Constelações

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Chegamos à casa do Nico que estava cheia e a música alta acabava com meus ouvidos. Todos os alunos da Good estavam por ali. Ainda não tinha ninguém bêbado o suficiente para fazer besteiras, mas muitos já estavam todos alegrinhos. Percy me abraçou de lado colocando o braço em meu pescoço, e eu me encolhi nele, me sentindo confortável em seu abraço. Olhei ao redor procurando Thalia ou Nico, não que não confiasse nele, mas Thalia tem mania de ser inconsequente, e isso não é muito legal.

Revirei os olhos quando os encontrei quase se comendo em público. Puxei Percy comigo para perto deles.

—Vão se comer em um quarto. – Disse alto por cima da música.

Eles se separaram, e Thalia se virou para me olhar.

—Tem razão. – Disse e depois olhou para o “Ficante”. —Vamos para seu quarto.

Ele olhou com os olhos arregalados, eu fiquei de boca aberta, e Percy olhou para Nico quase como que dissesse “o que está esperando aí ainda? ”.

—Thalia! – Disse exasperada.

—É brincadeira. – Ela disse jogando os braços para cima como que se rendendo.

Revirei os olhos.

—Nico. – Disse olhando para ele. —Espero que seus pais não cheguem cedo. Não estou a fim de arrumar a casa de ninguém.

—Há, há. Não se preocupe. Não vai. – Respondeu.

Um sorriso brotou em meu rosto. Ainda me lembrava da cara dele de nojo quando foi limpar os banheiros. Começou a tocar Jesus Of Suburbia do Green Day, e Thalia deu um grito.

—Vem. Eu amo essa música. – Disse puxando o Nico. O coitado nem conseguiu protestar.

Sorri, e senti as mãos de Percy em minha cintura me puxando para ele. Abracei seu pescoço e me perdi no mar de seus olhos.

—Quer ir para um lugar mais calmo? – Ele me perguntou próximo a minha orelha com a voz rouca, que fez um arrepio muito bom descer em minha espinha, me fazendo esquecer de como se respirar, então apenas balancei a cabeça positivamente.

Ele me levou para a parte de trás da casa do melhor amigo. Tinha uma única árvore. Grande e forte, como se estivesse ali há muito mais tempo que poderíamos imaginar. Em cima dela nos galhos baixos e mais resistentes tinha uma pequena casinha de madeira, com uma pequena escada de corda estendida até o chão.

—Eu e o Nico a construímos quando tínhamos dez ou onze anos. – Relatou.

—É linda. – Disse ainda olhando para o alto.

—Vem. – Disse me puxando. —Primeiro as damas. – Revirei os olhos com o comentário. Sim, eu achava muito fofo esse jeito galanteador.

Lá dentro era pequeno, mas alto – dava para ficar em pé sem bater a cabeça no teto da casinha, mas ainda sim pequeno e vazio. Não tinha nada além de um pequeno baú aberto com vários brinquedos de menino. Ele se sentou no chão, e eu o acompanhei me sentando ao seu lado. A música já não era tão alta ali, mas ainda dava sentir as batidas dela.

—Sabe, você é a segunda menina que eu trago aqui.

Eu olhei para ele com os olhos arregalados e ar de indignação. Não acredito que ele iria mesmo falar da Drew.

—A primeira foi minha mãe. – Completou rapidamente quando me olhou. Soltei o ar e relaxei.

—Me sinto lisonjeada por saber disso. – Disse encostando minha cabeça em seu ombro. Ele me envolveu com seus braços e a sensação de conforto e estabilidade se apossou de mim novamente. Ele não respondeu, mas senti seu sorriso.

Ficamos em silencio por alguns minutos, aproveitando o calor um do outro. Então o ouvir suspirar e me afastei para olha-lo.

—Sabe. – Ele começou antes que eu perguntasse alguma coisa. —Eu sempre tive medo. Medo de amar e acabar como meus pais. Sempre tive receio de amar e depois ser machucado, mas aí eu conheci você. Conversar com você durante as longas noites em que eu não conseguia dormir, ou quando ficávamos conversando durante longas horas durante o dia, me fez ver que talvez gostar de alguém fosse bem mais que só casar e viver na mesma casa. Era na verdade aproveitar cada momento que tem com ela ao seu lado. Era sempre fazer do dia algo especial, algo inesquecível. Era assim que eu me sentia, quando falava com você. – Ele respirou e se virou ficando de frente para mim. — E hoje, quando você falou aquilo para mim no vestiário, eu tive medo de não me sentir vivo novamente. E por isso te peço desculpa. Desculpa por ter demorado tanto para perceber que era isso que eu queria. Que eu queria você.

Eu fiquei olhando para ele sem reação. Ele não disse as três palavras, mas o efeito foi o mesmo. Não me dei o trabalho de ficar pensando muito. O abracei forte e lhe beijei. Um beijo calmo e cheio de carinho.

—Também quero você. – Sussurrei para ele.

—Quero te mostrar uma coisa. – Ele disse e se levantou indo até a janela. Puxou uma pequena corda que tinha, e o teto da casa começou a abrir, revelando um céu estrelado. Fiquei admirada. Nunca tinha visto o céu de NY tão estrelado.

—É lindo. – Sussurrei, enquanto ele voltava para o meu lado.

Ele se sentou ao meu lado. Fui até ele e me sentei no meio de suas pernas, com a cabeça encostada em seus ombros e seus braços ao meu redor.

—É, é sim. – Sussurrou de volta.

Ficamos assim, admirando as estrelas, procurando as constelações mais conhecida, e teve uma que me chamou a atenção.

—Está vendo aquela? – Disse apontando para ela.

—Qual?

—Aquela que parece uma menina com arco e flecha.

Ele olhou ainda procurando e depois sorriu quando viu.

—Minha mãe me contou uma estória sobre essa constelação. – Zoë. Esse é o nome da menina, ela se apaixonou por um cara e ele a magoou e por essa causa ela se tornou uma caçadora, um grupo que detestava os homens. Numa batalha que ela e as caçadoras foram, seu pai a matou. Em seu leito de morte ela olhou para o céu onde viu muitas estrelas. E logo depois se foi. Ártemis, a chefe das caçadoras a abençoou e lhe proporcionou seu último desejo a transformando na constelação, onde ninguém jamais se esqueceria de seu heroísmo.

—Nossa. Que lindo. Triste, mas lindo.

—É. Minha mãe costumava contar essas estórias para mim antes de dormir.

—Sabe que não foi culpa sua não sabe? – Perguntei me virando para olhar para ele.

—Sei, mas às vezes fico me pensando: E se eu não tivesse ido para aquela festa, se não tivesse bebido ela ainda estaria aqui.

—Não pode ficar se culpando dessa forma. Ela não iria querer isso.

—Tem razão. – Disse e me deu um beijo na testa. —Obrigado.

Sorri e me aproximei mais de seu rosto, passando minhas mãos em seu rosto e depois se perdendo em seus cabelos. Puxei ele para mais perto e lhe beijei. Um beijo calmo e devagar, como se tivéssemos todo o tempo do mundo.

Separei-me dele, e me virei encostando a cabeça em seu ombro. E assim ficamos em um silencio confortável, olhando para o céu estrelado, apreciando a presença um do outro.

Eu, Cinderela?!Onde histórias criam vida. Descubra agora