mais de meia hora de total confusão e morte naquele lugar desde que teve início. Lenn e Hella haviam finalizado uma boa quantidade de adversários. Lutavam e faziam cortes certeiros com as suas espadas. Ofegavam a cada ataque. Estavam vencendo aquela batalha, finalmente. A quantidade de guardas que ainda resistiam havia diminuído bastante.

Em outro canto, era possível ver um amontoado de quatro ou cinco pessoas escalando um dos que usavam a armadura prateada. Ele resistia jogando alguns para longe, mas depois de pouco tempo, caiu derrotado. Arrancaram-lhe o elmo e deceparam sua cabeça. Um grito de vitória foi ouvido.

Dohrn passou correndo na direção de outra aglomeração em volta de um segundo homem com armadura. Teve prazer em acertar diversas vezes contra o peito metálico do homem com a sua maça. Várias vezes ele acertava o golpe e a armadura amaçava cada vez mais. O homem foi derrubado finalmente e o alvo dos ataques de Dohrn passou a ser agora sua cabeça.

Uma movimentação estranha começou a acontecer depois de algum tempo. Os guardas reais começaram a correr na direção contrária da batalha. Alguns que tentavam eram impedidos e espancados até a morte. Os que sobraram entraram ocupando muito espaço nas quatro carroças. Outros subiram nos cavalos e começaram a manobrá-los. Estavam batendo em retirada, finalmente.

Espadas e outras armas começaram a ser arremessadas na direção das carroças. Outros corriam furiosamente atrás dos fugitivos. Finalmente pegaram velocidade e trotaram para bem longe. Os cavalos trotando nas enormes poças de água e a confusão deixada para trás. Alguns rebeldes ainda estavam agarrados à algumas partes da carroça, mas logo foram chutados para fora.

Eles haviam ganhado a batalha. A chuva lavava o sangue da cabeça de cada um dos poucos que sobraram de pé naquele lugar. Silêncio e respiração ofegante. Uma sensação de alívio pairou sobre aquele lugar em frente à taverna, mas nem tanta felicidade emanava. Olhando em volta, havia muitos corpos mutilados de pessoas mortas. Tanto de guardas quanto de homens que estavam bebendo no bar. Sangue de pessoas inocentes havia sido derramado naquele solo.

Lenn estava em pé, fitando o horizonte no qual as quatro carroças haviam sumido. Respiração pesada que apenas suas narinas não dariam conta. Abria a boca bruscamente para puxar e expelir o ar de seus pulmões. A postura corcunda de alguém que está cansado. A água da chuva escorria pelo seu cabelo, agora descoberto, e voava em milhares de gotas ao passar pela sua boca, com o bafo violento da sua respiração forte. Sua espada em sua mão.

Hella estava ao seu lado, no mesmo estado. Os olhos abatidos e cansados. Olhava não o lugar que os soldados haviam ido, mas sim a matança que estava à sua volta. Virou a cabeça para olhar outra parte daquela rua de paralelepípedos desnivelada. Mais corpos. Homens ainda vivos, alguns muito machucados e outros nem tanto, deitavam ao lado dos mortos.

Lenn sentiu-se mal. Nunca estivera em uma luta que perdera tantos de seus aliados. Nunca fora obrigado a lutar com tantas pessoas ao seu lado. Ele e Darrin sempre se deram bem nas lutas contra bandidos na floresta, mesmo estes estando em maior quantidade na maioria das vezes. Já havia perdido uma quantidade significante de companheiros que lutaram do mesmo lado que ele em sua vida, mas não tanto quanto naquela noite e não em tão pouco espaço de tempo.

Sentia-se mal. Que tipo de rei ordenaria tamanha chacina contra seu próprio povo? Não sabia muito sobre reis. O reino mais perto de seu vilarejo ficava há três dias viajando a cavalo. O líder do lugar onde morava tentava ser o mais justo possível. Era algo fácil devido a pequena quantidade de habitantes, mas Lenn duvidava que ele ordenaria tal feito se comandasse Açucena.

Estava com raiva daquele rei. Um novo sentimento começava a nascer no seu interior. O que ele faz seus próprios soldados se tornarem, Lenn levava como um insulto pessoal. E pior... era um insulto à memória de Darrin. Eles também faziam parte da guarda de seu povo. Seu dever era manter os inocentes fora de perigo, não impor medo neles.

Anjo de Duas CarasOnde histórias criam vida. Descubra agora