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00h 43m

Melissa saiu do quarto, chegando ao corredor como se acabasse de emergir do fundo de um rio. Respirou o ar mais frio que havia ali fora e com certa dificuldade trancou a porta atrás de si. Ao abrir os olhos, finalmente ela vomitou, caindo ajoelhada logo em seguida. Enquanto tentava respirar, ela acionou o controle remoto na chave do carro e ouviu o barulho lá fora, de que este estava destravado. Melissa teve um pouco de esforço para levantar e dirigiu-se lentamente até a porta. Ao chegar perto ela reparou que algo estava errado. A cabeça da garota morta estava sendo devorada pelos ratos ainda, mas parecia se mexer. Emitir sons. Então era isso que acontecia à meia noite? A entidade maligna despertava e com ela trazia outras para possuírem os corpos dos mortos?! Sim.

- Maldita cabeça, malditos pastores, malditos demônios...

Melissa balbuciava palavras desconexas, mas, dentro de seu transe momentâneo, ainda não havia reparado que apenas a cabeça estava ali, mas não o corpo. E era tarde demais para lembrar disso. Não se sabe saído de onde, o corpo da garota decapitada veio correndo em direção à Melissa, enforcando-a por trás com as duas mãos, não lhe dando chances de se defender ou gritar. Com dificuldade Melissa apontou a espingarda para a barriga daquela criatura abominável que já não tinha mais traço algum de humanidade, e apertou o gatilho. Nesse momento o corpo foi dividido em dois, dando um verdadeiro banho de sangue e vísceras decompostas na garota, que caiu sentada e tentando inspirar. Por fim, para sua surpresa e horror, a parte de cima daquele corpo, composto apenas por seu abdome, peito, ombros e braços, continuou se arrastando em sua direção, deixando um rastro negro de sangue e restos. Mas a cabeça no chão, ainda cercada por ratos, emitia ruídos que não poderiam de forma alguma serem associados a algo humano.

Melissa caminhou em direção à saída ,através da chuva que ainda caía e da lama que já chegava à metade de suas canelas, e finalmente entrou no carro do pastor. Engatou a marcha ré, e acelerou no meio da escuridão, para longe da cabana, que agora tinha fumaça e chamas bem visíveis, apesar da chuva incessante. O aperto em seu pescoço havia sido muito forte, e a garota exausta, tossia, fazendo um considerável esforço para respirar naquele momento. Então, quando já havia se afastado vários quilômetros da cabana, eis que percebeu um baú pequeno no banco do carona, ali ao seu lado. Ela pensou e sem esforço conseguiu lembrar do que se tratava: Era o maldito baú que Abigail usara, aquele que guardava o tal baralho. Sem pensar, atirou-o pela janela, mas quando voltou os olhos para a estrada escura, a iluminação dos faróis não a ajudou a perceber um grande tronco de árvore atravessado na pista. Ao tentar desviar, derrapou e bateu contra uma outra árvore. Tudo ficou escuro.


Banho De Sangue - Um Conto InfernalOnde histórias criam vida. Descubra agora