O Templo da Água

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Bruno procurava a carta de Lia'or em sua mochila, porém estava tão nervoso com a situação que não conseguia achá-la. Ele a virou de cabeça para baixo, despejando tudo no chão até que encontrou o pergaminho em meio às suas coisas.

- Achei! – Bruno disse com um sorriso no rosto enquanto levantava o pergaminho – essa carta é pra vocês. Por favor leiam-na – ele logo se ajoelhou.

- Não sabemos como humanos chegaram aqui ou o que querem, mas não deixaremos que entrem – o mesmo homem que tinha falado anteriormente se pronunciou.

- Por favor... Precisamos de sua ajuda. Lia'or nos mandou aqui. – Luna estava de joelhos ao lado de seu irmão e olhava para cima em direção ao homem que tinha falado.

- Lia'or? – o homem olhou ao redor, encarando seus companheiros. Lia'or era um grande amigo do rei do templo da água e logo fez com que ele mudasse de ideia. Ao bater seu cajado no chão, fez com que o gelo ao seus pés fosse descendo, parecendo um elevador, até que ele chegou aonde o grupo estava e pegou o pergaminho começando a lê-lo.

"Eu, Lia'or, Rei dos elfos e protetor de Lebrook, peço encarecidamente que recebam esse grupo em seu templo.

A menina de cabelos negros e olhos azuis é a menina da profecia e seu irmão é o herdeiro de Grymonthen, como podem ver pelo dragão do gelo que os acompanha.

Forneçam um pouco de sua sabedoria a eles, para que eles possam cumprir seus papéis"

- Então vocês finalmente apareceram!? – o homem falou após terminar de a carta – Por favor, me sigam – ele parou em frente a grande parede de gelo, juntos as mãos uma na outra e as separou. A parede começou a abrir formando uma passagem para a cidade que rodeava o templo.

Luna e Bruno colocaram Léo e Mari em suas costas e seguiram o homem junto a Raquel e Eduardo, passando pela entrada e olhando ao redor. Tudo era feito de gelo. As casas, os prédios, os bancos. Um rio dividia a cidade e pontes ligavam um lado ao outro.

O que mais os surpreendeu foram os habitantes. Eles lembravam os humanos, porém tinham suas características que os diferenciavam. Suas peles eram de um tom azul claro, cobertas por escamas. Seus olhos eram um pouco maiores que os dos humanos, com a íris da cor amarela e a pupila era comprida na vertical, lembrando os olhos de um gato. Eles tinham cabelos e barba assim como os humanos. O nariz era apenas dois pequenos buracos um pouco a cima da boca. O restante do corpo era semelhante ao de um humano. Eles usavam casacos, calças e também vestidos de manga longa.

Eles passaram por uma praça onde tinha um enorme chafariz também feito de gelo. Ele era circular e água cristalina pulava como se tivesse em uma eterna e linda dança. Em volta tinham alguns bancos e troncos de árvores onde as folhas foram substituídas por gelo, assim como as flores, formando um jardim todo branco e surpreendentemente lindo.

- Sei que vocês devem estar se perguntando o que nós somos, já que nunca souberam de nossa existência – o homem falou enquanto olhava pra eles – nós somos os ancestrais do elemento água. Nossa espécie é chamada de Rerunaqua.

- Parece que você leu nossa mente – Bruno respondeu já tendo sua dúvida esclarecida.

Eles queriam poder admirar toda aquela beleza da cidade de gelo, porém seus corpos já estavam dormentes de tanto frio que sentiam e seus amigos em suas costas pareciam estar cada vez mais pesados. Talvez seus corpos já estivessem chegando ao limite da exaustão. Eles precisavam de ajuda rápida para Léo e Marianna.

- Desculpe-me se eu for desrespeitoso, mas estamos com frio e nossos amigos precisam de ajuda médica, senhor – Bruno falava com o homem, tentando ser o mais educado possível.

- Eu sei disso, por isso estamos indo para a ala hospitalar – o homem tirou o capuz e sorriu – e pode me chamar de Khanka.

- Ah, sim. Obrigado Khanka – Bruno sorriu e continuou seguindo o homem em direção a ala hospitalar.

Após alguns minutos de caminhada o grupo chegou a uma construção de gelo enorme. A entrada não tinha nenhuma porta, deixando o caminho livre para qualquer um que quisesse entrar. Em cima da entrada tinham algumas palavras entalhadas no gelo: Thronnax Hospitium (Hospital Thronnax).

Assim que eles entraram viram um balcão com um Rerunaqua atrás. Ele vestia uma roupa totalmente branca e levantou ao ver o grupo.

- Dala, duas macas rápido. Eles estão em estado crítico – Khanka ordenou e logo Dala correu para um outro cômodo em busca dos médicos e da maca.

Após alguns minutos, Dala voltou junto a dois médicos e alguns enfermeiros com duas macas. Bruno e Luna colocaram Léo e Mari nas macas e os enfermeiros os carregaram para dentro de uma sala separada, junto a um dos médicos. O médico que ficou se aproximou do grupo com um sorriso no rosto.

- Prazer, me chamo Dacius – ele disse com um sorriso no rosto – preciso saber o que levou aos seus amigos a estarem em tal estado, se puderem me contar tudo facilitará nosso trabalho.

- Nós viemos de Lebrook, então tivemos que passar pelo Caminho Faminto. Foram os piores dias da minha vida – Os olhos de Bruno se enchiam de lágrimas só de lembrar dos acontecimentos.

- Uma noite um grupo de Feedscorporas nos atacou e no meio da luta Mari e Léo foram feridos por eles – Luna continuou a falar, percebendo que aquelas lembranças eram difíceis para o irmão.

- Mas eles se alimentam apenas dos mortos... – Dacius falou ao achar estranho o comportamento das criaturas.

- Pois é, o Bruno teve a brilhante ideia de carregar o corpo da namoradinha junto com a gente e acabou colocando todos nós perigo – Eduardo falou enquanto encarava Bruno.

- Você quer mesmo me provocar, Eduardo? – Bruno avançou pra cima do menino, segurando-o pela gola da blusa imunda – já venho aturando sua ousadia por todos esses dias, mas não pense que minha paciência é ilimitada.

- Sem brigas aqui – Khanka segurou o braço de Bruno e o fez soltar Eduardo – estão todos cansados, deixem pra resolver os problemas em outra hora.

- Você já está passando dos limites – Bruno terminou enquanto se afastava.

- Muito bem, veneno de Feedscorporas. Esse veneno começa a fazer o corpo da pessoa apodrecer. Seria mais fácil de tratar no começo, mas agora não é nada que seja preocupante. Só deve restar uma cicatriz – Dacius falou enquanto anotava alguma coisa em um pergaminho preso a uma madeira e depois deixava o grupo para seguir em direção a sala onde Léo e Mari estavam.

- Irei levá-los para seus quartos. Tomem um banho, descansem e troquem de roupa. Logo irão chamá-los para fazer uma refeição – Khanka falava enquanto guiava o restante do grupo para a saída do hospital.

Eles voltaram a andar por entre as construções que cercavam o templo. Alguns Rerunaquas os olhavam curiosos. Afinal, há milênios que eles não tinham contato com humanos e vê-los por ali era um tanto quanto estranho.

Khanka guiou o grupo até uma rua onde pararam em frente a três grandes iglus, um ao lado do outro.

- Vocês vão ficar nesses iglus. Como Bruno e Luna são irmãos eu imaginei que gostariam de dividir um deles. Podem entrar e se instalar. A água é quente e tem roupas disponíveis para vocês. Se tiverem alguma dúvida ou problema, vocês vão me encontrar lá na muralha. Espero que gostem dos seus quartos – Khanka sorriu e deixou o grupo.

- Luna vai ficar comigo, já que sou o namorado dela – Eduardo logo se aproximou, segurando a mão de Luna.

- Nem que eu fosse louco, Luna já não tem mais nada com você. Ela vai dormir comigo – Bruno segurou a irmã.

- Luna, é isso mesmo!? – Eduardo olhou fundo nos olhos da namorada.

Luna se sentia estranha. No fundo estava com medo de ficar junto a Eduardo devido aos últimos acontecimentos. Algo a dizia para não ficar perto dele. Contudo, assim que ele a olhou nos olhos tudo aquilo foi embora e uma enorme vontade de ficar ao lado do namorado a consumiu e não importava o que o irmão falasse, ela iria dormir junto a Eduardo.

- Desculpa, Bruno. Mas eu vou ficar com o Eduardo – Luna falou cautelosa.

- O quê!? Mas claro que não. Ele não é mais o mesmo de antes. E se ele te fizer alguma coisa? – Bruno tentava convencer a irmã a desistir dessa ideia.

- Não importa o que você fale, eu já sei me cuidar e vou ficar com ele – As palavras pareciam sair sozinhas da boca de Luna, o que ela realmente queria não era aquilo.

- Claro que não! – Bruno tentou puxar a irmã.

- Você ouviu. Ela quer ficar comigo – Eduardo empurrou Bruno e abraçou Luna.

- Se você fizer alguma coisa a ela vai pagar por isso – Bruno terminou de falar e entrou em um iglu, criando uma porta de gelo que se fechou atrás dele.

- Você também provoca – Léo parou em frente a Eduardo, com um olhar ameaçador – é bom não estar tramando nada – e logo entrou no outro iglu, também criando uma porta que se fechou atrás dele.
Raquel apenas ficou quieta olhando aquilo tudo. Algo em Eduardo a incomodava. Depois que passaram pelo Caminho Faminto parecia que algo não muito bom tinha despertado em Eduardo. Talvez sua real intenção com Luna. Assim que Léo os deixou, ela também entrou no iglu, deixando o casal a sós.

- Esse seu irmão é um saco – Eduardo disse enquanto rolava os olhos e entrava, junto a Luna, no iglu que restou.

- Não fale assim, ele é apenas protetor demais – Luna defendia o irmão enquanto seguia Eduardo.

LEBROOK

Era final de tarde e o sol já começava a se pôr no horizonte, permitindo que os habitantes dali se maravilhassem com o céu laranja e o enorme sol se pondo. Subitamente o céu mudou e nuvens cinzas apareceram. Raios caíam dela em direção ao solo e quando o atingiam, produziam um enorme estrondo que ecoava por toda Lebrook.

Rasus, junto a mais dois capitães, entravam pelo portal junto ao exército e o Líder dos Selith. Eles agora tinham forças para dominar toda a região de Lebrook e não parariam enquanto todas aquelas criaturas não fossem seus escravos.
Lia'or olhava tudo aquilo de longe. Seu coração apertou por saber que a hora tinha chegado. Tudo aquilo que ele tanto zelou seria destruído e seu reino escravizado pelos humanos. Dois elfos entraram correndo preocupados.

- Alteza, o senhor precisa sair daqui – um deles falou.

- Como eu posso abandonar meu povo em uma hora dessa? – Lia'or olhou para eles, sua expressão era de pura tristeza.

- Meu Rei. O senhor precisa ir para o Templo e avisá-los. Ninguém além do senhor pode fazer isso da maneira mais rápida – o outro soldado se pronunciou.

- Sua sala de teleporte já está pronta – o primeiro soldado voltou a falar – venha conosco.

Os três atravessaram o castelo correndo Antes que os humanos chegassem ali Lia'or já tinha que ter partido para o Templo da Água. Sua missão era avisá-los da invasão e agilizar o treinamento de Luna.
Eles entraram em uma pequena sala que tinha um hexagrama desenhado no chão. Em cada ponta tinha uma vela que já estavam acesas. Lia'or parou no meio do desenho e olhou para seus soldados.

- Quebrem esse hexagrama assim que eu partir. Não duvido que eles consigam usá-lo depois de estudá-lo por um tempo – Lia'or sentou cruzando as pernas e colocando as mãos apoiadas nas coxas.

- Sim senhor – os dois encostaram os dedos na têmpora, batendo continência.

- Aperire ostium, me me ad templum aqua – Lia'or estava de olhos fechados e falava a mesma frase repetidamente até que o círculo começou a brilhar e o corpo de Lia'or foi ficando cada vez mais transparente até que sumiu por completo e o brilho de apagou.

Os dois soldados deram um soco no chão juntos, a sala começou a estremecer e eles saíram, deixando que o cômodo começasse a desmoronar, destruindo tudo que tinha ali.

O exército Selith caminhava em direção ao palácio, destruindo tudo o que viam pela frente até que se depararam com o exército de Lebrook. Helax estava na frente e comandava todos que estavam ali. Ele já estava preparado para não se entregar facilmente, mesmo sabendo que agora eles não teriam chances de ganhar aquela batalha.

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