A Orquestra da Meia-Noite.

ー Eles

Um dos últimos dias em Míconos, eu incrivelmente não conseguia me entendiar com aquelas casinhas brancas e brilhantes. A forma que os raios solares refletiam no espelho do quarto era de certa forma apaziguador de qualquer mágoa, como uma mãe. Nunca mais passei o tempo em casa depois do momento que tive com o Francis, me deixava culpada... Eu também gostava do Keith e queria me fazer esquecer isso. Ouvi uma voz feminina atrás de mim gritar por meu nome, era conhecida...

ー Senhorita Freya!
Uma menina baixinha, ruiva e cheia de sardas corria. Não reconhecia ela até chegar mais perto, ela acenava pacificamente enquanto vinha na minha direção.

ー Lya? Você tá diferente!
Surpresa notei que seu cabelo não estava amarrado para trás, e de fato estava curto como o de um rapaz, estava lindo!

ー Você... Gostou? eu me sinto confortável assim, é bem quente por aqui de vez em quando.
Ela falava isso mas usava um vestido azul pesado, com muitos panos abaixo e um avental branco.

ー Está bem em você, o que importa é seu gosto. Mas, o que faz aqui?
Indaguei ela, pois a mansão era um pouco longe de onde eu estava.

ー Eu precisei comprar alguns mantimentos para a nossa casa, visite-nos por favor. Todos os criados ficaram admirados com sua simplicidade e carisma.
Ela segurava minhas duas mãos com suas mãos ainda menores, várias sacolas estavam em seu braço.

ー Isso não depende apenas de mim, o Francis é o dono da casa... Ele que te-
Antes que eu pude completar a fala ela me interrompeu.

ー Ah, sobre isso...
Ela sorriu de canto e foi andando na frente esperando que eu acompanhasse, e assim o fiz.

Sabe, senhorita... Nosso mestre, ele é totalmente apaixonado por você. Sei disso pois ele não dá a atenção que dá para você pra nenhuma outra garota, e ainda te presenteou... Por favor, considere os sentimentos do Senhor Francis, ele é doce e está apaixonado e nós sabemos que há outro rapaz disputando seu coração. O Francis abandonaria tudo somente para dedicar a sua felicidade, é sério!

Eu fiquei surpresa e inquieta, minha mente bagunçava com aquela revelação. Eu queria poder decidir quem eu amo mas, eu mal conheço nenhum dos dois. O Francis foi alguém que conheci por uma ilusão, e o Keith mentiu para mim e aposto que ele mentiria mais... Ele é o cinzento.

ー Eu não sei o que te responder querida... Como vai o Francis?
Mudei de assunto repentinamente.

ー O mestre Fracis? Ah, bem... Logo logo ele será o herdeiro da casa dele, seu pai se aposentará e deixará o legado para Francis. Até porque, Keith abandonou a nobreza para viver como um vagabundo, não sabemos o paradeiro dele... Keith é o irmão gêmeo mais velho de Francis e os dois viviam juntos em tudo, até o falecimento da Senhora Quinn.

Ao ouvir o nome de Keith meu coração gelou e doeu, aquela garota parecia saber de tudo e citar os pontos cruciais.

ー K-Keith é? Eu não sabia que o Francis tinha um irmão gêmeo.
Mudei o olbar para a direção do mar procurando me acalmar.

ー Sim, o Keith... Ele era gentil como o Francis. Mas nunca se importou com os deveres da nobreza e ai quando completou 16 anos, fugiu de casa e desapareceu.
A Lya falava preocupada sobre o assunto mas mesmo assim continuou.

O ponto é... Francis vai ser um líder nobre, e eu gostaria que a senhorita fosse a nossa líder também. Você é nobre não é?

ー Querida, eu não sou nobre e muito menos tenho postura para ser esposa do Francis. Ele é uma daquela pessoas incríveis e eu... Eu sou simples e jovem, como você. Eu tenho que ir tá bom? Foi muito bom ver você, espero que eu te veja de novo algum dia... Adeus.

Corri e ignorei a Lya gritar por meu nome e pedindo para eu esperar por ela. Eu precisava processar isso tudo, eu sentia uma infinidade de coisas. Medo, raiva, ciúme, vergonha, arrependimento, felicidade, e tristeza. Eu não sei o que eu decidia sentir mas eu sofria cada um deles naquele momento.

Quando eu cheguei em casa, a casa estava uma bagunça e a vovó e Galathea gritavam por calma. Athena sentia contrações fortes mas eu não sabia se ela iria ter o bebê... Era muito cedo.

ー Eu preciso ir para minha casa, eu tenho que ter a criança por lá.
Suspirava enquanto estava deitada na cama.

ー Eu sei... Querida, eu não tenho como pagar sua passagem e muito menos a dela... E a Galathea? Como ficaria?
Vovó suspirava nervosa.

ー Anna, eu tenho o dinheiro necessário. Só preciso que a senhora me permita ir para casa com Galathea.
Ela ainda suspirava e tentava segurar a dor.

ー O que está acontecendo?
Indaguei preocupada.

ー Tudo bem, eu só queria que você ficasse mais tempo para ter mais apoio. Pode voltar para lá, cuidarão melhor.
Vovó sorriu e afagou a cabeça de Athena.

ー Obrigada, partirei assim que vocês voltarem para Londres...
Ela ainda mantia o fôlego com a dor mas parecia aliviada.
Galathea não se pronunciou, apenas aceitou mas no fim sabia que ela sentiria minha falta.