Pare!

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- Relaxa, já estamos chegando. Eu não sei como posso afirmar, mas sei que estamos.

Tomara que seja verdade, pois meus pés estão doendo muito. Já se passou um dia inteiro e a gente não parou de andar, nem para comer. Thomas está destinado a chegar no lugar (aonde quer que seja) ainda hoje.

- Está bem, mas a gente não pode parar um pouco ? Estou com calos nos pés. - Digo olhando para baixo.

- Quem é a princesa agora? - Thomas dá uma risada, que me faz querer morrer. - A propósito... Porque você insiste em me chamar de Cinderela, se nem loiro eu sou. Não era para ser Bela Adormecida?

- Então, se lembra da primeira vez que nos vimos? - Ele me interrompe.

- Claro, como eu poderia esquecer, um cara que se jogou em cima de mim e quase quebrou meu braço.

- Você estava dormindo parecendo uma princesa, o primeiro nome que me veio na cabeça foi esse. Nem sei o porquê.

- Claramente você não sabe o porquê. Você nunca assistiu esses filmes antigos? Cara você está muito errado, na Cinderela ninguém dorme. - Thomas fala com um tom de decepção.

Quase não consigo ouvir sua última fala pois estou imerso nos meus pensamentos, pensando sobre a estrada, sobre a cabana... e até sobre a minha vida após tudo isso. Ando mais de vagar porque não consigo conter a dor dos meus pés, e bem nesse momento, sinto um formigamento por todo o meu corpo, como se algo de estranho fosse acontecer. Ignoro a sensação e fico ali em pé parado, esperando a dor aliviar, enquanto isso Thomas continua andando e conversando sozinho.

- Ei ! - Digo quase o perdendo de vista.

Ele volta na minha direção correndo.

- Tá tudo bem cara? Você consegue andar mais um pouco? Estamos quase chegando, o chão até já está ficando mais arenoso, o rio deve estar aqui por perto.

- Acho que se eu andar mais um pouco vou desmaiar.

- Então tá, a escolha foi sua.

Thomas vem em minha direção, e me agarra pela cintura, me levantando. Ele me coloca em suas costas, e segue andando. Não sei como ele consegue fazer isso, eu tenho quase o peso dele. Certamente ele estava mais bem preparado do que eu. Reclamo, mas sem forças, perco a luta, ele não me coloca no chão. Dá para sentir seu esforço, mas ele ignora todos os meus avisos.

***

Finalmente consigo ver o rio, ele estava certo, não estávamos muito longe, acho que agora podemos descansar. Thomas me deixa no chão embaixo de uma árvore, não muito longe da água e sai de perto para olhar mais o lugar. Estou exausto, tudo o que eu penso é em dormir, mas ele precisa de mim, eu não posso abandoná-lo não depois disso tudo. 

- Encontrou alguma coisa?

Ele está afastado mas consegue me ouvir.

- Nada demais, apenas algumas árvores.

Ele está vindo em minha direção, e enquanto observo a cena, a luz do sol parece se intensificar, e a cada segundo a mais vou perdendo a minha visão. Até que tudo fica branco e eu bato com a cabeça no chão.

***

Ainda é de manhã, mas Thomas está lutando para acender uma fogueira quando acordo. 

- Por que você está querendo ascender isso? Ainda vai demorar para escurecer. - Eu digo me levantando devagar.

- Escurecer? Cara, acabou de amanhecer.

- P... Por q... quanto, - as palavras parecem não querer sair da minha boca-  quanto tempo eu dormi ?

Ofuscado pela escuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora