IDENTIDADE ZERO

Capítulo 53

Cheguei toda sorridente sem motivo, tentando ficar de pé sem encostar na parede.

- O que ela tem?

- Bebeu após nossa briga.

Tentei ir até meu quarto. Devagar, segurando em tudo mas fui. Abri a porta, entrei e a fechei. Caí no chão de propósito. Olhei ao redor do meu quarto sem entender o porquê. Mas me estiquei ali mesmo no chão e tirei uma soneca. A cama estava "alta" demais para eu subir.

Ao acordar, parecendo ser outro dia já. Dor de cabeça insuportável senti. Minha barriga doía muito, como se eu não me alimentasse a dias. Me levantei ainda tonta, mas consegui ir para o banheiro correndo e sem apoio. Fiquei ajoelhada a frente do vaso sanitário, vomitando sem parar. Que dor!

- Se eu soubesse dessa consequência... - Vomitei mais. - Óh, Thor! Tenha piedade.

Estava muito mal. Meu único pensamento era em não engolir mais nenhuma gota de álcool, ultrapassando de copos. Foi um trauma. Tendo vinte e um anos, e não bebendo exagerado até ontem.

Depois de muito tempo vomitando, saindo do banheiro, voltando pro banheiro, essa ânsia não estava mais frequente. Também, minha barriga agora que doía. Talvez eu tivesse colocado tudo pra fora e estava com fome. Mas comer algo daquele jeito, olha, não daria certo.

Percebi que foi um sono pesado ao dormir cedo e só acordar no outro dia. Eu só quero ficar bem de novo. Como me arrependo! Abri o chuveiro e entrei. A água estava fria, e foi o melhor banho que eu estava tendo.

Tentei relaxar fechando os olhos e massageando a barriga, com as mãos cheias de espumas. Precisava ir para a enfermaria. Não aguentava mais essa dor. Mas era melhor do que continuar vomitando.

Peguei meu roupão, levantei da banheira e o vesti. Fui para meu quarto e sentei na cama.

*TOC TOC*

- Quem é e o que quer?

- Sou eu, Michelle. Preciso conversar de mulher pra mulher. - Entrou.

- Olha, se precisa de conselhos, eu sou a que mais precisa aqui. Então nem tenta.

Sentou na cama e me olhou profundamente. Até virei o rosto pra não ficar olhando. Mas sabia, provavelmente, o que ela queria me dizer.

— Dayana, você precisa ser examinada pra ver como está. Olha, eu completei dezoito anos nesse ano, e sei pouco sobre bebida alcoólica. Mas você tem vinte e um anos, e já bebeu, mas controlado. Não deixe uma coisa subir a cabeça e fazer você se embriagar. Você nunca foi disso e nem pode. Você faz atos heroicos. Precisamos te ver bem para praticar o bem.

— Eu sei. Mas perdi o controle. - Olhei para minhas mãos em cima de minhas pernas, e ri baixinho. — Perdi um pouco do controle. Eu não sou disso - a olhei, — e pretendo nunca mais ser. Mas entenda, sinto falta dos meus pais!

Fui encarada com olhos cheios d'água. Michelle me abraçou com força, e eu não resisti e chorei por poucos segundos.

— Eu também já perdi pessoas. Sei como dói. Mas não desista, estou, estamos contigo sempre!

Me largou.

— Vou vestir uma roupa decente.

— E eu vou te esperar junto ao Lanyon na enfermaria. É pra ir - abriu a porta e andou de costas. — Viu, mocinha? - Fechou a porta.

Olhei em meu armário e procurei uma roupa que não fosse muito colorida. Uma que representasse meu estado, mas não tudo preto.

Mexi até achar uma calça larga roxa e uma blusa cinza de manga comprida, com uma onomatopeia de ilustração na frente.

Fui até o espelho do banheiro e penteio os cabelos. Deixei solto, mas coloquei minha única touca preta. Algo preto pode.

Passei a mão na barriga e levantei a blusa, ainda em frente ao espelho. Estava mais magra, não sei. Ainda doía, e logo após os exames, iria comer.

Abaixei a blusa e saí do quarto. Estava frio. Com meias e uma bota, meus pés se mantinham aquecidos. Fui até a enfermaria, e acabo sendo recebida com um olhar de "danadinha" de Lanyon.

— Muito bem. Então quer dizer que a mocinha aqui bebeu demais? - Chegou perto de mim e levou um dedo a triscar em meu nariz.

— Desculpa. Sabe, foi um erro que jamais se repetirá. Eu prometo de dedinho. Agora não brigue comigo! - Apertei as bochechas de Lanyon tentando mudar de assunto, e o humor dele, — coisa fofa!