Cura

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Todo o local brilhava, os que estavam ali presentes mal conseguiam ver devido a luz forte que saía de Bruno. Ele estava parado em frente a Krac’lor com os braços cruzados em sua frente. Um tipo de barreira feita de água tinha se formado e todo o ataque do dragão era bloqueado, gerando tal brilho intenso. Uma imagem de um homem, como se fosse um holograma, surgiu em meio a luz. Krac’lor sessou o ataque e toda sua atenção foi focada naquela imagem.

Tal homem aparentava ter noventa anos ou mais e era careca. Sua barba era branca e um pouco grande. Seu bigode era da mesma cor, porém era maior que a sua barba, chegava na altura de seu tórax. Ele usava uma túnica azul celeste, com detalhes em azul escuro. Ele segurava um cajado feito de gelo com um dragão esculpido da metade para cima, os olhos do animal eram feitos de lápis-lazúli e brilhavam a todo instante.

- Krac’lor, meu velho amigo – o velho falou andando para perto do dragão.

- Grymonthen, é você mesmo? – a voz grossa da criatura ecoou por todo o local.

- Isso é apenas meu espírito, não tenho muito tempo – a imagem de Grymonthen começava a estremecer, como se quisesse desaparecer – você está na presença de meu herdeiro, a esperança surgiu para vocês novamente, quero que cuide dele assim como cuidou de mim – o feiticeiro sorriu apontando para Bruno – agora preciso ir – em questão de segundos a imagem desapareceu, deixando o silêncio na sala.

Bruno olhava para tudo aquilo confuso, nunca pensou que algum dia teria um papel tão importante ou que seria herdeiro de algo tão maravilhoso. Todos esses anos pensou que estaria fadado apenas a proteger sua irmã mais nova e viver nas sombras dela, porém agora descobre que seu papel naquela história também era importante. Ele não sabia o que sentia, pois muitos sentimentos passavam por ele agora, mas de uma coisa ele tinha certeza; estava feliz.

- Ora, ora – Krac’lor parou a cara bem perto do rosto do professor – parece que estou na presença do verdadeiro herdeiro.

- E-eu? – a ideia daquilo tudo ainda não tinha penetrado em sua mente. Ele abaixou os braços e relaxou o corpo.

- Sim. Você tem um grande potencial, rapaz – o dragão abaixa o corpo, encostando-o no chão.

- Bruno! – Luna, que tinha sido jogada no chão pelo irmão, agora estava de pé ao lado do mesmo – você é o herdeiro! Estou tão feliz – ela falava com um sorriso no rosto enquanto abraçava o irmão.

- Sim, irmã – ele tinha um sorriso no rosto e abraçava Luna.

- Subam em minhas costas e vamos sair daqui. Creio que já saibam o que acontecerá quando isso acontecer – Krac’lor continuava abaixado, esperando que os dois subissem.

- Sim, estamos cientes – Bruno pegou Luna no colo e a colocou sentada em cima do dragão e logo depois subiu, sentando na frente dela.

Krac’lor levanta o corpo e logo começa a voar e ao chegar perto do teto, abre a boca e solta uma rajada forte de gelo abrindo um enorme buraco e saindo daquela caverna mágica. Bruno e Luna nunca tinha sentido tamanha sensação de liberdade, o vento que batia em seus corpos e o balançar do dragão batendo as asas produzia tal sensação.

Assim que saíram puderam ver que o clima ali já estava mudando. A água do rio que antes estava congelada, agora começava a virar líquido novamente. Aquela sensação de inverno agora dava lugar ao calor. Sombras passavam agitadas pelo lado negro da floresta, a barreira estava se desfazendo e a tropa de Kenfrea, a bruxa, estava ansiosa para começar o ataque.

- Bruno! – o som de uma voz feminina chegou aos ouvidos dos irmãos que estavam sentados nas costas do dragão.

Assim que os dois olharam para baixo, na direção do lado do bem da floresta, puderam ver seus amigos juntos a Elyn, a fada, Hellax, o centauro, e Lia’or, o elfo, em frente a um exército formado pelas três raças dessas criaturas. Todos usavam armaduras, capacetes e tinham suas armas em mãos, estavam mais do que preparados para aquela batalha.

Uma mulher apareceu flutuando na outra margem do rio. Ela era pálida e aparentava ter 30 anos ou menos. Suas feições diziam que algum dia ela tinha sido uma bela mulher, porém agora sua pele estava ressecada e maltratada, seus olhos cinzas tinham veias roxas que saltavam em volta pela sua pele. Ela usava um vestido preto aos farrapos e seu cabelo liso estava bagunçado, como se ela não o penteasse a muito tempo. Seus pés estavam descalços e eram pretos de tão sujos assim como suas unhas, tanto dos pés quanto as das mãos.

- Kenfrea – Krac’lor se pronunciou ao ver aquele mulher de aparência horrenda – parece que o tempo não fez bem a você.

- Pode não ter feito a minha aparência, mas verá que o meu poder agora está ainda maior – a voz da Bruxa era calma e doce, quem a ouvisse sem olhar para aquele ser maltratado acharia que ela era uma mulher meiga e amável – soube que Grymonthen não está mais conosco. É uma pena, queria ter o gostinho de derrota-lo pessoalmente.

- Não ache que ele não estando aqui, não tenha ninguém para te deter – Bruno levantou o corpo, deixando que a bruxa o visse.

- Olha, temos um novo Grymonthen aqui? – a Bruxa começou a voar a toda velocidade em direção a Bruno. Krac’lor desferiu um golpe com o rabo em direção a Kenfrea, porém ela se desfez, como se fosse fumaça, e o ataque passou direto. Risadas vindas dela puderam ser ouvidas.

- Vejo que aprendeu novos truques – Krac’lor começou a descer em direção a margem do rio e pousou – alguém domine o fogo por aqui? – ele disse enquanto esperava que Bruno e Luna saíssem de suas costas.

- Eu – Eduardo e Marianna falaram juntos enquanto se aproximavam do dragão.

- Muito bem, eis o que vão fazer: Bruno e mais um feiticeiro da água vão dominar a água desse rio, levantando-a em vários lugares, o dever de vocês é apenas acertar bolas de fogo onde eles levantarem a água – Krac’lor monta um plano com toda sua experiência em batalhas.

- Luna, está comigo? – Bruno se vira para a irmã.

- Não seria melhor se Leo e Raquel também nos ajudassem? – Luna olha para Krac’lor.

- Prefiro que eles ajudem o resto das nossas tropas a combaterem o exército de Kenfrea – Krac’lor voltou a voar novamente – podem começar.

Bruno e Luna se posicionaram na margem do rio e começaram a controlar a água, criando colunas ao longo do rio. Eduardo e Marianna disparavam bolas de fogo em direção a essas colunas e em poucos segundos o local já estava coberto com névoa e mal eles conseguiam enxergar em volta.

- Andem sempre em grupo, não se separem – Krac’lor voava por cima de toda aquela névoa, atento a qualquer movimento da bruxa, com toda aquela fumaça ela não conseguiria se esconder.

Três criaturas verdes apareceram atrás de Bruno e Luna. Elas eram horrendas, suas peles eram grossas e verdes e seus corpos eram musculosos. Suas aparências lembravam vagamente a de um humano, porém seus rostos eram grosseiros e um pouco deformados. Dois dentes grandes saíam da parte de baixo de suas bocas, apontando para cima. Eles mediam aproximadamente dois metros e carregavam um pedaço de madeira em uma mão. Eles usavam apenas um pedaço de pano para tampar suas partes íntimas e o resto de seus corpos estavam nus. Um deles carregava uma perna ensanguentada na mão livre. Eles eram chamados de ogros.

- Luna, cuidado! – Eduardo gritou para a namorada e logo depois disparou uma bola de fogo em direção a um dos ogros que iria ataca-la, fazendo-o recuar.

- Luna, não pare de fazer essas pilastras, precisamos continuar com essa neblina. Eu te defendo – Bruno parou de dominar a água e voltou sua atenção para as três criaturas que estavam atrás deles – Eduardo, deixe sua irmã continuar produzindo a neblina e me ajude.

As criaturas do exército de Kenfrea já tinham invadido o lado das criaturas do bem e ambos travavam uma calorosa e sangrenta batalha para conquistar o local. Criaturas de ambos os lados caíam no chão, sangrando e morrendo.

- Elfos assassinos, formação das sombras – Lia’or gritava ordens para um grupo formado por vinte elfos vestidos com roupas pretas e espadas nas costas.

Esse grupo era extremamente rápido e eram quase imperceptíveis ao se locomover. Em questão de segundos eles sumiram da frente de Lia’or e foram combater o exército inimigo. Criaturas das trevas caíam no chão sem vida, sem perceber o que os havia atingido.

- Centauros arqueiros, formação de ataque com defesa – Hellax deu a ordem a um grupo de 64 centauros que tinham arco e flecha como arma de batalha. Eles formaram um quadrado perfeito, metade deles estava virado  para frente e a outra metade para trás, eles já estavam com suas armas preparadas para qualquer disparo – centauros da linha de defesa, formação de escudo – um grupo de 30 centauros rapidamente formou um linha em volta dos centauros arqueiros, todos tinham um enorme escudo em uma mão e na outra uma lança feita de ouro.

Criaturas das trevas começaram a ir em direção ao grupo de centauros. Aqueles que chegavam perto da defesa eram perfurados com as lanças e caíam aos pés dos centauros, outros que atacavam de longe eram atingidos por flechas atiradas pelos arqueiros. A onda de criaturas estava aumentando e ficava cada vez mais difícil para eles se defenderem.

- Precisam de uma ajudinha aí? – Leo chegou perto do grupo, ele controlava uma enorme quantidade de água em cima de sua cabeça. O menino dominou a água para que virasse uma enorme pedra de gelo e a partir dela ele começou a lançar adagas de gelos em direção às criaturas, fazendo algumas se afastarem para fugir de seu ataque e matando outras.

A neblina começava a diminuir, a maioria dos soldados de ambos os lados estavam agora visíveis.

- Parece que vocês não vão conseguir me pegar – a voz de Kenfrea ecoava pelo local, porém ninguém conseguia vê-la.

- Preciso que alguém mande tropas para ajudar Bruno e Luna, se não meu plano não dará certo – Krac’lor falou após atacar um grupo de orcs que atacavam algumas fadas.

- Vocês cinco, elfos guerreiros, vão ajudar os dois feiticeiros no lago – Lia’or falou apontando para cinco guerreiros de sua tropa e eles logo obedeceram.

Os cinco elfos vestiam uma armadura dourada e seguravam espadas e escudos nas mãos. Eles foram em direção a margem onde Bruno e Luna estavam, assim que chegaram lá viram que eles estavam sendo atacados por ogros. Bruno havia prendido as pernas de um ogro com gelo, o impossibilitando de se mexer e agora fugia dos ataques do outro ogro.

- Derrubem esse ogro que prendi e acabem com ele – ele gritava para Eduardo e os elfos que acabaram de chegar.

Eduardo atacava o ogro preso com várias bolas de fogo seguidas, e a cada uma que ele acertava o ogro se desequilibrava ainda mais. Alguns minutos depois o ogro caiu no chão, levantando um pouco de poeira devido a seu peso. Os elfos guerreiros partiram para cima, furando o ogro com suas espadas em várias partes do corpo, matando a criatura. O sangue que saía de seu corpo era viscoso e verde.

- Eles não são inteligentes, mas não sejam pegos por um ataque deles, pois são muito fortes – Bruno falava enquanto desviava dos ataques lentos de seu inimigo.

- Estão precisando de ajuda? – Raquel apareceu perto deles, seu corpo estava coberto por suor e um pouco de sangue, sua respiração estava ofegante.

- Preciso que você ajude Luna a produzir vapor enquanto eu e os elfos terminamos com esses ogros.
Raquel ficou ao lado de Luna e começou a fazer os mesmos movimentos que a amiga, Marianna acertava uma bola de fogo em cada pilastra de água que as duas formavam. A neblina já começava a aumentar.

Poucos minutos tinham se passado e o último ogro acabava de cair no chão sem vida. Bruno decidiu que seria melhor ele ajudar na batalha e deixou que Raquel continuasse em seu lugar. Um vulto começou a passar por ali e eles só foram capazes de ver devido ao vapor que produziam. Esse vulto foi em direção a Bruno e o acertou no peito, fazendo-o cair.

-Kenfrea! – Bruno gritou após cair.
- Vocês não vão vencer dessa vez – o corpo da Bruxa se materializou novamente, ela cortou a mão e a encostou no chão – parum se sinta tenebrae, consurge – o sangue que saía da mão de Kenfrea foi se espalhando pelo chão e logo uma fenda se abriu, dela começaram a sair demônios de aparência humana, porém seus corpos eram cobertos com fogo negro. A cada meio minuto um desses demônios eram criados.

- O que são essas coisas? – Bruno perguntava enquanto já lutava contra um deles.

-São demônios da escuridão – Kenfrea ri sombriamente – boa sorte – seu corpo virou pó novamente e quando estava fugindo, Leo chegou e a acertou na barriga com uma lança feita de gelo.

- Onde pensa que vai? – ele sorriu enquanto criava outra lança – precisamos destruir aquele cristal que ela tem no pescoço, se não esses demônios não vão parar de nascer – ele jogou outra lança em direção a bruxa, porém ela desviou com facilidade.

- Olha só, um conhecedor das magias ocultas – Kenfrea tirou a lança que estava em sua barriga e a jogou para o lado.

- O que eu posso dizer? Gosto de pesquisar sobre as coisas – ele sorriu e apertou um cordão com uma pedra que tinha no pescoço. Seu corpo começou a criar listras pretas a partir de sua mão. Seus olhos ficaram azuis e brilhantes, quando as listras terminaram de se formar parecia que sombras saíam delas. Ele começou a controlar a água do rio e logo seu corpo estava coberto por ela.

- Pelo visto não é só pesquisar, também gosta de usar – Kenfrea se aproximou do menino e quando foi encostar nele, sentiu algo perfurando suas costas.

- Eu não se aproximaria de mim se fosse você – Leo controlou a água que cobria seus braços, criando uma ponta de gelo e perfurou as costas de Kenfrea. Leo agora estava com uma velocidade incrível. Kenfrea tentou desferir alguns golpes contra ele, porém todos sem sucesso – cuidem da neblina e de outras criaturas que venham a aparecer, eu cuido dela.

- Tem certeza? – Bruno encarou Leo após derrotar um dos demônios.

- Sim, pode confiar – Leo sorriu assim que Bruno assentiu com a cabeça – agora somos só eu e você – ele sorriu olhando para a Bruxa.

Leo aproveitou que o seu gelo ainda estava nas costas de Kenfrea e controlou a água, que se estendia do seu braço até a ponta de gelo, puxando a bruxa para trás e a tacando contra uma árvore. Ele correu a toda velocidade em direção a bruxa, porém quando ele ia chegando perto o corpo de Kenfrea se desfez novamente.

- Você ainda não aprendeu que esse truque não vai funcionar? – Leo controlou a água de seu braço direito, fazendo-a se estender até aonde a bruxa estava passando para tentar fugir e a agarrou pelo pescoço, dominando a água para comprimir cada vez mais e logo depois a jogou com toda a força no chão.

- De onde veio todo esse poder? – Kenfrea fala entre tosses, tentando recuperar o fôlego.

- Ele é desconhecido por todos, creio que nunca ouviu falar – Leo se aproximou da Bruxa e formou uma lâmina de gelo em seu punho e antes que ele pudesse acertar no pescoço dela, a bruxa fincou as unhas no braço dele é nesse instante os olhos de ambos ficaram pretos.

- Meam transferrem animam meam ad clavos ianuarum incolunt, uni corpus – Kenfrea sussurrou e logo depois os olhos dos dois voltaram ao normal.

- Diga Adeus a todos – Leo perfurou o pescoço da bruxa sem nenhuma piedade enquanto ela gargalhava. Em seguida ele arrancou o cordão do pescoço da mesma, colocou no chão e controlou a água para virar gelo em volta do objeto. Ele pegou uma pedra que estava ao seu lado e bateu com toda força no pingente, quebrando-o em vários pedaços. Léo sentou no chão e logo todo aquele poder se foi, agora ele se sentia exausto e permaneceu ali sentado.

Bruno lutava contra um demônio das trevas, ele já havia lutado com tantos que agora sua energia estava limitada, o cansado começava a atingi-lo. Ele estava caído no chão e o demônio estava prestes a acerta-lo com uma espada em chamas negras quando de repente ele evaporou. Bruno olhou em volta e viu que tinha acontecido a mesma coisa com todos os outros, porém percebeu também a destruição que eles haviam trazido. Muitos elfos, fadas e centauros haviam morrido, com certeza eles sofreram uma enorme perda.

- Ei, Leo. Você está bem? – Bruno se levantou assim que viu o menino exausto sentado no chão.

- Tô sim, mas esse poder que usei consome muita energia, vou precisar... – antes que ele pudesse terminar de falar, seus olhos se fecharam e ele caiu deitado no chão.

- Ei, amigão – Bruno se abaixou ao lado dele e verificou o pulso, estava fraco porém ainda estava vivo. O professor dominou um pouco da água do rio e a deixou flutuando em cima do corpo de Leo, ele concentrou um pouco de sua energia naquela água e logo ela começou a brilhar, tornando-se curativa. Bruno curou todos os ferimentos graves e depois deitou ao lado do menino, ele estava esgotado.

Depois de um pouco menos de uma hora toda a batalha já estava acabada, as criaturas do lado do bem haviam sofrido muitas perdas, mas nada comparado ao lado negro que todos tinham sido mortos. Os feridos foram mandados para a enfermaria, junto a Léo e Bruno e lá receberiam tratamento adequado.

Os que estavam em melhores condições começaram a recolher os corpos. Os que pertenciam ao lado das trevas eram jogados em um canto, formando uma pilha de corpos. Os que pertenciam ao lado do bem, foram levados para uma área da enfermaria que foi separada para receber os mortos e prepara-los para o enterro e honras.

- Vamos colocar fogo nessa pilha de corpos, primeiro para representar nossa vitória e segundo para prevenir que eles voltem a nós perturbar – Hellax trotava de um lado para o outro em frente aos poucos soldados em boas condições, incluindo Marianna, Raquel, Eduardo, Luna e Rita.

- Podemos ter o prazer de atear fogo neles? – Eduardo perguntou, apontando para ele e para Marianna.

- Por que não? Podem vir – Hellax sorriu e abriu caminho para que eles passassem até a pilha de corpos.

Marianna e Eduardo andaram até os corpos e prepararam bolas de fogo em ambas as mãos. Seus olhos brilhavam ao refletir o fogo e eles não puderam segurar a excitação de tacar fogo naquela pilha. Os soldados que estavam ali começaram a comemorar e a pedir pela grande fogueira.

- À nossa vitória! – Mari e o irmão começam a lançar várias bolas de fogo em direção aos corpos e logo todos já estavam pegando fogo. O cheiro de carne queimando tomava conta de todo o local.

O sol já estava se pondo quando tudo já estava queimado, os soldados restantes voltaram para suas casas e alguns servos dos três grupos de criaturas limparam todo o local deixando-o como se nada tivesse acontecido.

Léo estava deitado em uma maca e desacordado à duas horas, Bruno e Luna estavam sentados em poltronas ao lado do menino. As marcas das unhas de Kenfrea começavam a ficar roxas, quase pretas, suas veias começaram a ficar da mesma cor e ficaram grossas como se quisessem sair de seu corpo. Ele começou a gemer e se contorcer de dor.

- Enfermeiros! – Bruno levantou e correu até a cabine onde os enfermeiros descansavam.

- O que houve? – uma fada de cabelo longo e loiro, todo trançado, com as roupas e asas brancas saiu da cabine e correu em direção a Léo.

- A segundos atrás ele estava bem e do nada ficou assim – Luna falou assustada olhando o amigo sofrendo de dor.

- Não pode ser – ela começou a examinar o menino e nada achou – vou ter que fazer exames mais profundos e isso pode causar um pouco mais de dor, mas ele vai ficar bem – ela encostou as mãos no tórax de Léo e fechou os olhos. Agulhas bem finas começaram a sair de suas mãos e penetraram o corpo do menino, essas agulhas davam acesso direto ao sangue dele. Ela ficou assim por alguns minutos até que abriu os olhos e sua expressão agora era de preocupada.

- O que aconteceu? – Bruno pergunta preocupado se aproximando mais deles.

- De alguma forma Kenfrea conseguiu se transferir para o corpo dele e agora está tentando sair. Chame Lia’or, precisamos selar ela dentro dele – ela deu a ordem a um dos enfermeiros que tinha aparecido.

- O que? Selar essa criatura dentro dele – Luna praticamente gritou, ela não podia acreditar que esse era o único meio.

- Kenfrea já está por todo o corpo dele, se a tirarmos ele morre. Agora se a selarmos ela vai ficar adormecida aí dentro e ele ainda pode se aproveitar da energia dela – a enfermeira explicou olhando Luna nos olhos.

- Ele vai ficar bem, Luna – Bruno abraçou a irmã, tentando conforta-la.

Alguns minutos depois Lia’or e o enfermeiro entram correndo pela porta da enfermaria e se juntam a eles. Como o enfermeiro já havia explicado a situação a ele, Lia’or começou a analisar o corpo de Léo e logo viu as marcas das unhas em seu braço.

- Como esperado, magia negra; transporte da alma – o rei dos elfos respirou fundo e olhou preocupado para o menino – vai ter que ser o selo muito forte, além de Kenfrea ser forte esse feitiço é um dos mais fortes que já tive conhecimento – ele virou para Luna e Bruno enquanto falava.

- E o que precisamos fazer? – Luna queria ajudar o amigo a todo custo, afinal era por causa deles que ele estava nessa situação.

- Preciso de duas pessoas para fazer um trabalho de cura enquanto eu selo Kenfrea dentro dele, se não ele não vai aguentar – Lia’or encarava Bruno.

- Mas só eu sei curar, não temos outro que saiba – Bruno estava preocupado, onde eles arrumariam outra pessoa para fazer isso?

- Eu posso aprender. Você conseguiria arrumar algum tempo pra gente? – Luna pergunta ao rei dos elfos, Lia’or.

- Podemos mantê-lo sedado até amanhã a tarde, não sei se ele consegue resistir depois disso – Lia’or explicou a situação.

- Até amanhã deve ser o suficiente – Luna estava decidida, ela aprenderia o necessário em apenas um dia.

- Você tem certeza? A técnica de cura demora pra ser aprendida – Bruno se pronuncia, ele não acredita que esse tempo seja o suficiente.

- É o que temos, Bruno. Não posso me dar ao luxo de aprender calmamente – ela segurou a mão de Léo – Prometo que vamos te salvar – ela sorri e começa a andar em direção a porta – vamos, estamos perdendo tempo.

Assim que eles saíram da enfermaria se depararam com o céu cheio de estrelas e a lua cheia enorme iluminando a noite. Eles nunca tinham visto o céu tão deslumbrante como ele estava agora, talvez isso poderia ser um sinal de que tudo ficaria bem.

Bruno apenas assentiu e se despediu dos que estavam ali presentes. Ele levou Luna até rio onde toda a batalha tinha acontecido. O professor tinha em seu bolso um frasco cheio com a água da lagoa que cura para caso ele precise de cura urgente.

- Já que temos um período muito curto para você aprender, vou ter que usar medidas drásticas – ele segurava um coelho vivo em uma mão.

- Não acredito que você vai fazer isso – Luna falou perplexa, seu irmão sabia que ela tinha paixão por animais e os usaria.

- Pode acreditar, temos que ter um incentivo para você – ele começou a fazer carinho no animal em seu colo, ele se sentia mal por ter que usa-lo, mas seria por um bem maior – mas antes vou ensinar as técnicas para você.

- Ah Bruno – Luna falou um pouco chorosa.

- Vamos, deixa de reclamar – Bruno dominou a água, fez uma cerca e colocou o coelho lá dentro – antes de tudo você precisa se conectar com a sua energia, precisa aprender a senti-la, controla-la e molda-la do jeito que você desejar – ele sentou na grama com as pernas cruzadas – sente aqui do meu lado.

- Isso tudo parece tão complicado – Luna disse sentando ao lado do irmão, também com as pernas cruzadas.

- Quero que você feche os olhos e esqueça tudo ao seu redor, concentre-se apenas na música que você vai ouvir – assim que Bruno acabou de falar tirou uma flauta do bolso e começou a tocar uma música calma e lenta, relaxando o corpo de ambos.

Luna estava de olhos fechados e respirava lentamente, seus pensamentos estavam voltados para aquela música linda que seu irmão tocava que entrava por seus ouvidos a induzindo a esquecer do resto das coisas. Os segundos foram se passando e todas as coisas externas deixaram de ter alguma importância para ela, ela se concentrava apenas em sua energia e lá no fundo na música.

- Muito bem, quero que você sinta agora sua energia correndo por cada canto de seu corpo – Bruno falava com a voz baixa e calma para não atrapalhar a concentração de Luna e logo volta a tocar a flauta.

A menina começava sentir a energia passando pelo seu corpo, era como se tivesse um rio dentro dela, passando por cada membro e órgão que ela tinha. Todo o seu corpo estava repleto por esse rio, porém essa energia estava muito conturbada, sem preparo para ser usada. A respiração de Luna começou a ficar ofegante.

- Vejo que a achou. Sei que está uma bagunça, mas o que vamos fazer agora é doutrinar essa energia. Quero que a imagine como um rio que está correndo em várias direções e você vai fazer com que ela corra apenas para um lado – a voz de Bruno continuava suave e quase um sussurro. Após terminar de falar ele volta a tocar a flauta.

Luna respirou fundo e focou toda a atenção em sua energia, imaginando um rio correndo em várias direções de acordo com o que ela sentia de sua energia. Ela começou a se imaginar dominando toda aquela água, sua energia. No começo estava sentindo uma grande resistência, mas a medida que ela tentava, mais a energia cedia as suas vontades. O rio agora corria devagar e segundos depois estava totalmente parado.

- Está indo muito bem, sinto a paz de sua energia daqui. Continue com o que estava fazendo e a faça correr para apenas um lado – Bruno voltou a tocar seu instrumento logo depois de acabar de falar.

Luna estava suando frio, controlar aquele rio de energia não estava sendo fácil. Ela se imaginou dominando a energia para correr para o lado direito e como esperado encontrou mais resistência, sua energia queria voltar a correr desordenada como sempre correu, mas Luna não se deu por vencida e continuou tentando até que depois de alguns minutos nessa briga ela conseguiu vencer e sua energia começou a correr para o lado direito.

Bruno parou de tocar a flauta e observou a água do rio sendo guiada para Luna e formando uma bolha em volta dela. Assim que tal bolha ficou completa, começou a brilhar intensamente e no segundo seguinte ela estourou molhando os irmãos.

- Muito bem! Você conseguiu – Bruno falou sorrindo e abraçou a irmã.

- Nem acredito! – Luna também abraçou o irmão, toda feliz.

- Mas tenho uma péssima notícia, passamos quase a madrugada toda nisso e temos pouco tempo agora, temos que correr – ele se separou da irmã e levantou indo em direção ao coelho.

- Tenho que aprender logo isso – Luna levantou e molhou o rosto no rio, tirando o suor que tinha ali.

- Agora vamos para a pior parte – Bruno pegou o coelho no colo, tirou uma adaga do bolso e fez um corte profundo nas costas dele, no mesmo instante o animal começou a sangrar bastante.

- Não Bruno! – Luna correu em direção a ele com os olhos cheios de lágrimas.

- Ele está por sua conta agora – Bruno jogou o coelho no colo da irmã – te aconselho a andar rápido, porque do jeito que está sangrando não vai durar muito tempo – ele puxou a irmã até a margem do rio e fez com que ela colocasse o animal no chão.

- Não acredito que você fez isso – lágrimas escorriam pelo rosto de Luna enquanto ela se abaixava ao lado do coelho.

- Sem choramingar, Luna! O tempo que você está aí debatendo comigo, o nosso amigo está morrendo. Menos falação e mais ação – Bruno falou firme com a irmã, se ela não entendesse a urgência daquilo, ele se sentiria muito mal por ter machucado um animal tão indefeso.

- Tá desculpa – ela limpou as lágrimas e se concentrou no animal – o que eu tenho que fazer?

- A mesma coisa que você fez agora. Você vai controlar sua energia, passa-la para água e fazer com que ela cure o coelho – Bruno sentou ao lado da irmã.

Luna controlou um pouco da água do rio e a levou para cima do coelho, espalhando-a por todo o corpo do animal. Ela então fechou os olhos e buscou sentir sua energia novamente, que agora corria do jeito que ela havia controlado. Luna então começou a controla-la para passar para a água, porém não estava conseguindo.

- Vamos, Luna. Nosso amiguinho não vão aguentar – Bruno tinha um olhar preocupado no rosto.

A menina respirou fundo e continuou tentando, mas parecia que ela tinha perdido seu poder de controle sobre sua energia, pois nada acontecia. Seu coração começou a ficar acelerado e seus olhos se encheram de lágrimas novamente.

- Não é possível! – ela olhava para o coelho, chorando – você matou ele, Bruno, você matou – seu rosto agora estava todo molhado devido as lágrimas.

- Sai, Luna – ele passou a controlar a água que estava em cima do corpo do animal e fechou os olhos, se concentrando, e logo a água começou a brilhar. Os ferimento causado por Bruno começou a fechar lentamente até que estava todo curado – pronto – ele pegou o animal no colo e começou a fazer carinho.

- Você não ia deixar ele morrer? – Luna limpava as lágrimas em seu rosto.

- É claro que não, né – Bruno dava um pouco de água para o coelho beber – mas se fosse depender de você, ele teria morrido. Se concentre, Luna! Se concentre em fazer sua energia te ajudar – ele falava um pouco bravo.

- Eu só conseguia pensar que ele ia morrer, desculpa – os olhos da menina estavam inchados e sua voz falhava.

- Não pense! Se um dia precisarmos de você pra nos curar, você vai deixar o medo de nos perder fazer com que você realmente nos perca? – ele precisava mexer com o psicológico da irmã, caso ao contrário ela não conseguiria dominar tal técnica a tempo.

- Claro que não, vou fazer de tudo pra salvar vocês – Luna se demonstrava um pouco assustada, ela não queria ter todo esse peso em suas costas.

- Então muito bem – Bruno colocou o coelho no chão e o deixou ir embora – então agora vai ser sério e você vai ter que trabalhar rápido – ele tirou a adaga do bolso novamente e enfiou do lado de seu corpo sem pensar duas vezes. Ele sentiu a lâmina atravessar seu pulmão e no segundo seguinte ele estava deitado no chão sem conseguir respirar.

- Droga Bruno! – Luna estava desesperada e assustada, se ela não conseguisse agir logo, seu irmão estaria morto.

A menina controlou rapidamente um pouco de água e a colocou sobre o ferimento do irmão. Ela fechou os olhos e se concentrou apenas em sua energia e então se imaginou dominando todo aquele rio e o colocando aos poucos para fora pela palma de sua mão. A água começou a brilhar e aos poucos o ferimento de Bruno foi se fechando até o momento que ele estava totalmente curado.

- Pensei que ia me deixar morrer – Bruno falou após tossir desesperado por recuperar o fôlego.

- Nunca mais faça isso! – Luna o encheu de tapas enquanto chorava.

- Você sabe que foi necessário – Bruno sentou, abraçou a irmã e deu um beijo na testa da mesma.

- Podemos ir agora? Quanto mais Léo espera, mais crítica fica a situação dele – Luna se levantou.

- Uma coisa antes – Bruno levantou, pegou a adaga e fez um corte no próprio braço – quero ver se aprendeu mesmo – estendeu o braço sangrando na direção de Luna.

Luna rapidamente controlou um pouco de água do rio e a deixou em cima do corte do braço do irmão. Fechou os olhos e se concentrou em sua energia, a água começou a brilhar e logo o ferimento estava totalmente sarado.

- Muito bem! – Bruno pegou a irmã no colo e a jogou para cima, pegando-a novamente em seguida – sabia que você seria capaz, afinal você é minha irmã.

- Idiota – Luna riu e desceu do colo do irmão – agora vamos logo – os dois saíram correndo em direção a enfermaria.

O sol já tinha nascido e o canto dos passarinhos podiam ser ouvidos por todo o local. Todos os seres que os irmãos viam agora estavam vestindo branco em homenagem àqueles que tinham falecido em batalha. Logo eles entraram na enfermaria e deram de cara com Léo se contorcendo de dor novamente.

- Estão prontos? Os ataques de dor estão mais frequentes agora, precisamos agir rápido – Lia’or estava com uma expressão de preocupado, cada minuto que se passava a situação ficava mais crítica.

- Estamos prontos sim – Bruno falou ofegante, estava cansado de toda aquela corrida até ali.

- Muito bem, levem-no para a câmara de feitiços – Lia’or ordenou aos enfermeiros que logo o obedeceram.

- Miawar – Lia’or olhou para a fada enfermeira que estava com eles antes – traz a tinta da rosa imperial – o rei dos elfos saiu da sala acompanhado por Bruno e Luna.

Eles foram em direção ao palácio, mas ao invés de entrar na porta principal entraram em uma porta de madeira no chão que dava para uma escada. Eles desceram e se depararam com Léo deitado dentro de um pequeno lago.

O local era todo feito de pedras e estava cheio de teia de aranha, como se eles não fossem ali a muito tempo. Tochas acesas estavam presas nas paredes iluminando o local. A água do lago era cristalina o que permitia ver as pedras no fundo. Os enfermeiros que levaram Léo estavam todos no canto da sala quietos, ansiosos para presenciar tal feitiço.

- Aqui está a tinta que pediu – Miawar entregou um pote com uma tinta dourada para Lia’or.

- Obrigado – Lia’or pegou o pote e começou a fazer alguns desenhos em volta do lago, eles continham formas geométricas e palavras que Bruno e Luna não conseguiam entender. Assim que terminou o desenho ele entrou no lago, segurou o braço de Léo e fez um sol em volta das feridas que Kenfrea tinha feito – agora eu preciso de vocês dois, façam com que a água desse lago o cure.

- Ok – Bruno e Luna falaram juntos e se abaixaram, tocando a água e fechando os olhos, se concentrando em fazê-la curar o menino.

- SPIRITUS QUI CELAT, REVELATUR – Lia’or começou a repetir a mesma frase várias vezes até que Léo começou a se contorcer de dor novamente.

Léo gritava de dor, porém a voz que saía de sua boca era distorcida e diferente da original, ele se contorcia mais do que antes. Lia’or segurava firme o braço de Léo que tinha a ferida. Luna e Bruno controlavam a água para envolver o corpo do menino e logo ela estava brilhando e com poderes curativos.

- HINC TIBI OBLIGO CORPUS DAEMONI – Lia’or continuava a conjurar o feitiço determinado e com a voz firme.

Os desenhos, tanto os que estavam ao redor do lago quanto o do braço de Léo, começaram a brilhar. Léo arqueou as costas e uma sombra começou a sair, relutante, do corpo dele e tomou a forma de uma mulher. Lia’or jogou um pouco da tinta na sombra, manchando-a, e a empurrou de volta para o corpo do menino.

- TENEO TE COGAT OBDORMIAM INCORPORE – o rei dos elfos falou várias vezes o último verso do feitiço.

O corpo de Léo começou a ficar muito quente e o desenho em seu braço começava a pegar fogo enquanto suas feridas eram curadas. Logo o fogo foi se alastrando por todo seu corpo, até consumi-lo por completo.

- Léo! – Luna parou o processo de cura e correu em direção ao amigo, ela não podia deixar ele ser queimado e morrer daquele jeito.

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