Innocuous

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A luz natural entrava agora pelas pequenas falhas dos estores, aleijando o meu campo de visão que agora avistava tudo em branco. Virava e revirava na cama que tinha começado a ficar desconfortável para o meu corpo, que começara a chiar com a cada movimento rápido que eu fazia. A minha consciência começou a ficar pesada, então por intuição, peguei no meu telemóvel e fui confirmar as horas. Ainda com a minha visão desfocada, visualizei que faltavam apenas 10 minutos para as dez da manhã. Berrava na minha cabeça de uma forma incomum, o meu coração acelarava. Eu não gostava de chegar atrasada, para isso faltava ou apenas não faltava.

Saí rapidamente da cama e vesti o primeiro conjunto que encontrara em cima da minha cadeira com uma pilha de roupa amontoada. Corri para a casa de banho ainda com os meus ténis desapertados e lavei os dentes, meti corretor para esconder as minhas olheiras escuras e penteei o meu cabelo desleixadamente. Corri até à entrada de casa e enfiei os atacadores para dentro dos ténis para não perder tempo a apertá-los. Dez minutos já haviam passado e a aula provavelmente já havia começado. Meti a mochila às costas e saí velozmente de casa, procurando desesperadamente a minha bicicleta cor de rosa, com um pequeno cesto de palha pendurada à frente. Mesmo à antiga. Comecei assim a pedalar.

Fiquei acordada até às três da manhã a pensar na minha irmã, nos meus pais - que igualmente não me permitiam dormir por causa dos gritos constantes vindos novamente do andar debaixo -, no Dark Taste, ou neste caso, no Jack, e por fim, no Harry. Eu por um lado estava ansiosa para me encontrar com ele, mas pela minha outra perspetiva, meio que estava assustada. Uma parte da minha consciência sussurrava no meu ouvido que esta coisa de me encontrar com ele ia acabar muito mal. Como se ele fosse alguém de errado, alguém com quem eu não pudesse ficar. A minha mente criou uma imagem em que ele ganhara a minha confiança levando-me para um sítio fechado e após isso ele prendera-me a um poste alto de madeira e encharcara-me com gasolina, criando assim um caminho do mesmo, acendendo um fósforo e atirando-o para cujo caminho, onde lhe provocara prazer ouvir os meus gritos de desespero e pânico que saíam com a mais alta intensidade da minha boca. Eu não achava isso, a minha consciência sim, mas eu não.

Chegava agora àquela grande universidade e os cinco minutos acelerados já haviam passado, onde subi as escadas em passo grande e acelarado até à minha sala onde iria ter a minha cadeira preferida - Inglês. O professor estava agora a tirar as coisas que estariam guardadas na sua pequena pasta preta.

Entrei rapidamente na sala enquanto o professor estava de costas para não me marcar falta. Faltas de atraso é algo que desgosto.

O homem adulto de cabelos brancos estava agora a entregar-nos um papel para assinarmos a nossa presença na aula. Felizmente.

O professor falou, falou, e falou. Obviamente que eu não estaria a ligar nada à primeira aula, já que era tudo conversa. Os meus pensamentos fluiam de uma forma elegante na minha cabeça, sentia-me isolada sempre que o fazia, o que igualmente me satisfazia.

Duas horas passaram em pleno devaneio, quando reparei que todos os outros universitários saiam da sala ordenadamente e silenciosamente, acompanhado pelo mínimo som das cadeiras a rastejarem pelo chão bege e os murmuros quase inaudíveis que eram produzidos por estes mesmos jovens.

Caminhei até à cantina para um almoço servido pelas senhoras do mesmo. E depois, mais uma aula vinha.

[...]

Ia agora para a floresta, finalmente. Antes de me sentar no meu pequeno transporte ligava à minha mãe, a dizer que ia ficar com umas amigas novas até antes da hora do jantar, pois não a queria deixar preocupada, já que esta minha figura materna era tão arreliada. O que era completamente mentira, pois ela rapidamente viria-me buscar se soubesse que ia ter com um desconhecido a uma floresta deserta. Eu própria encontrava-me amedontrada, talvez até apavorada.

Nightingale | h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora