Verdades

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Herbert

– Senhor, já tem dias que não dorme e não sai daqui do quartel, sei o quanto é difícil, mas estamos atrás dela, e... Reforçamos a busca, iremos encontra lá. - Me garantiu o cabo Leonardo - Sua expressão não é das melhores, suas olheiras estão fundas e escuras. Senhor, gostaríamos que fosse para casa e tentasse descansar, qualquer coisa te chamo no rádio.

– Obrigado Léo, mas na verdade eu estou perdido, é uma bomba em cima da outra, e... não sei mais quem era a minha namorada! Na verdade eu não sei nem o que mais estou dizendo - senti meus olhos marejarem - Você está certo, vou para casa, a Júlia precisa de mim. Cuida disso aqui para mim! - Levantei me e peguei minha bolsa.

– Senhor, tem uma coisa que eu queria falar, e na verdade não me sinto bem para falar isso... Bem é que... - ele parou, respirou e prosseguiu - Depois que vi as fotos que foram espalhadas da sua namorada, eu percebi que ela é a mesma garota que... Que... Que veio fazer o programa para mim e o outro cabo aqui no quartel.

Não sei o que senti ao ouvir isso, parece que eu já esperava mais revelações, só não queria acreditar. Minha cabeça pesou, eu precisava sair dali. Olhei nos olhos do homem que estava a minha frente e sai da minha sala, entrei no meu carro e permiti que as lágrimas limpassem o meu rosto. "A mulher que amo é uma mentirosa" esse pensamento não saia da minha cabeça. Eu não sabia o que fazer, eu já a conheci assim, tentei e muito fazer com que ela confiasse em mim e mudasse verdadeiramente. Não havia necessidade de mentiras entre nós. Meu peito queimava, apertei com força o volante e enterrei meu rosto entre as mãos, minha respiração acelerou, meu choro já estava descontrolado, meu nariz fungava. Eu queria saber o que mereci para receber aquilo, a primeira mulher que amo, me trai! Sim, porque isso foi sim uma traição! Traiu meus sentimentos, não foi fiel em suas palavras, transou com outros, transou com meus colegas de trabalho!

– Isabele, Isabele, Isabele, o que eu fiz para você ter feito tudo isso comigo?! Sou tão ruim assim? Que merda! - E me afundando no banco, chorei mais ainda. Eu só tive aquele momento longe de todos para extravasar meus sentimentos. Eu não choraria na frente de ninguém, mas ali, no carro, sozinho, eu chorei e não sei exatamente por quanto tempo. Mas foi o tempo necessário para me fazer sentir melhor. Sem ninguém falando no meu ouvido, tentando melhorar uma situação que já estava estragada. E o mais engraçado é que apesar de toda a raiva que sinto pela Bel, eu continuo a amando e querendo encontra lá sã. Depois de tudo o que ela fez, eu posso até perdoa lá, mas saber se o relacionamento vai continuar, já é outra história, e partes de mim me diziam "é o fim", "acabou!".

Cheguei no prédio e fui direto ao apartamento da Bel. Minha mãe estava com a Julia no colo, assim que elas me viram fui surpreendido pela primeira palavra da Julia.

–Papa - minha mãe pós ela no chão que veio dando uns passinhos até cambalear e cair em meus braços -Papa... Papa. - virei meu rosto e ela me deu um beijo babado, porem foi tudo o que eu precisava naquele momento.

– Ela esta desde cedo te chamando. E parece que a primeira palavra dela não foi nem "vovó" que tem estado todos os dias aqui com ela, foi "papai" que ultimamente tem morado naquele quartel. - disse minha mãe se queixando.

– Eu sei mãe, me desculpe, mas é que preciso...

–Eu sei - disse ela me interrompendo e tirando a Julia dos meus braços - Mas agora você precisa de um banho, não vai ficar com aquela assim imundo do jeito que esta.

–Não demoro, vou tomar banho no meu apartamento. - dei um beijo em sua testa e ao me virar e ver uma fotografia da Bel, Julia e eu no Pão de açúcar, não consegui evitar que mais lagrimas rolassem. Me apressei em sair dali e já no meu banheiro, ao olhar meu reflexo no espelho, percebi que eu havia envelhecido uns dez anos em poucos dias. Minha barba nunca esteve tão grande como naquele momento, enormes olheiras tomavam conta dos meus olhos, eu poderia ser facilmente confundido com um morador de rua. Tirei as roupas, e debaixo do chuveiro me permiti chorar tudo o que estava entalado ainda em mim. Se tudo isso era um pesadelo, eu não via a hora de acordar.

Doce VenenoOnde histórias criam vida. Descubra agora