SETE

20 7 25
                                    

20h 48m

Encharcada, Melissa precisou reunir todas as forças para abrir a pesada porta do sótão, cujo acesso se dava do lado de fora da casa por uma escada estreita. Não sabia por qual motivo Antônio colocara a escada ali, por fora já que o acesso seria muito mais fácil por dentro. Assim que entrou, ela percebeu que o teto desabara, em sua maior parte, e a chuva já enchia o local de água, que estava já acumulada. Provavelmente tinha sido isso o barulho que ouvira há pouco. Haviam telhas destruídas, espalhadas por toda parte e apenas uma pedaço do teto ainda se encontrava intacto. Justamente o que ficava sobre a parede onde Antônio guardava sua espingarda. Talvez fosse uma parte mais antiga daquele espaço, e por isso possuía o teto reforçado. Ou talvez não fosse isso. A garota esbarrou no que estava à procura, os malditos candeeiros. Com a ajuda da luz do celular, ela contou quatro candeeiros ali; prova de que deveriam realmente haver quedas de energia constantes na região. Além disso, Melissa reparou em mais alguns itens: machados, certa quantidade de feno, uma antiga caixa de ferramentas, e a espingarda calibre 16 que Antônio mencionara antes. A espingarda estava na parede, sob o que restou do telhado, apoiada em um suporte prateado. Havia também uma escrivaninha com uma única gaveta, que estava trancada. Melissa notou que no meio de suas chaves havia uma que abria a gaveta. Ali se viam fósforos e embalagens de querosene para os candeeiros, além de duas caixas com cartuchos para a espingarda. Haviam também livros que pareciam manuais de instruções antigos. Melissa encheu os recipientes com querosene dos candeeiros e desceu, trazendo-os, ofegante.

Ao adentrar a casa novamente, mesmo encharcada, a garota percebeu que o clima ficara mais frio, muito mais que antes, e não se tratava do clima provocado pela chuva. Parecia até haver uma neblina na sala. Ela acendeu o primeiro candeeiro e colocou-o no armário, na prateleira acima da TV antiga. A luz da lamparina iluminou todo o ambiente e Melissa contemplou o corpo no chão. Haviam ratos passeando ao redor dele. Com um pouco de asco, a garota os espantou, com ajuda dos outros candeeiros que ainda trazia. Então ela se dirigiu de volta à porta do corredor, não havia outro som naquela casa além do de seus passos no assoalho antigo, o que era muito estranho. A garota chegou em frente à porta do quarto e bateu sem muita força. Não havia som lá dentro, aparentemente.

- Tem alguém aí? Respondam!

Nem parecia que haviam entrado quatro pessoas dentro daquele quarto. Não se ouvia um único ruído, qualquer tipo de som. O que eles estavam fazendo? A garota não sabia. Naquele momento ela sentiu mais frio ainda, e decidiu que, por bem, deveria trancar a porta. Ora, poderia deixar todo aquele pesadelo para trás, poderia entrar no carro e ir tranquilamente embora. Deixar o maldito trabalho para a polícia e para eles que se explicassem! Para começar, a culpa de tudo fora de Antônio, não é mesmo? Mas apesar de todos aqueles pensamentos confusos, Melissa não pensou em ir embora naquele instante. Chamou-os por mais alguns minutos, sem ouvir nenhuma resposta, então trancou a porta com a chave. Após isso decidiu voltar ao sótão para buscar a espingarda.

Mais rápido que da outra vez, e desta vez auxiliada por um candeeiro, Melissa subiu às escadas escorregadias, sob a chuva. Com alguma dificuldade pegou a espingarda que Antônio mencionara. Era uma arma antiga, daqueles modelos com dois canos. Mas naquele era o suficiente para a garota se sentir mais segura, pois não havia tempo para pensar, Melissa não fazia ideia do que estava acontecendo lá embaixo.

- Nelson, Pastor, respondam! – Gritou novamente garota, sem obter resposta alguma.

Melissa colocou a chave na porta e a empurrou. Em uma mão trazia o candeeiro e na outra a espingarda. A luz da chama iluminou o quarto e a garota percebeu que Abigail ainda estava em cima da cama, tranquilamente, embora estivesse desamarrada agora. A jovem ainda tinha aqueles olhos estranhos e acesos, mas não parecia vê-la, apenas piscava e olhava em volta, quase como se estivesse cega ou alheia ao que acontecia. Melissa levantou o candeeiro acima de sua cabeça e percebeu, horrorizada, os corpos de todos, caídos. O pai e a mãe de Abigail estavam caídos próximos à cama, Nelson estava caído próximo à porta, enquanto o pastor jazia ajoelhado, com a parte superior do corpo sobre a cama, próximo à Abigail. A garota começou a gargalhar. Melissa abaixou-se e percebeu que Nelson não respirava; pior que isso, seu corpo estava com um aspecto roxo e já iniciando o processo de enrijecimento. Todos pareciam ter sido vítimas de um ataque do coração ou algo do tipo.

Banho De Sangue - Um Conto InfernalOnde histórias criam vida. Descubra agora