Cap. VI - Ronald

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Ronald acordou bem mais cedo que de costume e ficou se revirando em sua cama de palha, sem conseguir adormecer novamente, aguardando ansiosamente que Firo abrisse seu olho, trazendo luz ao novo dia. Quando finalmente ouviu os passos do pai já estava completamente desperto. Pulou da cama, foi até onde sua mãe já tinha separado suas roupas no dia anterior e se vestiu rapidamente.

– Oh! Eu já ia te chamar, Ron.

Ronald sentou no banco enquanto o pai terminava de ferver a água do chá de raízes que sempre tomava antes de sair para o serviço. Colocou um pouco do líquido fumegante em uma caneca e deu ao menino, junto com um pão preto.

Ronald se forçou para comer um pouco, na verdade estava tão ansioso que sentia o estômago desconfortável e teve que tomar muito chá para ajudar o pão a descer. Terminado o desjejum saíram de casa.

O castelo ficava a dois quilômetros. Caminharam devagar pelas ruas da cidade ainda adormecida. O sol não tinha nascido por completo e as ruas estavam sob uma fina camada de neblina, o que fazia a cidade parecer fantasmagórica. Poucas vezes Ron estivera andando pelas ruas tão cedo e pequenos arrepios percorriam sua coluna se instalando na nuca fazendo com que seus cabelos ficassem ainda mais arrepiados.

Quando os portões do castelo apareceram ao fim da rua o menino teve um novo arrepio e abraçou o próprio corpo. A ponte levadiça estava baixada e outros funcionários do castelo chegavam junto com Jason e seu filho. Ron caminhou pela ponte tentando ver o rio em baixo, mas a água estava coberta pela neblina então ele não pode ver nada. Ao passar pelo portão Ron prendeu a respiração de susto.

– Calma, Ron. Ele não vai machucá-lo.

Um imenso dragão estava do lado de dentro, bem atrás do portão, sentado sobre as patas traseiras com o corpo estendido no chão. Todos que entravam passavam na frente das narinas fumegantes do animal para que ele os cheirasse, examinando se traziam algo proibido ou perigoso. Ron passou por ele quase sem respirar, como se sua respiração fosse assustar o animal ou incomodá-lo.

– Tudo bem Ron. Ele vai só cheirá-lo.

O pai o incentivou a continuar e tudo que Roni não queria era desagradar seu pai antes mesmo do dia começar. Então juntou toda sua coragem e obrigou suas pernas continuarem em movimento. Ronald nunca tinha chegado tão perto de um dragão.

O animal tinha a pele acinzentada e olhos azuis água e Roni não sabia a quem ele pertencia. As imensas narinas abriam e fechavam a cada pessoa que passava por ele. Pequenas colunas de fumaça saiam por elas e Roni sentiu a quentura do animal quando se aproximou.

A primeira coisa que lhe chamou a atenção foram os olhos, mas logo procurou outro ponto para se concentrar, é perigoso olhar diretamente os olhos de um dragão, ele pode o hipnotizar. Então Roni voltou toda sua atenção para os pequenos chifres que saiam do lado das narinas. A boca do dragão se matinha fechada, mas quatro presas ficavam para fora, eram tão grandes que não cabiam dentro da boca, mesmo esta sendo imensa.

Ronald estava olhando para as presas e quase podia tocá-las, na verdade ele estava com muita vontade de tocar o animal, mas manteve suas mãos bem rentes ao corpo, mesmo quando do dragão fez um movimento inesperado e entreabriu a boca.

– Garoto, pare!

Roni não precisava que ninguém lhe mandasse parar, suas pernas estavam paralisadas e seus olhos se mantinham fixos nas duas fileiras de dentes dentro da boca entreaberta do animal.

– Ele está comigo! É meu filho!

A voz do pai parecia incrivelmente distante. Um pequeno tumulto começou a se formar, guardas chegavam mais perto, mas Roni não via nada disso. Finalmente o dragão lançou sua língua para a direção de Roni. A língua era como um braço e passou pelo rosto de Roni deixando-o levemente úmido. Roni deixou-se ser lambido, a língua úmida e quente lhe trouxe uma sensação muito reconfortante. Isso tudo aconteceu em cinco segundos. Depois disso o dragão recolheu sua língua e se concentrou no próximo da fila. Ronald recuperou o comando das pernas e continuou a andar. Um homem baixo e parrudo estava ao lado do dragão. Sorriu para Roni.

Escamas de SangueWhere stories live. Discover now