Awkward

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Como se a minha vida fosse demasiado fácil para aceitar as coisas como são. Mas não é. Pelo contrário, é demasiado complicado para aceitar a minha perspetiva da realidade. O facto de passar os meus 19 anos solitária em todas as escolas que já tivesse andado, o bullying que já sofri e a violência que assisti. Nada disto é algo favorável, como para o meu lado físico e para o meu lado psicológico.

Posso dizer que está tudo arruinado.

Suspirei com o procedimento destes meus pensamentos e conclusões, a minha respiração estava pesada e não iria conseguir parar de ter esta reação até os meus pensamentos serem abstraídos por outra coisa qualquer.

Estava deitada na minha cama. Os meus braços encontravam-se paralelos ao meu corpo e as minhas pernas estavam esticadas. Estava completamente imóvel.

Imaginava-me num caixão, a ser transportada para a minha cova que era carregada por quatro ou oito pessoas, que eu não tinha a possibilidade de contar pelo facto de estar morta.

Parei de respirar.

Como é que eu me sentiria dentro daquele caixão? Ou talvez como não me sentiria?

Eu estava morta. Eu naquele momento, provavelmente, ficaria permanentemente solitária, mas para mim não era algo de muito inovador porque foi sempre um estado que me habituei a ficar na minha rotina diária.

Larguei os meus pensamentos e a minha respiração voltou ao normal uns segundos mais tarde, quando alguém decidiu entrar no meu quarto e invadir a minha privacidade.

"Mana, deixaste o teu telemóvel no meu quarto."

Apenas a minha cabeça virou para o lado da porta, acompanhando o caminho que o meu objeto eletrónico fazia até à minha beira, onde foi pousado.

"Ele não para de vibrar."

"Saí do meu quarto." Ordenei-a, querendo reaver a minha vida privada que apenas era secreta dentro daquela divisão, enquanto pudesse ser.

Agarrei no telemóvel e ele vibrava vezes sem conta, na palma da minha mão, com as suas respetivas pausas. Eu pensava que havia colocado despertador, mas hoje era segunda-feira. Eu não tenho aulas de manhã à segunda-feira então eu nunca preciso de despertador para acordar.

O objeto ainda não havia decidido parar de vibrar até que me lembrei que eu tinha de obter uma justificação de saber o porquê de ele estar agitado.

"Pois, alguém me está a ligar." Bati levemente na minha face em pura humilhação.

Olhei para o ecrã do telemóvel que agora brilhava e tentei ler as letras pretasque faziam contraste com o branco do aparelho. Estava com dificuldade. Carreguei no botão para atender a chamada sem ter a mínima ideia de saber com quem estara a comunicar.

"Estou?"

Comecei a falar, mas não recebi reposta. Ouvia uma respiração pesada, mas nenhuma palavra era emitida da pessoa que se encontrava no outro lado da linha.

"Estou? Quem fala?"

"Evelyn?"

"Sou eu. O Harry."

"Oh-" Deitei-me, agora descontraída, sabendo que não era um desconhecido a querer falar comigo. "Sim."

"Queres ir passear?"

"De onde foste buscar essa ideia? Está a chover."

Ele gaguejava, sem ainda ter uma resposta concreta.

"Eu estava a passar pela floresta e eu pensava que ias gostar."

Ouvi um objeto de vidro partir-se do andar debaixo e um grito vindo do meu pai:

Nightingale | h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora