Devo correr?

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Como não me restam alternativas eu continuo minha peregrinação em direção ao nada, mas agora, com uma pista, talvez eu pudesse confiar naquilo, já que quem me mandou tem algo haver com o porquê de eu estar aqui. Sigo com a cabeça em direção ao chão pensativo, sem razão para olhar para frente, uma vez que, a paisagem aqui nunca muda. Meus tênis estão um lixo, totalmente desgastados e acabados, assim como o resto da minha roupa, minha calça rasgada nos joelhos e minha camisa antes clara, agora de um tom marrom suja de lama e outras coisas. Meu cabelo nem se fala, não conseguia vê-lo mas sabia que não estava nada parecido com os dias anteriores, de quando eu saia para trabalhar ou simplesmente ficava assistindo televisão em casa deitado. 

Eu continuo com a cápsula na mão mexendo sem saber o que fazer, essa era sempre a minha situação eu nunca sabia o que fazer, antes em casa, no meu mundo particular, onde eu tinha dinheiro demais e tempo de menos, não sabia como administrar a minha vida, e agora, no meio do mato em um lugar onde eu não sabia onde era, largado sem nada apenas com esperança de ter uma vida digna. Minha vida antiga era boa, dependendo do que você chama de boa, eu tinha dinheiro, carro, casa, emprego, na verdade um dos maiores empregos do Brasil e eu era feliz, ou pelo menos achava que era. Eu não pensava mais em minha casa na minha vida antiga em como eu queria voltar eu sei que é cedo demais para falar isso, diante do tempo que passei aqui, acho que dois ou três dias mas era o que eu sentia, porque eu não queria voltar, eu queria uma vida nova eu não podia dizer que estava amando a situação em que me encontrava mas eu tinha esperança de que se eu me adaptasse eu conseguiria ter uma vida ótima ali. 

Tinha uma casa, um quintal enorme -modéstia parte, maior que a cidade de São Paulo, tá exagerei um pouco, mas era grande- lugar para plantar, comida, água... ÁGUA, isso, eu não tenho água, eu sei que se eu procurar consigo achar alguma coisa para comer, tinha os pássaros, eu podia me acostumar com carne de pássaro, é parecido com frango -pelo menos eu acho- , mas água, não achei nenhuma fonte de água. Esse era o plano, achar água, aquelas garrafas não iam durar para sempre, não tinha nenhum sinal de chuva, pelo menos não ontem quando deixei a casa, o céu estava limpo...

Se eu conseguisse uma pá eu poderia cavar um poço... E assim meus problemas estariam resolvidos, ou pelo menos o pior deles. Pensando no futuro esqueço do presente, e o meu presente está uma bosta, perdido ainda nessa floresta tendo um pedaço de papel digitado como pista de meu único lar. Vou continuando dessa vez variando um pouco o caminho, ao invés de seguir o que o papel disse eu tento andar para os lados, não vou fazer o que eles querem vou seguir meu próprio caminho. Enquanto provoco eles vou prestando mais atenção no caminho, principalmente nas árvores e assim finalmente vejo que são diferentes há vários tipos mas ainda nenhuma que me chamasse atenção suficiente para parar.

Queria achar alguma planta que desse frutos mas depois do recém fracasso com isso fico receoso com o que posso achar, mas não desisto. Uma semente bastaria para que eu conseguisse plantar perto da minha casa assim, prolongando meu estoque de comida. Mas recebia nenhum sinal de que isso fosse possível, percebo que estou caminhando por muito tempo sem fazer nenhuma pausa, mas eu não poderia parar até achar algo, e eu finalmente acho. A saída. Isso mesmo, não consigo acreditar que finalmente achei um jeito de me livrar desse inferno monótono. Corro em direção ao descampado como se minha vida dependesse disso, mas aí percebo que estava muito bom para ser verdade, a vida tinha me pregado uma peça, era apenas uma clareira, um pequeno espaço de terra sem árvores, apenas grama e o céu limpo acima de mim.

Ser enganado fazia parte isso não ia me desmotivar, aproveitei o espaço para sentar e relaxar, se é que isso era possível, meu coração estava à mil e por causa da adrenalina e da fome minha cabeça doía muito, como eu fui burro em deixar a minha mochila para trás, eu deveria ter trazido ela comigo, mas a curiosidade em descobrir o que era a droga da luz foi maior que tudo e agora eu estava prestes a morrer, sinto o mundo girar em torno de mim, minha cabeça doer muito mais e tudo escurecer.

Ofuscado pela escuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora