Não sei se eu acabei mesmo por ficar obcecada, ou se estou apenas a ficar maluca. Os gritos dos meus pais têm vindo a aumentar, a minha irmã encontra-se durante mais tempo no meu quarto, mas eu estou completamente viciada no meu telemóvel. Já lá vai uma semana desde que o Harry me pediu o número, e simplesmente ainda não parámos de falar. Mas ainda não confio nele o suficiente de o apresentar ao meus amigos - se eu pelo menos os tivesse - ou até mesmo à minha família. Só sei que o nome dele é Harry Styles, tem 19 anos, tal e qual como eu, e que provavelmente gosta tanto de música, mais uma vez, tal e qual como eu. Pelo facto de termos coisas em comum, não significa que já tenha de deitar as coisas da boca para fora. Pelo contrário, acho que termos tantas coisas em comum nem sequer lhe devia estar a dar a mínima trela.
Mas isto só sou eu a pensar, obviamente.
Amanhã é segunda-feira, e é amanhã que este tal rapaz entrará na minha escola. Não na minha turma, mas sim apenas na escola. Não é que eu não queira, mas também não é que eu o queira.
Não confio nele, e aposto assim tão bem que ele não confie em mim.
Ele não gosta de falar da escola. Mal toca nesse simples assunto.
"Lyn, jantar!" gritou a minha mãe.
Ele já me convidou para ir sair umas três vezes, mas eu rejeitei-as todas inventando desculpas completamente e unicamente absurdas, que nem a vontade de as voltar a repetir tenho. Mas mesmo estando a tentar evitar, com medo do que possa vir a acontecer, eu também não estou preparada para ter um encontro - se é isso que o poderei chamar -, ainda.
Acabei de escrever num pequeno documento Word e vesti o meu roupão, descendo as escadas e sentando-me na mesa de jantar.
"Serve-te, querida." afirmou.
"Não tenho fome." declarei.
"Porquê?" interrogou-me meu pai, curioso.
"Devo estar nervosa." admiti, indireta.
"Mas a tua escola não começou na semana passada?" intrometeu-se Riley, comendo de seguida uma colherada da sopa que me estava agora a ser servida.
"Sim."
"Então qual é o problema, mana?"
"Nada." olhei para ela de uma forma seca, mas acariciei a sua perna por debaixo da mesa para os meus pais não perceberem que queria falar com ela, após esta refeição.
[...]
Estava agora a apanhar a roupa lavada que se encontrava na sala das máquinas, para acabar, assim, de arrumar o meu quarto.
"Evelyn." chamou-me uma voz de criança.
"Diz, Riley."
"Porque estás nervosa?"
"Sabes..." pensei numa forma menos complexa para explicar "É complicado." completei.
"Diz lá."
Suspirei, e abri a porta do meu quarto, caminhando para o meu armário enquanto a Riley tentava o assento mais confortável do meu quarto.
"Sabes... Por vezes..." tentava pensar "Por vezes conheces pessoas novas..."
"Como toda a gente." interrompeu-me ela.
"E quando tens dificuldades para falar com essa pessoa nova, é complicado." terminei.
"Para mim só é complicado quando gosto dessa pessoa."
"Não. Não. Interpretaste mal a conversa." abri agora outra gaveta "Quando estás habituada a falar com alguém, mas não pessoalmente. Quando tens medo de falar com essa pessoa cara-a-cara."
"É o que eu estou a dizer: só me é assim quando gosto de alguém."
"Tu não percebes, Riley." suspirei "Ainda és muito nova."
"Sabes que mais?" começou "Sim, eu sou nova, mas ao contrário de muitos dos teus amigos - que, para já, nunca conheci nenhum - esforço-me para te perceber!" acabou, irritada, e retirou-se do quarto.
Ela não percebe, e nunca vai perceber, e eu já nem quero saber. Eu não preciso de receber conselhos de ninguém, muito menos de alguém com uma dúzia de anos de idade a menos que eu. É que acaba por ser ridículo.
[...]
Estava agora a caminho da escola, a andar dois quilómetros a pé, pelo facto de não ter conseguido dormir pelas imensas dores da barriga que tive enquanto estava deitada naquela cama que me parecia, pela primeira vez, desconfortável. "Acordei" duas horas mais cedo e atirei metaforicamente o estojo de maquilhagem para a minha cara pelas imensas olheiras e borbulhas que estavam espalhadas na mesma.
Uma hora passou e finalmente cheguei, o meu passo continuava lento e eu sentia-me um pouco mais leve. Não é que eu seja gorda, pelo contrário, era um bocado magra demais pelas minhas pequenas depressões ao longo do tempo. Em períodos passados.
[...]
"Onde andas?" recebi uma mensagem do Harry, já após a primeira aula.
"No pátio interior." respondi-lhe, fugindo desse sítio, e metendo-me assim num lugar onde pudesse ser visível o jovem, mas onde eu não o pudesse ser.
Ele apareceu, e a sua cabeça acompanhava o corpo enquanto os seus olhos verdes procuravam a minha estrutura pela relva verde escura que estava, também, a ser coberta pelas folhas castanhas da temperatura fria de Inglaterra.
Vi-o aproximar-se de mim, o que me fez esconder por detrás das paredes já dentro do grande edifício. O meu telemóvel apitou.
"Não te vejo." dizia.
Sentei-me no chão sujo, perto da entrada/saída daquele pátio. Apitou mais uma vez.
"Evelyn, responde."
A campainha da escola tocou, e a segunda aula estaria a prestes a começar, mas eu continuava sentada no chão enquanto o meu telemóvel deslizava entre as minhas mãos desleixadas.
Poucas pessoas ainda circundavam o correr, normalmente, tudo caloiro, como eu, por ainda não decoraram as aulas ou até mesmo as salas para onde deveriam ir.
O meu telemóvel começou a tocar, e o som ecoava naquele corredor. Harry, era o nome que aparecia em letras grandes e brancas no ecrã do mesmo aparelho eletrónico. A sua estrutura alta entrou dentro do mesmo corredor, ainda com o telemóvel encostado à cara, olhando para mim e desligando o mesmo.
"Desculpa." falei.
Ele sentou-se ao meu lado e meteu o braço sobre o meu ombro, abraçando-me, assim, indiretamente.
"Mas porquê?" interrogou-se.
"Sou uma rapariga que tem medo de tudo. Tenho medo de voltar a repetir o liceu, que me deu memórias aterradoras, que ninguém gostava de guardar. Mas não me consigo esquecer delas, elas não querem sair." respondi, na minha cabeça.
"Evelyn, responde." dizia ele a mesma coisa que me havia enviado por mensagens à minutos atrás.
"Nada." falava agora em voz alta.
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finalmente um novo capítulo, estive com tanta dificuldade para o escrever! ugh
peço imensa desculpa pela demora :(
agora vou tentar publicar com mais frequência, prometo!
((e que tal a nova capa?))
espero que tenham gostado ahah x
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Nightingale | h.s
FanfictionQuando o mundo fecha as portas e esconde a chave, prendendo assim Evelyn num mundo de guerra e de puro isolamento, não tendo sítio para se refugiar. Poderá então um guerreiro reconfortar a rapariga deprimida neste mundo de demónios - como aparentava...