"Evelyn, sai da cama!" ordenou uma pessoa de voz fina, começando assim a abrir os estores do meu quarto.
"Fecha a janela, Riley!" berrei.
"São 14 horas e os pais querem ir almoçar fora." protestou a minha irmã "Sai lá da cama!"
A Riley era a minha irmã mais nova, ela apenas tinha 12 anos, mas mesmo assim parecia muito mais velha. Não a posso identificar chamando-a de "o meu rochedo" ou "o meu suporte", porque simplesmente ela não é, ainda por cima porque é demasiado nova. A Riley era diferente de mim no que toca à personalidade, mas muito semelhante ao que toca nos estilos de roupa, por isso mais ou menos que nos entendiamos, mas não havia mais nenhuma desculpa. Eu simplesmente não a suporto, mas ela já me consegue suportar a mim.
"Riley, sai do meu quarto!" ordenei.
"Não é minha culpa que saias de casa a meio da madrugada." murmurou.
"Riley, sai já do meu quarto!"
A Riley simplesmente tirava-me do sério, eu não a conseguia aturar mais. Já quando era uma bebé ela era um desespero.
Vesti rapidamente a roupa quente que usara no dia anterior, já que a maioria estara para lavar. Após finalmente apertar os atacadores dos meus All Stars pretos, saí do quarto de imediato, diretamente para a casa de banho, onde apressadamente fiz a minha higiene pessoal e me maquilhei. Desci as escadas assim que acabei.
Encontrei os meus pais e a Riley sentados no sofá à minha espera.
"Vamos?" perguntei.
"Lyn, querida, tens de começar a acordar mais cedo, para quando as aulas começarem." avisou a minha mãe, com um tom de voz inofensivo.
"Não me interessa, podemos ir?" perguntei, agora mais aborrecida.
Assim que nos metemos dentro do carro do meu pai, agarrei nos meus fones e enfiei-os sem demoras nos meus ouvidos. Assim após ter carregado no botão do Play, a música começou a penetrar os meus canais auditivos e assim já não tinha a possibilidade de ficar a ouvir a mesma música comercial que passara todos os dias na rádio.
[...]
Assim que chegámos a casa, deitei-me na cama e liguei a televisão, acabando por ver um filme completamente aleatório que dava, igualmente, num canal aleatório.
Eu já estava farta. Ninguém na escola fala comigo, os meus pais discutem todos os dias, não tenho dinheiro e eles nem têm forma de me pagar nada, não consigo arranjar emprego. Eu não sei o que se passa, mas a sorte não está no meu lado, e está a transformar a minha vida num filme dramático. Só falta mesmo ficar sem um sítio onde possa dormir.
[...]
Duas da madrugada. Foi o que visualizei quando olhei para o relógio.
"Fogo!" pensei "Tenho de começar a arranjar o meu horário de sono."
Mas por um lado, nem eu mesma queria saber. Por mais que saiba que o tempo até às aulas começarem é escasso, eu pouco me importava. Eu encontrei um hobbie que me viciou desde o dia em que o experimentei. E voltaria a fazê-lo assim que batesse as 7 horas desta madrugada. Eu mal conseguia esperar.
Encharquei a minha cara com água da torneira durante a noite inteira, para me manter fresca e acordada.
Já faziam 6:30h e começara já a preparar a mochila com: uma toalha de praia, uma sandes de fiambre, uma garrafa de água, o meu telemóvel, uma máquina fotografia, uma lanterna e um casaco de reserva. Era tudo o que necessitava para fazer o que eu começara à umas semanas atrás.
Fui até à casa de banho e arranjei a minha maquilhagem, também ajeitando ligeiramente o meu cabelo, com uma bandana preta.
Peguei nas chaves do carro do meu pai e em silêncio fui até à porta de casa. Saindo assim, sorrateiramente, e com êxito entrei no veículo de prata da minha figura paterna.
Assim que meti o carro a funcionar, conduzi rapidamente até a uma pequena floresta. Até à floresta mais próxima da minha habitação, que se situava a pelo menos 15 minutos de distância. Após à minha chegada a esse mesmo sítio, liguei a lanterna e comecei a atravessar árvores ao som das corujas, e de todos as outras tipos de aves que cantavam àquela precisa hora. Sendo o meu preferido o rouxinol. A sua cantiga era bela e elegante, o que me encantava os ouvidos sempre que o som entrara nesse mesmo orifício.
Finalmente chegara ao sítio perfeito. Uma circunferência feita pelas árvores, que me dava uma vista perfeita para as estrelas e igualmente para o lado do nascer-do-sol, que era a altura do dia que eu mais amava. Como é que em 24 horas, dormia na altura mais bonita do dia? O Sol a começar a aquecer depois daquelas noites frias criadas pela escuridão, as cores mais bonitas estampadas no céu, e o som das mesmas aves a acompanhar. Era a única coisa que me agradara depois de tantas coisas desagradáveis que me aconteciam nas outras 24 horas que passara em casa.
Estendi a toalha rapidamente, e deitei-me na mesma, com o meu casaco de reserva a fingir de almofada. Não era algo muito confortável, mas servia para um par de horas.
"Está na hora." murmurei, enquanto confirmava as horas no relógio do meu telemóvel.
Peguei apressadamente na minha máquina fotográfia e meti em Modo de Vídeo, e virei-a para mim.
"Olá. Quero apenas mostrar-vos o que vocês andam a perder." afirmei pousando a câmara no chão, que estava a ser apoiada por uma pequena pedra que ali encontrara.
E comecei assim, a gravar o nascer do sol. As estrelas lentamente se desviavam e o céu começara a ter outra cor, um roxo mais claro, transformando-se num laranja avermelhado, ficando assim um laranja mais amarelado e por fim ficar azul. Este acontecimento era lento e frio, mas ao mesmo tempo era rápido e quente. Acolhedor.
Peguei na sandes de fiambre e na garrafa de água que se encontrava no fundo da minha mochila, alimentando-me e hidratadando-me desta maneira. Já eram 8:30h e o meu pai necessitava do carro às 10h, para o emprego, por isso aproveitei o máximo de tempo que pude. O cantigo das corujas, rouxinóis, e os outros tipos de pássaros presentes ainda acompanhavam o momento, desde o fim da escuridão da madrugada, até à claridade do amanhecer. Este momento era apaixonante, e eu nunca me iria fartar de fazer isto.
A noite era linda, porque no final, iria sempre aparecer a luz. Isso, eu já tinha confirmado. E estaria agora gravado pela minha máquina fotográfia.
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Nightingale | h.s
FanfictionQuando o mundo fecha as portas e esconde a chave, prendendo assim Evelyn num mundo de guerra e de puro isolamento, não tendo sítio para se refugiar. Poderá então um guerreiro reconfortar a rapariga deprimida neste mundo de demónios - como aparentava...