"O que se passa, Evelyn?" ele sussurrou-me ao ouvido, ofegante.
Um número incrível de minutos ímpares haviam passado desde que Harry me agarrara. Ainda continuava a pensar se vinha tudo da minha imaginação, os gritos, as chamadas de atenção, por isso enrolei os meus braços a redor do seu tronco, ainda sentada no chão a chorar incontrolávelmente. Larguei-o pelo facto de não o querer deixar desconfortável. Funguei e limpei com a manga da minha camisa o líquido que saia do meu nariz, como o da boca, e a quantidade massiva de lágrimas, qual que quase se comparava a uma pequena poça.
"Ajuda-me a levantar, por favor." pedi-lhe, soluçando, quando ele já se encontrava de pé, esticando a minha mão para diante.
Ele agarrou-a, firmemente, e puxou-me de forma vertiginosa. Esta figura mostrava-se cansada e encontrava umas gotas de suor a escorrer-lhe pela testa a começarem a secar, como intuição de irmã mais velha, fui com a minha outra manga e limpei o sítio encharcado.
"Eu chamei por ti." ele afirmou "E eu tentei seguir a tua voz. Mas enquanto corria fui contra uma rocha e..." ele não quis falar mais, apenas começou a levantar as calças justas cautelosamente, reparando numa mancha de sangue borrada na sua perna, numa zona muito perto do tornozelo.
"Isso está feio." disse ainda entre fungos.
"Um bocado, sim." ele respondeu olhando para mim, enquanto a minha visão ainda se encontrava atenta na sua ferida.
[...]
O Harry gemia e abafava com suspiros a dor, enquanto nos encontrávamos numa casa de banho de unissexo de um café pouco frequentado.
"Calma." obsecrei, observando o jovem a tentar manter a perna quieta após o contacto do papel molhado que eu pressionara na sua ferida aberta e sangrenta.
"Acho que já está bom." abafava "Podes parar?" implorou agora.
"Desculpa." a minha força aumentara na pressão "Tem de ser, está muito mau." continuava "Abstrai-te."
Com esta minha afirmação, comecei a observá-lo para ver com o que ele se poderia distrair, mas apenas notei na sua ação - ele mordia o lábio inferior a tentar abafar a dor, aleijando-se a si mesmo noutro sítio, o que fazia sentido, mas que igualmente eu achara sensual, porque ele o fazia a olhar para mim -, agora era eu que me deveria abstrair, olhando assim para a sua ferida.
"Porque estavas no chão?" questionou o ser masculino vestido com a sua t-shirt preta lisa "E porque choravas?"
"Não ligues." respondi monótona.
"Porque não iria?" admirou "Pelo que sei, era comigo com quem te ias encontrar." insistiu.
"Porque quiseste encontrar-te contigo?" tentei mudar de assunto.
"Quis apenas conhecer-te." ele agora murmurava um grito, enquanto eu aproveitava o facto de ele estar distraído a conversar comigo, pressionando cada vez mais "Acho que não há nenhum problema em fazer amigos novos. Mas porquê essa pergunta?"
"Eu explicar-te-ei, agora o que interessa és tu." levantei-me para ir buscar mais papel para o encharcar com água, e aproveitando o caminho para deitar o papel ensaguentado para o lixo. "Quantos anos tens, Harry?"
"19." respondeu "E tu?" retribuiu a pergunta.
"Igual." pensei enquanto abria a torneira daquela pequena casa de banho, onde estariamos os dois sentados no chão "Andas em que Universidade?"
"Até agora, nenhuma. Fui transferido para aqui à última da hora. O meu pai arranjou emprego por aqui perto e tivemos de aceitar." ele respondeu virando o tronco me poder observar, enquanto eu olhava para ele de volta a partir da reflexão provocada pelo espelho "Vou ser transferido para a Dharma Klow University."
Assim que ele produziu o nome da minha universidade, a minha garganta secou, e eu olhava para mim mesma, espantada, engoli o seco que havia na minha boca, provocando um pequeno som no grande silêncio que havia dentro daquela pequena divisão velha e quase imunda.
"Conheces?" ele interrompeu a grande ausência de ruído.
A minha cabeça apenas abanou como responda, afirmativamente.
"Eu devo entrar para a semana, para não perder muitas aulas."
"A sério? Já para a semana?" fui ter com ele e entreguei-lhe o papel molhado "Pressiona."
"Sim, porquê?" ele pousou lentamente e com algum receio o papel na ferida. "Faz tu que eu não vou fazer com muita força, por favor." pediu.
"Eu ando lá."
"Eu nem te perguntei porque a tua reação foi demasiado óbvia." ele falou, o que me provocou outra bebida de nada "Como agora." ele sorriu, levemente, mostrando os seus dentes levemente brancos "Mas é normal, é a única Universidade destes sítio. Não me é de grande espanto."
"Já conheces a cidade?" perguntei, com a sua última afirmação.
"A maioria, e é só por alto mesmo. O meu pai quis mostrá-la assim que acabámos de fazer as mudanças. E eu até gosto dela, pena de ser tão pequena."
"E a tua mãe?" questionei.
"O que tem a minha mãe?" ele admirou.
"Nunca a referiste." respondi, com a minha voz quase inofensiva.
"Os meus pais estão separados." ele suspirou, mas ainda com o mesmo sorriso de antes "Talvez tenha sido a melhor coisa que me aconteceu, mesmo que eu não esteja intrometido, diretamente."
Eu apenas respondi com uma pequena risada minha.
"Porque estás a rir?" interrogou, curioso.
"És muito parecido comigo." dei uma parecida gargalhada, ainda a fazer pressão na sua ferida, lembrando-me que a água já havia secado, retirando-a.
E de facto era demasiado parecido. Só que era de um sexo diferente que o meu, e apenas a sua vida podia ser mais adiantada que a minha, não é que haja mal algum. Eu compreendo-o perfeitamente, e respeito-o por isso. De facto, até não me importava de ter um amigo, ou até apenas conhecido - como sempre -, com quem tivesse semelhanças comigo. Iremos dizer que o Harry poderia ser, por exemplo, uma versão minha muito mais avançada. E onde eu possa acrescentar, igualmente muito mais sexy.
"Quando chegares a casa só precisas de a desinfetar, enquanto lá, fica com este papel por cima da mesma, as tuas calças - que de facto são justas - irão fazer uma pressão razoável." terminei, levantando-me.
"Dá-me o teu número." ele acrescentou, ao acaso.
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Nightingale | h.s
FanfictionQuando o mundo fecha as portas e esconde a chave, prendendo assim Evelyn num mundo de guerra e de puro isolamento, não tendo sítio para se refugiar. Poderá então um guerreiro reconfortar a rapariga deprimida neste mundo de demónios - como aparentava...