QUATRO

21 9 38
                                    

14h 30m

- Oh de casa, tem alguém aí? – Ouviu Melissa, enquanto terminava de comer a lasanha deixada por Antônio. Uma voz masculina lá fora cortou o silêncio que havia perdurado desde quando a garota sem nome dormiu. Melissa observou, mais uma vez pelo buraco da porta. Havia um senhor de meia idade lá fora, e um homem mais novo. Eles não portavam armas, aparentemente, mas possuíam grossas cordas. O que Melissa associou aos hematomas de sua misteriosa hóspede. De qualquer forma não poderia fingir não estar em casa por muito tempo, já que o cheiro da lasanha deve ter atraído até os bichos.

- Pois não, senhores? – Disse ela abrindo a porta só um pouco, e esgueirando o tronco para fora.

- Jovem senhorita... Viemos atrás da garota. Perdoe-nos o incômodo, nosso e o dela. Ela lhe causou algum problema? Receio que sim.

- Bem – disse Melissa, observando aquele homem, sem ainda perceber se ele era tão hostil quanto os hematomas da garota apresentavam. – Eu não sei do que estão falando. Aliás, houve uma garota aqui mais cedo, sim. Mas eu não abrí a porta para ela. Bateu, e foi embora. Não gosto muito de visitas, entende?

- Estranho – Falou o homem mais velho, olhando para o outro. – Abigail sempre volta para cá, não é mesmo Nelson?

- Sim.

- Bem senhorita, perdoe o incômodo, mas se vir nossa garota, por favor, nos contate. Precisamos encontrar ela urgentemente. Antes que a noite caia. Se a perdermos, estará tudo acabado.

- O que quer dizer? – Estranhou Melissa.

- Bem, nossa garota, moça. Ela tem problemas sérios e...

- Vamos, pai, a moça não sabe. Vamos antes que seja tarde. Vamos voltar e pegar o Jipe.

- Certo. Até logo, desculpe o incômodo moça. E fique com a proteção da luz divina. E dos arcanjos que nos defendem do maligno.

Mal o sujeito acabou de falar aquela frase, ouviu-se um grito agudo de dentro da casa onde Melissa estava. Um grito ensurdecedor, que fez com que ambos, os três, ficassem assustados.

- O que foi isso? – Perguntou o homem mais novo. – Minha nossa, eu quase fiquei surdo.

Melissa não sabia o que dizer. Estava tão assustada quanto os homens.

- Moça – disse o mais velho, aproximando-se. – A senhora está com problemas aí dentro?

- Bem... Eu diria que não, mas agora não sei mais. Acho bom ficarem aí!

- Então está com ela? – Continuou indagando o mais velho, enquanto mais gritos se fizeram ouvir lá dentro.

- Eu já disse. Fiquem quietos aí!

- Olha moça, não queremos problema. Apenas deixe que levemos a menina, ela não é problema seu. Essas crises acontecem de hora em hora, e estão piorando. É nossa responsabilidade, não sua!

- Não. Eu vi os hematomas pelo corpo dela. Vamos ter que conversar com a polícia. – Melissa tentava falar, mas os gritos da menina se tornavam cada vez mais intensos, lá dentro.

- Moça, isso não é caso de polícia. É muito pior. E a senhora não é daqui, nem sabe o que se passa. Deixe a gente levar essa menina, por tudo o que é mais sagrado!

- Não!

Quando Melissa tentou fechar a porta, o homem mais novo foi mais rápido. Colocou o pé e a empurrou. Apesar de ter um porte físico bom, Melissa era mais fraca que ele, e não pôde evitar que invadisse a casa. O mais velho o acompanhou, e quando Melissa tentou ataca-lo, ele segurou seus pulsos, colocando-a sentada na cadeira da sala.

- Me solte, seu idiota!

- Moça, fique quieta ou terei que amarrar você também, certo? Nelson, veja como ela está.

O homem se dirigiu até o quarto, parecendo já conhecer o local. Abriu a porta por dez segundos, e voltou. Com uma expressão pálida.

- O que houve? – Perguntou o outro. – Como ela está?

- Venham ver. Você também, moça!

Mesmo meio relutante com os invasores, ela os acompanhou até a porta do quarto. O homem mais novo parecia estar rezando de forma murmurante. Mas não era nenhuma oração conhecida por Melissa. Dessa vez foi o homem mais velho quem abriu a porta. E ao olharem para dentro, constataram ao mesmo tempo, horrorizados e sem acreditar, que o problema que tinham talvez fosse além se tudo o que já tivessem presenciado. Melissa não conseguia acreditar no que seus olhos contemplavam. A garota de aparência inocente e triste, que há pouco ela havia cuidado, estava flutuando, a pelo menos um metro acima da cama.

- Minha nossa. Está pior do que imaginei. Que horas são, Nelson?

- Não sei pai, na correria eu não trouxe o telefone celular. Nem o relógio!

- Seu irresponsável. Não podemos ficar sem o maldito relógio! Moça, a senhora tem um relógio? Ei, moça?!

-Melissa não conseguia ouvir, enquanto contemplava aquela cena, se sentiu mal. Suavisão foi escurecendo e ela desabou, ali mesmo no chão, desmaiada.

Banho De Sangue - Um Conto InfernalOnde histórias criam vida. Descubra agora