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Cale-se.

Jimin era mudo, mesmo que pudesse falar, ele era um mudo. As vezes também se sentia cego.

Gostaria de fazer parte de outra realidade, uma realidade menos morta. Era difícil acordar calado, porque na calada da noite seus monstros o perturbavam.

Cale-se.

Como poderia falar o que estava sentindo, se ao fechar os olhos conseguia ver um monstro emergir da lagoa? O sangue lhe corroía os braços, mas estava tudo bem.

O que podia fazer? Ele não estava no padrão.

Cale-se.

Ele não amava da maneira certa.

Cale-se.

Ele era bonitinho, mas ainda assim era feio.

Cale-se.

Ele tinha voz, sabia que algo estava errado, mas era mudo perante a sociedade.

Cale-se.

Jimin sentia vontade de morrer, morrer do próprio veneno. Embriagar-se até que todos os esquecessem e aquela palavra presa na garganta se dissipasse.

Esquecer.

Talvez uma pessoa fosse lembrar de si. Namjoon. Ele havia se afastado do cálice e as vezes aparecia, dizia que estava tudo bem, que ele era bonito, que ele era maravilhoso. Que ele não deveria se manter calado quando tinha tanto a oferecer, mas.

Cale-se.

Sua boca estava calada, silenciada, entretanto sua cabeça ainda pensava. O que tinha de errado consigo? O cálice de vinho parecia ser feito de sangue, mas ele não podia afastar aquela praga de si.

Como tragar aquela dor e engolir a labuta?

Cale-se.

Bebia forçadamente um pouco daquilo todos os dias, mas ainda assim, algo estava errado. Ele estava morrendo aos poucos com todo aquele veneno e sentia-se preso, não tinha como escapar.

Cale-se.

🍷

Olá,

Eu sei que Cálice é uma música que fala sobre a ditadura militar, mas eu tentei falar da ditadura de padrões que nos cerca.

Não sei se fiz isso da maneira certa e se vocês vão conseguir entender algo, mas eu tentei e acho que atingi o que imaginei.

Essa é mais uma one-shot para o desafio Brasileifics – que se consiste em fanfics de k-pop inspiradas em músicas brasileiras. Caso esteja interessado, chame no privado da svtherin ou no meu.

Espero que tenham gostado,
Maduh.