Reconciliação

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Fazia tempo que eu não sabia o que era acordar de madrugada com choro de bebê, ter que levantar na madrugada fria, descabelada e caminhar até a criança e amamentar. Nossa, que saudade que sinto de quando o leite dela já estava preparado em meu soutien. Agora era preciso ir até a cozinha e preparar. Mas eu fazia com amor, batalhei por isso, então não posso reclamar.

Assim que ela já estava de barriguinha cheia e novamente sonolenta, quis que ela dormisse na minha cama, tirei a do berço e levei minha boneca até a cama e deitei. Ela estava tão linda, já não era tão magrinha, tinha um narizinho arrebitado assim como o meu. Ela estava muito parecida comigo. Imaginei se ela seria como eu quando estivesse jovem, se ela iria sofrer e fazer de tudo para vencer, e quando dei por mim, eu estava chorando.

– Minha princesa, por você, por nós eu fiz muitas coisas, tudo para ter você comigo. E eu não quero que você passe por nada do que eu passei... Eu..eu...eu não tinha o amor dos meus pais, mais você tem o meu, e prometo a você que farei o impossível para a sua felicidade! Minha filha, quero que você seja guerreira como eu, mas que nunca, nunca, perca a fé de dias melhores.

"Sabe minha filha, eu era uma menina, eu não tinha maldade nenhuma, e já carregava muita culpa nas costas. Eu, eu, eu ao dormir, desejava não acordar. Se não fosse os seus bisavós a me acolher, tudo estaria pior hoje. Quando eu ganhei você de presente, eu era uma criança descobrindo a adolescência, o homem que eu pensei nos assumir, me abandonou, e a partir desse instante, eu já não agia por mim, e sim por você... Por você, minha princesa! Eu não queria te perder!

Seu avô me bateu, quando você ainda estava na minha barriga, depois que você nasceu fui expulsa de casa e procurei outros caminhos, fui obrigada a te deixar, me perdoe por isso minha filha, mas eu fiz porque precisava de você aqui agora, só comigo! Eu vivi dias imundos, fiz coisas imundas, vendi meu corpo por miséria, homens de todos os tipos, me tocaram, eu me sentia podre, suja, por mais que eu me lavasse por horas, aquela sensação não saia de mim, e não dava para me recuperar, era um homem atrás do outro, eu precisava de você, e isso me desesperava, eu dava, dava tudo mesmo e para os outros eu me fazia de forte, fingia ser uma fortaleza, que nada me abalava, mas só eu sei o que eu sentia, só eu sei o que se passava aqui ó, no meu coração.

Sinto nojo, vontade de vomitar quando lembro do quartinho que eu fazia programas, eu não conseguia nem sentar naquele lençol, ficava só de quatro e passando mal naquele cheiro insuportável, aquelas mãos asquerosas em mim... Filha, foi tudo por você... Tudo!

O bom nisso tudo foi que eu conheci o Herbert, e foi ele que me salvou, ah se não fosse aquele homem... Sabe filha, eu nunca falei isso para ele, mas eu o amo. E eu errei muito com ele. Ele, ele foi tão gentil comigo e depois que eu havia me reinstalado em um novo hotel, eu o encontrei, e ele me conquistou, ele não é um homem comum, ele é especial, mas eu não entendi o porque ele não me queria, como os outros queriam, e eu coloquei tudo a perder, ele me deu o mundo dele, e eu queria que ele entrasse no meu mundo, o mundo sujo...

E acho que foi tudo por culpa minha, e se ele fez o que fez, me machucou por dentro e por fora, eu mereci, e hoje estamos distantes um do outro, ah minha filha, se ele me desse uma chance de poder falar... "

– Então fala! - Herbert estava no meu quarto.

Sentei na cama apavorada.

– Her... Herb... Herbert o que você esta fazendo aqui?! Como entrou?! A quanto tempo esta ai?!

– Quanta pergunta! Respondendo, eu acordei com um choro e eu sabia que sua filha estava aqui, então vim te ajudar e conhece la. Quando alugou o apartamento, eu fiquei com a chave reserva, sabia que seria útil um dia. Se isso foi tudo que você disse, então estou aqui desde o início.

– Herbert eu... - não consegui falar, então ele se aproximou e me abraçou, e em seus braços eu continuei a chorar.

– Não fala nada, eu também errei com você, entrei no seu jogo e quis que você sentisse na pele o que você me fazia sentir, que era só o meu corpo que você queria...

– Herbert... - ele pós o dedo em minha boca me interrompendo.

– Psiu, não precisa dizer mais nada. Já ouvi o suficiente. Você me perdoa?

– Eu que te peço perdão! - falei

– Ownt meu amor, eu te amo - e ele me beijou - te amo - seus lábios pressionavam os meus - te amo - suas mãos me cercavam - te amo muito - ele me olhou nos olhos - eu não quero te perder, nunca!

– Eu... Eu... Herbert eu...

– Eu já ouvi, você disse a ela que me ama!

– Sim, eu te amo... Eu te quero! - confessei.

Ele me beijou e deitamos na cama ainda me beijando, tocando meu corpo, ali sim, eu sentia que era sincero, ele desceu e beijou meu pescoço, as mãos entrando em meu soutien até que uma risadinha da Júlia nos faz parar.

– Júlia...ah...olha o que você fez, acordou minha bebê...

– Poxa, me sinto péssimo por isso, então é meu dever faze la dormir agora, certo?!

Ele levantou da cama, pegou ela nos braços e a ninou pelo quarto, me deitei na cama e me permiti viajar em meus pensamentos, era tão lindo ver o homem que eu amava, cuidando do meu bem mais precioso. Essa cena me emocionou muito.

Logo ela estava novamente adormecida, ele a pós na cama e deitou também, deixando a em nosso meio, e assim adormecemos também, eu e ele. Como uma família.

Acordei com o Herbert na cozinha preparando a mamadeira dela e na mesa havia um maravilhoso café da manhã. Julia estava sentadinha no chão assistindo desenhos animados. Ela era muito comportada para uma criança de um ano.

– Assim eu me apaixono mais hein... - ele disse ao me ver.

– Bom dia! Porque?

– Logo pela manhã, uma deusa vir na minha direção com trajes íntimos... Delicia...

– Ah seu bobo! E você acha que eu não me apaixonaria, por esse cuidado todo que esta tendo comigo e minha filha?!

– Nossa filha! - ele corrigiu e eu cai na gargalhada. - Ue, você me ama, eu te amo, você me quer, eu te quero, ela é sua filha, e eu também a quero como minha!

Lágrimas e mais lágrimas brotaram.

– Você é perfeito! Eu te amo! Mas sabe que precisamos conversar! - eu falei.

– Sim, eu sabia que essa hora iria chegar, mas ela fica para mais tarde ok? Depois do café, do nosso dia no Corcovado, do almoço no Cristo Redentor, e nossa noite na Vista Chinesa.

– Você vai me levar lá de novo? - perguntei sorridente!

– Não, agora eu vou levar a minha família. - Ele respondeu e foi até a sala dar a mamadeira da Júlia.

Esse homem estava sendo muito mais do que eu merecia, estava sendo tudo o que não tive a vida inteira, ele estava sendo perfeitamente perfeito.

Doce VenenoOnde histórias criam vida. Descubra agora