Eu, Cinderela?!

Contos de Fadas

−E lembre-se minha pequena, os contos de fadas sempre escondem um segredo.

Era uma coisa que meu pai sempre falava para mim. Na verdade, nunca entendi direito o porquê. Os contos de fadas são óbvios, ela é a mocinha, aí vem o vilão querendo destruir alguma coisa, e o príncipe salvando a amada e todo o mundo vive feliz pra sempre. Quando meu pai ainda estava vivo, eu gostava muito desses contos, principalmente da história da Cinderela, mas depois que eu comecei a viver sua história, eu simplesmente passei a detestar tudo isso. Principalmente a parte em que ela é a empregada.

Eu estava na casa de Michelle, terminando de embrulhar minhas coisas. Thalia estava ali comigo me ajudando. Faltava só mais uma semana para a formatura e eu estava totalmente desanimada. Thalia iria para Stanford, como nós duas tínhamos tanto sonhado, e eu ficaria aqui em NY. Voltarei a trabalhar em alguma coisa. Percy iria para University of Califórnia. A única coisa boa nisso tudo, é que eu teria Thalia para ficar de olho no Percy. Os dois iriam para Califórnia dentro de algumas semanas. Eu estava desesperada, todo o meu sonho de sair daqui foi por água a baixo. Papai ficaria decepcionado comigo.

−Ei! – Thalia me chamou. –Olha só o que eu encontrei. – Fui até ela, e uma caixa antiga com livros de quando eu era pequena se encontrava ali.

Peguei a caixa meio nostálgica e sorri, lembrando-me das noites em que meu pai ficava lendo até tarde para mim.

Olhei livro por livro. Tinha Chapeuzinho Vermelho, Rapunzel, Alice no País das Maravilhas, e o meu favorito: Cinderela. Passei as páginas rapidamente e depois coloquei de volta na caixa o guardando.

—Faz tanto tempo... – murmurei secando as lagrimas.

—Eu sei, e olha só para você agora. Está crescida e responsável. Seu pai se orgulharia. – Thalia reconfortou-me.

Sorri de lado ainda triste. Será que ele se orgulharia mesmo? Isso é o que mais dói. Nunca ter essas respostas.

—É... Acho que sim. – Terminei de fechar as caixas que estavam abertas e terminamos de descer as caixas.

Não tinha ninguém em casa, o que para mim foi um alívio, não estava a fim de olhar para cara de nenhuma das mostrengas. Deixei minha chave da casa em cima da mesinha na sala e olhei em volta. A casa estava uma bagunça. Nem me surpreendi quando a vi assim, nenhuma das três tinha capacidade de lavar um copo. Fico até hoje imaginando – ou tentando pelo menos- o que meu pai viu na Michelle. Por que eu não consigo ver nada.

Saí de lá fechando a porta e me afastando de tudo que tinha ali. Guardamos o resto das caixas no banco de trás do carro, joguei a chave do carro para Thalia e entrei no lado do carona.

—Você sabe que não tem que se preocupar né? – Thalia falou.

—Com o que exatamente?

—Você sabe que meu pai não vai se importar se você ficar lá em casa, acho que ele vai ficar é feliz, assim Jason não ficará sozinho. Não que ele precise de companhia, mas ainda sim...

—Eu sei Thals, mas eu não posso ficar lá. Preciso achar meu lugar. – Recuso a oferta mesmo sendo extremamente grata por ter Thalia e a família dela por me ajudar.

—Eu sei. – Ela responde olhando para a estrada.

Eu tinha uma semana para achar um lugar para mim. Uma semana para concluir o colegial, e só mais uma semana com meu namorado. Depois só no próximo verão. Esses sete dias, era a única coisa que eu tinha nesse momento. Depois disso eu não tinha noção do que fazer da minha vida. E logo eu que sempre fui muito certa do que queria.

—Mas e você, hein? – Perguntei agora com um sorriso sapeca no rosto. —Eu sei que não vai ficar no campus, vai ficar onde então? – Perguntei já sabendo da resposta. Depois da festa na casa do Di Ângelo, ela chegou – de manhã- toda alegrinha e claro que me contou o que aconteceu entre eles. Fiquei tipo “OH MY GOD”. Já sabia desde que esses dois começaram a sair que eles acabariam juntos.

—Ah, sabe... – ela começou enrolando. —O Nico...

Comecei a gargalhar dela. A Thalia nunca fica nervosa e tímida. Ela começou a rir junto.

—Ok, sim. Vou ficar no apartamento do Nico.

Nico iria fazer faculdade na Columbus, todos na Califórnia. É claro que Thalia não iria recusar uma oferta dessas. E, Nico por ter conseguido passar na Universidade, ganhou dos pais um apartamento, para não ter que ficar nos quartos do campus. E depois da noite da festa, é claro que ele não deixaria a namorada dormir nos quartos compartilhados.

—Hm, safadinha! – Digo rindo.

Thalia entra na garagem da sua casa e grita Jason para nos ajudar com as caixas. O loiro aparece na garagem e nos ajuda a levar as coisas para o quarto de Thalia, mas não mexo em nada. Sei que vou poder ficar ali pelo tempo que eu precisar, mas não quero que seja muito tempo, espero encontrar logo um lugar para mim.

Depois que subimos todas minhas coisas – que ficaram tudo dentro do enorme closet da Thals ainda dentro das caixas, Thalia foi para o banho e eu desci na cozinha para comer alguma coisa.

Peguei a pizza de ontem que estava na geladeira, um copo de refrigerante e fui para a sala assistir alguma coisa. Fiquei passando os canais até achar algo de legal na TV. Estava passando Castle na Sony, então resolvi deixar ali mesmo.

Estava assistindo ainda, quando Thalia desceu toda produzida. Vestia uma calça de coro colada no corpo, uma blusa também preta com a estampa do álbum American Idiot do Green Day, e uma jaqueta de coro. E meio nada a ver com toda a produção, ela vestia seu bom e velho All Star preto. Ficaria melhor se ela estivesse de salto, mas é a Thalia, ela nunca está do jeito que todo mundo espera.

—Nossa! Tudo isso só para ver o Nico? – Perguntei com sorriso sapeca no rosto.

—Cala sua boca, Annabeth. – Afiada, e super carinhosa como sempre. Essa é a minha Thalia.

—Você está linda. – Disse para ela.

—Obrigada! E me deseje sorte. – Ela disse, e a buzina soou lá fora.

—Você não precisa, mas boa sorte. – Desejei a ela. E mandei um beijinho para ela.

—Não me espera, não sei se volto. – Disse indo abrir a porta.

—Use camisinha! – Gritei quando já estava fechando a porta.

Quando ela saiu, fiquei sozinha em casa. Jason estava na casa da namorada, tio Zeus e tia Hera, estavam viajando, e até a empregada estava de férias.

Terminei de assistir o episódio e depois deixei o copo na cozinha e voltei para o quarto. Me joguei na cama cansada, olhei para o closet da Thalia que estava aberto e vi a caixa com os livros da minha infância ali, e acabei me lembrando das noites em que meu pai ficava lendo para mim. Era tão bom...

Me levantei fui até o closet, peguei a caixa e voltei para a cama me sentando nela. Abri e peguei meu livro favorito da Cinderela. Fiquei um tempo olhando para a capa, e então comecei a folheá-lo. Vi uma lagrima minha pingar na folha e me toquei que estava chorando. Limpei meu rosto com a manga da blusa e passei na folha também. No ato, deixei o livro cair no chão e me inclinei para pegar e uma folha caiu de dentro do livro.

Peguei a folha que tinha caído e comecei a ler. Involuntariamente um sorriso se formou no meu rosto, e quando terminei de ler, não pude deixar de rir. Rir muito, de felicidade. Meu pai tinha razão, os contos de fadas escondem mesmo um segredo.

E finalmente, meu final feliz estava começando a se realizar.