Capítulo 7

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Sol entrando pelas janelas. Calor logo de manhã. Algumas dores pelo corpo. Demora alguns segundos para que eu abra meus olhos e me dê conta de que tudo o que aconteceu no dia anterior fora real. Não fora só mais uma noite em meu dormitório em Durham sonhando com Normani. Ela estava comigo. Ela deixou que eu visse seu rosto sem nenhuma máscara. Ela me deixou que eu a visse de verdade pela primeira vez.

Olho para os dois lados da enorme king size onde estou deitada, mas estou sozinha. Passo minha mão pelo lençol bagunçado ao meu lado, que agora está quente apenas pela luz do sol que bate direto nele. Era para Normani estar aqui. É apenas a segunda noite que dormimos juntas, mas já é estranho acordar sem ela.

Empurro minha preguiça para o lado e me levanto, colocando meus pés descalços sobre a madeira quente do chão, também aquecido pelo sol. Olho para o relógio e percebo que não passa das dez da manhã, embora a temperatura já esteja bem alta. Os dias na Carolina do Norte são assim no máximo umas cinco vezes ao ano, e nunca a essa hora. Isso tudo me faz sentir um pouco de falta da Califórnia e pensar em meu pai e minhas irmãs.

Sei que Mary é uma ótima figura materna para Kamila e Regina, mas eu ainda sinto como se este papel coubesse somente a mim. Eu deveria estar lá para fazer por elas tudo o que minha mãe fizera por mim antes de partir. Solto um suspiro resignado e sinto meu coração se apertar com todos os pensamentos que me inundam de repente. Sinto falta dela. Gostaria que ela estivesse aqui para me guiar em alguns momentos. Para me dizer o que pensa sobre as minhas escolhas.

Eu continuo deixando que meu coração escolha por mim, mamãe. Eu prometo. Eu não vou te decepcionar.

Eu digo aquilo em meus pensamentos, levando minha mão até meu pescoço para agarrar a medalhinha que minha mãe me dera no meu aniversário de dezessete anos. A seguro com o máximo de força que posso fazer sem a arrebentar de meu cordão e fecho meus olhos, fazendo uma pequena oração em seu nome antes de começar o meu dia.

Depois pego meu celular e ligo para o número de casa. Santa Ana, Califórnia.

– Alô?

– Bom dia, Mary. – Posso ouvir uma pequena risada do outro lado do telefone e depois um grito de Regina.

– Bom dia, Dinah! Que bom que você ligou, seu pai estava preocupado.

– As meninas já estão acordadas a essa hora? – Se são dez em Orlando, ainda são sete na Califórnia.

– Sim, é segunda-feira. – Mary ri mais uma vez. – Kamila está indo para o treino de futebol e vai deixar Gina na escola. Você está bem?

Ah, claro. Hoje é segunda-feira. Estar presa nesse paraíso particular que Normani chama de casa, quase me fez esquecer de como funciona o mundo lá fora. Talvez também por isso acordei sem ela ao meu lado esta manhã. As pessoas trabalham na segunda-feira.

– Ah, claro. – Eu forço uma pequena risada. – Eu estou ótima, aproveitando a primeira semana de pausa da universidade. Quando elas vão parar?

– Provavelmente na última semana do mês, mas Mila ainda tem um jogo importante. Ela está muito ansiosa. – Eu ouço um "deixa eu falar com ela" e algumas manhas de Regina do outro lado da linha, o que me faz sorrir. – Elas querem falar com você.

– Dinah! – Kamila diz com um tom de voz muito animado para esta hora do dia. Meu peito se enche de saudade.

– Oi, Mila. Como você está? Mary estava me contando sobre o jogo.

– Eu tô tão animada! A gente vai acabar com aquele timezinho de San Diego. Queria tanto que você estivesse aqui pra me assistir! – A animação em sua voz me deixa com o coração ainda mais apertado. Na verdade, estou feliz por saber que ela está tão bem, mas ainda queria estar lá.

1501Onde histórias criam vida. Descubra agora