ー Atalho para o seu coração

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A vida na Itália estava agitada. Não demorou muito para a vovó ser reconhecida e vários nobres encomendarem vestidos para a vovó. E nesse caso acabamos por chegar em Verona, a cidade italiana do amor.

Tudo cheirava a flores lá, eu poderia parar o tempo e ficar ali para sempre. Reservamos um minúsculo quarto em um hotel "melhorado" por dois motivos. O pioneiro era a gravidez de Athena e o segundo foi a gente ter lucrado em Roma.

O hotel embora fosse mediano, tinha uma vista bonita. Sentei numa cadeira e deixei Athena pentear e prender meu cabelo, deixando apenas escapar algumas mechas onduladas na frente e minha franja desordenada. Vesti um vestido azul marinho e coloquei minha sapatilha pequena e velha preta e decidi dar uma volta. Galathea veio junto, a gente voltaria antes de escurecer.

Aquela cidade era enorme! Haviam várias vielas e varandas onde pessoas nos observavam com caridosos sorrisos.

Ajudamos uma florista a cortar rosas e como agradecimento ela nos deu duas rosas e disse que poderíamos visitar elas se quiséssemos.

Singelamente sorri e me despedi.

ー Freya! Eu sei onde ir me segue!
Fiquei um pouco desesperada ao ver aquela pequena ruivinha de olhos semi verdes se afastar depressamente com seu vestido cinza balançando com o vento. Ouvia sua risada e seus passos mas aquela multidão era apavorante ainda assim.

Depois de diversos e diversos becos, chegamos em um lugar onde o sol parecia bater mais forte. Haviam rosas como as nossas no chão e muitas cartas e avisos nas paredes de tijolos amarelados.

ー Lathea... O que é isso?
Meio surpresa eu observava girando o local. Era lindo.

ー Eu não sei ler, mas mamãe sempre me trazia aqui antes de sair da Irlanda. Olha ali!
Ela apontou para um aviso em um papel velho.

Romeu e Julieta
William Shakespeare.
Casa de Julieta 1591.

ー Romeu e Julieta... É?
Fiquei pensativa. Galathea se divertia juntando rosas do chão e despedaçando algumas. Sorrisos e suspiros de moças comuns e nobres entre aquele meio romântico.

Observando melhor, havia uma varanda daquela casa. Seria dali que Julieta observava Romeu?

Será que algum dia eu observarei o Keith de mesmo modo?

ー Pensativa senhorita?
Uma mulher alta e magra me questionou.

ー Ah, um pouco.

ー Gostaria de escrever algumas cartas?
Ela sorriu e encostou sua mão em meu ombro.
Galathea olhou para mim e assentiu com o rosto.

ー Por que não?!
Então a mulher me levou para dentro de uma casa naquele mesmo local. Haviam várias moças escrevendo cartas e suspirando. Estariam elas apaixonadas pelos seus respectivos "Romeus"?
Me indaguei por uns segundos.

ー Tome! Quando acabar me entrega em mãos e eu depositarei para responderem.

ー Responderem?

ー Sim! Você escreve o que sente e nós ajudamos com conselhos.
Ela sorriu e me entregou em mãos um papel antigo.

Não demorou muito. Sentei em uma mesa e comecei a escrever uma carta. Galathea me esperava ao meu lado observando a decoração do ambiente.

Olá! Me chamo Freya; Freya como a Deusa nórdica.

Eu sou uma mera pebleia que se encontra perdidamente apaixonado por um nobre. Ele parece retribuir mas fico insegura de pensar sobre isto, afinal ele é nobre e pode ter várias namoradas. Bem... A gente já se beijou e o nosso relacionamento é um segredo, pelo menos quase ninguém sabe disso. Eu gostaria de levá-lo em toda minha viagem pela Europa, a companhia dele é agradável. Mas antes de eu cobrar minha consciência, ele já tem partido de minhas mãos. O que devo fazer? Sinto que vou encontrar com ele... Mas não sei se é tão próximo assim.

Suspirei, mas diferente de todas aquelas moças, era um suspiro triste e agoniado. Entreguei nas mãos da moça que me respondeu:

ー Ficará tudo bem! Senhorita...

ー Freya. Por favor.
Dei un sorriso gentil e me virei para me retirar.

ー Ah, volte daqui a alguns dias e verifique se sua carta já foi respondida. Caso não consiga, procure por mim, me chamo Ágatha.

Ela acenou e fez reverência. Acenei de volta e me retirei andando de mãos dadas com Galathea.

O que se tratava a carta Freya?
Com um olhar inocente, Galathea me questionava.

ー Quando você fizer minha idade entenderá, bobinha.
Dei um pequeno aperto no nariz dela e andamos juntas até chegar em casa.

Não demorou muito para a noite cair, o dia se passava rápido na Itália desde que cheguei.

Jantei uma pequena sopa e fui para a única varanda daquele pequeno quarto.

Um gato estava lá, mendigando meu carinho.

Havia tanta coisa sendo processada em minha mente infantil naquele momento. Keith me amar, mamãe estar viva e não saber da minha existência, Rose ter mentido para mim, o ladrão de máscara cinzenta estar na Itália também... Fiquei olhando para a amarelada lua cheia no horizonte e suspirei cansada.

Querido diário. Faz tempo que não escrevo, é que meus dias não andam tão bons quanto eu desejaria.

Sinto falta do Keith, aquele sorriso dele. Eu gostaria muito de lembrar como é seu beijo mas, não me encontro com ele desde Paris. Fazem dias, acho que ele não me espera mais...

Mamãe, agora que você está viva quero contar cada dia maravilhoso que eu tenho. Descobri onde Julieta morava, pude sentir até mesmo a presença dela esperando Romeu. Não é maravilhoso? Estou em Verona, e logo estarei em Veneza. Mal espero para andar de Gôndola e sentir a brisa fria do mar de Veneza!

Atenciosamente sua filha, Freya.

Após isso, apaguei minha vela e guardei o diário. Deitei para dormir, pensativa dessa vez.
Como se mil coisas decidissem acontecer tudo na mesma hora, eu me sentia esfaqueada por dentro com tanta preocupação.

A Orquestra da Meia-Noite.Onde histórias criam vida. Descubra agora