"Não achas que devíamos ir para as aulas?" questionava, receosa.
"Acho que faltar a uma aula não faz mal a ninguém." respondia ele, retirando uma das suas mãos do bolso para coçar a sua cabeça, entrelaçando os seus dedos nos seus caracóis achocolatados e ao mesmo tempo, desorganizados.
"Sempre podíamos marcar presença." opinei.
"Desculpa?"
"Marcar presença." repeti, acabando por perceber, pelo seu olhar confuso, que não estava a perceber de todo do que eu estava a falar "Assinamos um papel para marcar presença, e depois se quisermos, podemos sair da aula." justifiquei.
"Está bem." disse ele após de produzir um "ahh" de ter percebido depois da minha explicação "Então vamos lá, encontramo-nos aqui." ele terminou.
[...]
Caminhava agora para a sala, e pensava o porquê do Harry querer andar comigo e não andar a fazer novos amigos pelo resto da escola ou mesmo da turma. Ele tem cara de ser uma pessoa social, para além disso, ele toca um instrumento - nomeadamente a guitarra - em bares. Eu não o percebo. Conseguimos ser tão parecidos, mas tão distintos ao mesmo tempo pelo simples facto de não conseguir perceber o que se passa na sua cabeça, enquanto temos tantas coisas semelhantes que se passam ao nosso redor. Não sei se é o meu trabalho descobrir, conhecê-lo; ou apenas fazer a mesma coisa que fiz a todas as outras pessoas que já alguma vez conheci: nunca mais mostrar a minha cara, isto é, fugir.
Mas eu não quero fugir. Sinto que é errado.
Mudei de escola, irei mudar de personalidade. Pelo menos era isso que eu queria.
Entrei nessa mesma sala de aula. Era espaçosa, mas encontrava-se cheia de alunos. Sentei-me no meu lugar, onde seria o definitivo daqui adiante.
"Já assinaste o papel?" interrogou-me uma rapariga loira, que se apoiava na minha mesa com o papel das presenças. Os seus olhos azuis penetravam os meus castanhos de avelã, que ficaram agora escuros.
"Tens uma caneta?" perguntava-lhe agora, respondendo-lhe indiretamente à pergunta anterior. Ela deu-me o objeto que pedia, da cor dos seus olhos. Azul forte, escuro.
"Evelyn Reed, prazer." fez a sua saudação enquanto olhava para as letras que apareciam, uma a uma, escritas no papel branco "Eu sou a Luxanna Foster, mas podes tratar-me por Lux."
"Prazer Lux, mas eu preciso de ir." respondi-lhe, sem reação, peguei na minha mochila e quis sair o mais rápido possível daquela sala.
Esta rapariga assustava-me, como todas as outras pessoas. Todas as pessoas, em excepção ele. O Harry. Podemos acrescentar um "quase", porque ele (quase) que não me assusta. Não me aterrorizava de forma tão bizarra como todas os outros seres humanos iguais a mim, ou parecidos.
"Já?" foi possível ser visível o sorriso da rapariga loira, que puxava a alça solta da minha mochila, impedindo-me de andar "Mas a aula nem sequer começou."
Comecei a fazer mais força para esta rapariga me puder finalmente largar, mas eu não conseguia. Eu aumentava a minha força, ela aumentava a dela.
"Não queiras medir forças comigo, amor." ela dizia, enquanto me puxava cada vez mais perto.
Repentinamente, fiquei sem equilíbrio pelo facto de finalmente me terem largo.
"Quem é?" a crueldade feminina decidiu falar, quando a visualizei com os olhos tapados, por um rapaz loiro, alto.
Esse mesmo rapaz decidiu começar a dar beijos, tanto como na boca, como no pescoço, à Lux, e na sua pausa para ter a possibilidade de respirar, mandava retirar-me da sala, mexendo os lábios que formava a palavra "sai" e os seus olhos igualmente azuis, mas mais claros do que os da rapariga que ele comia mesmo à minha frente, apontavam para a porta da sala de aula.
Enquanto saía num passo apressado da mesma divisão do meu pavilhão, analisava o rapaz loiro e agradecia com o meu olhar o seu ato de "salvamento".
[...]
Fui ao mesmo sítio onde tinha encontrado o Harry, e sentei-me perto de um pilar, onde peguei no meu telemóvel e decidi abrir uma nota e escrever:
Ela é maluca. Encontrei, novamente, alguém da minha turma que tem problemas. É mais uma vez uma rapariga. É por essa razão que só falo com rapazes. As raparigas não prestam, conseguem ser tanto ou mais bullies que os rapazes. Elas são bizarras.
Decidi deixar o meu cabelo escorrer-me pela cara, tapando assim toda a minha face. Levei as mãos à cabeça e comecei a massajar a mesma, pelas imensas dores que estavam a caminho, as dores iguais às que tinha no liceu.
Senti agora o Harry a sentar-se ao meu lado, onde ele me obrigou a pousar as mãos na minha cintura e ele levou o seu braço a redor dos meus ombros, puxando a minha cabeça, lentamente, para o seu ombro.
"Desculpa a demora." ele decidiu começar, após uns dez minutos de silêncio.
"Não faz mal." eu desculpei, e arranjei a minha cabeça no sítio onde estaria pousada.
"O que se passa?" perguntou-me "Não precisas de ficar triste."
"Estou com sono." sussurrei, onde estiquei as minhas pernas por cima das dele, e segurei no seu tronco, aconchegando-me nele.
"Ficas sempre triste quando apareço, sabias?" continuou ele, enquanto acariciava as minhas costas.
"A culpa não é tua."
"Então é do quê, Evelyn?"
"Do que já me aconteceu."
"Mas isso não são águas passadas?"
"É complicado esquecê-las, não percebes."
"Por acaso percebo. Até demasiado bem, mas também já me esqueci das minhas." ele sorria ao acabar a frase. Ele estava orgulhoso.
"Queria que fosse assim tão simples."
"Só não é porque não queres."
"Harry..." comecei, já estava a ficar sem fôlego, porque tentava evitar que uma birra começasse "Eu sou maluca."
"Não és, eu sei que não és." terminou, rodeando o meu corpo com o seu outro braço livre, que projetou uma imagem de um abraço quente, mas não apertado.
"Ele tem de parar de ser tão querido, e sim de aceitar a realidade." pensei "Eu sou maluca. Ou talvez seja ele por acreditar em acontecimentos irreais. Ou talvez sejam o resto das pessoas por serem tão diferentes de nós. Quem é o maluco desta história?" continuei "Ele não é má pessoa. Pelo contrário. Mas ele ajuda-me em demasia, ele vai-se intrometer, e isto um dia irá por acabar. Eu não quero criar expectativas, e muito menos quero ser surpreendida." terminei agora.
"Eu não sei o que fazer, Harry." chorava agora no seu peito "Estou desesperada."
"Não vale a pena ficares, sabes?" contrariou-me.
"Cala-te."
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Nightingale | h.s
FanfictionQuando o mundo fecha as portas e esconde a chave, prendendo assim Evelyn num mundo de guerra e de puro isolamento, não tendo sítio para se refugiar. Poderá então um guerreiro reconfortar a rapariga deprimida neste mundo de demónios - como aparentava...