Como vou sair daqui?

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"Seria então esse, o cheiro do sucesso? Vida ganha, casa, carro, nenhuma conta para pagar, nenhum filho... eu não poderia estar melhor. "

E foi assim que eu acordei naquela quarta-feira 15 de setembro de 2077, desci as escadas tranquilamente pois tinha acordado muito cedo e não iria trabalhar nas próximas 4 horas. Despreocupado como sempre sou, tomei meu café da manhã enquanto rolava a tela do meu folheto digital para ver se as notícias do dia falavam algo sobre eu não precisar ir trabalhar hoje, mas novamente só possuía informações esdrúxulas do tipo: "Mais um tratado de paz foi estabelecido entre os Estados dos Árabes Unidos e a Coligação Asiática", nada que me importasse muito.

Após alguns minutos decidi que seria melhor se eu saísse mais cedo para trabalhar, uma vez que, eu poderia voltar mais cedo. Novamente subi as escadas agora parando para reparar que a minha casa está uma bagunça, daqui do alto consigo ver as variadas pilhas de pratos que deixei na pia por lavar, desde que minha assistente virtual se foi, eu não tive tempo para comprar outra, e vendo daqui percebi que necessito de outra urgentemente. Continuei meu caminho andando pelo vasto corredor e vendo meus quadros se mexerem mostrando a infelicidade dos dias que se passaram, um mais a frente me mostrava algo que eu me lembrava bem, mas não como estava descrito na foto, a foto mostrava uma família feliz mas eu sabia que não era bem assim, porém as fotos mostravam exatamente isso, um momento, nada que pudesse ser constante. Segui meu caminho até o fim, passando por todas as portas até alcançar meu destino, o banheiro.

Ao abrir a porta percebi que esse cômodo era o mais arrumado da casa, devido a questões de higiene nunca deixei meu poço de roupas quebrar e sempre que acontecia, eu o trocava por outro, o poço tinha um funcionamento muito simples, você apenas jogava sua roupa lá e por um cano ele as despejava diretamente na máquina de lavar que assim seguia seu caminho até a secadora, e após secar iriam direto para o meu guarda-roupas. Eu amava aquele sistema, lembro-me de quando eu era uma criança, você que levava as roupas para a máquina de lavar, depois para a secadora e por último as levava para uma caixa enorme com portas, esse era o guarda-roupas da época, e ele nem escolhia suas roupas de acordo com o clima ou ocasião, novamente, era você   que tinha que fazer isso. Agora, tudo tinha mudado, o único esforço que eu fazia era tirar a roupa, o dia estava começando mas já começava a sentir os efeitos do resfriamento global, o dia estava muito quente e eu não via a hora de tomar um banho, me despi rapidamente desesperado por um banho e ao entrar na cabine esperei a água sair então após o 1° minuto permitido por lei, sai debaixo da água.

Indo em direção ao meu quarto, dei o comando ao meu armário para ele escolher minha roupa, devido a ocasião, escolho algo casual e que não me causasse desconforto durante o dia. Coloquei uma camisa social e dobrei as mangas, na parte de baixo uma calça jeans normal e um par de sapatos, pego minha bolsa e desço em direção a porta de saída. O dia estava normal lá fora, consegui ver poucas nuvens da janela, peguei meu celular na mesa e ao encostar a palma da mão nele, percebi que tinham 30 chamadas perdidas, logo deduzi que era do trabalho e retornei a ligação. Quem atendeu foi Ben meu assistente e disse que eu já estava atrasado, por se tratar de uma quarta eu teria uma reunião naquele dia, em um horário mais cedo que meu horário habitual. Já se passavam das 8 da manhã e como diretor e dono da empresa eu devia dar exemplos aos meus funcionários, mas isso quase nunca acontecia uma vez que, eu só chegava atrasado.

Peguei meu celular e o coloquei na minha pasta e sai apressado de casa quase me esquecendo de trancar a casa, passei meu cartão na fechadura e esperei o sinal de que a casa estava finalmente fechada. Corri até meu carro e ao chegar na porta lembrei que a chave tinha ficado em cima da minha cômoda, olhei em volta para ver se via alguém conhecido, mas a rua estava deserta, apenas um carro na rua, esquecendo esse detalhe voltei para a porta de casa. Tentei de todo jeito abrir a porta, mas o cartão que eu tinha usado para a fechar, insistia em não querer abrir a droga da porta. "Droga, eles fazem essas coisas para nos ajudar e só acaba nos retardando". Eu já estava desesperado, quando finalmente depois de mil tentativas consegui abrir. Entrei na casa e fui direto ao local em que tinha deixado as chaves, passo após passo me fizeram refletir sobre como já estava tão atrasado, talvez nem valesse a pena ir mais, a reunião já deveria ter acabado à essa hora, sentei no sofá com a chave do carro numa mão e um copo do vodca na outra, seria mais rentável para a minha saúde se afastar do trabalho pelo menos por um dia, eles conseguiriam se virar sem mim.

Ofuscado pela escuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora