Capítulo Nove

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Kaleo

Eu colidi com ela de propósito, claro que ela não sabia disso.
Quando eu a vi na calçada ela estava com um meio sorriso, distraída com algo escrito na parte traseira de um livro e com uma sacola na outra mão, que continha algo retangular, provavelmente outro livro. Isso me deu algumas idéias, pelo que eu observei dos humanos, você agrada uma mulher de formas diferentes.
Ela estava linda, com uma camiseta comprida cinza, calça justa preta e sapatilhas combinando, os cabelos balançavam com o vento, livres. Então nos esbarramos e ela se apressou em se desculpar, até dar uma olhada no meu rosto e perder a fala. Então ela me reconhecia, me senti estranhamente feliz por isso. Eu sorri e secretamente me regozijei com o belo trinado de sua voz, não era daquelas vozes tediosas ou anasalada. Era linda como ela.

Ela realmente me olhou desta vez, como se não fosse me ver nunca mais, e eu me embebi de seus olhos cor de chocolate para que pudesse me lembrar com exatidão de suas feições. Depois de nosso encontro inusitado eu agora estava caminhando de volta, já estava quase na praia novamente, pensando e como seria a partir de agora, como me aproximaria mais dela, seu nome eu já sabia, Angelina, o qual combinava perfeitamente com sua aura agradável . Mas eu queria entender também sua tristeza, aquele olhar que eu vira na praia, um olhar desolado de quem perdera alguém, e eu me perguntava quem seria.

Eu cheguei na praia e fui em direção aos rochedos onde poderia entrar na água (e não voltar) sem ser visto, precisava falar com minha mãe, ouvir sua opinião e seus conselhos. Acreditava que ela poderia me ajudar a entender minha inusitada descoberta. Entrei na água com minhas roupas normais, que se desvaneciam cada vez mais à medida que eu mergulhava mais profundamente, e no lugar das minhas pernas humanas, surgiu minha cauda de cor azul iridescente, cheia de escamas grossas e afiadas. Eu amava minha forma natural e estava começando a me acostumar com a forma humana também, precisava saber como agir ao redor dos humanos, e para isso precisava conversar com Kaya novamente.

Cheguei rapidamente onde eu queria e atravessei a redoma protetora que nos escondia dos olhos curiosos, e também fornecia oxigênio para aqueles que queriam manter sua forma humana mesmo aqui embaixo. Era possível com nossa tecnologia científica, alterar quimicamente o corpo humano, misturando o nosso DNA para que eles pudessem viver conosco, serem um de nós. Assim, aqueles a quem alguém de nosso povo escolhera para ser seu companheiro( ao qual automaticamente sua alma se desligava de seu Predestinado, para que não houvessem conflitos posteriores) podiam caminhar tranquilamente sob nossa proteção.

Entrei no palácio e fui até os aposentos de meus pais.

- Entre Kaleo, abençoado seja

- disse minha mãe antes que eu pudesse chama-la. Era sempre assim, ela raramente era pega desprevenida, seu dom era pressentir almas e até mesmo buscar uma específica em qualquer lugar do mundo, entre outras coisas que eu desconhecia...

- Olá mamãe.

- O que o aflige, meu amor?- ela perguntou.

- Eu a encontrei, mãe.- disse com o pulso acelerado.

- Ah, sim. Posso ver sua alma conectada à dela. Minhas felicitações, meu filho.

- Obrigada mamãe. Mas tem algo diferente, ela é humana.

- Eu vejo. Você esta preocupado, pois isso nunca aconteceu. Ou nunca foi revelado antes.

- Sim- eu digo.

- Kaleo querido, isso não é algo para tirar sua paz de espírito como tem feito, criança. Achei que tinha entendido, que tudo acontece à seu próprio tempo e por um motivo - ela diz carinhosamente

- Tudo bem mamãe, vou tentar ver deste modo. Só precisava falar com você e desabafar.

- A qualquer hora querido, a qualquer hora.

Sigo então para meu próprio quarto, onde sei que terei sonhos agradáveis com olhos chocolate e lábios de botão de rosa...

O Filho do Mar🌊🐠A Child Of Sea Book One🐙{Concluído}🌊Onde histórias criam vida. Descubra agora