CINCO

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17h 20m

O que se seguiu a partir daquele momento, Melissa não soube precisar. Ela sabia apenas que nunca havia desmaiado antes, isso era verdade. Teve a impressão de ouvir gritos, orações, e quando finalmente voltou a sí, estava sentada à mesa da cozinha, com os dois em sua frente. Um cheiro de café a despertou.

- Bem moça, quase que a senhora ia ficar sozinha aqui, com ela. Acordou, não é? Muito bem. Beba um pouco de café. Mexemos um pouco em sua mala, e achamos um isqueiro, pois aqui não tinha fósforos. Achamos também um frasco estranho com veneno. Não deve guardar essas coisas perigosas em locais como uma mala. Pode vazar e aí, no momento que a senhora guardar outras coisas, como um lanche, quem sabe o que pode acontecer? De qualquer forma, pedimos desculpas por ter mexido.

- Quem são vocês afinal? - disse Melissa esfregando os olhos. - Por que estão aqui?

- Veja moça - disse o homem, entregando o café a ela. - Sou o pai dela e ele é o irmão. Meu nome é Lucas e o dele Nelson. Bem, como vê, estamos em uma situação complicada, e o que a senhora viu uma prova disso. Ela fugiu quando começamos a fazer nossas orações. Esta menina está possuída, mas quando oramos, apesar de bem intencionados, não sabemos como fazer. Agora eu e Nelson rezamos, rezamos, e ela ficou mais quieta. Mas não sabemos por quanto tempo vai durar isso.

- Não, não. Não me venha com essa história de possuída. Essas coisas só existem em filmes velhos e nesses programas de TV malucos que passam de madrugada. Vocês já ouviram falar em parapsicologia?

O homem respirou fundo:

- Nelson, explica melhor pra ela.

- Olha moça - disse o sujeito se aproximando. Ele estava de pé, encostado na parede ao lado de Melissa, e até então se mantivera calado. - A história aqui é séria. A senhora não está na cidade, então todas essas frescuras de nome que tem lá, não fazem sentido por aqui.

- Do que está falando?

- Moça, a menina, como a senhora viu, está possuída. Na hora que a senhora desmaiou, tivemos que pegar ela e dar um calmante. Mas logo ela volta a ficar daquele jeito. Entendeu?

- Como assim? E como me explicam as marcas nas partes íntimas dela? E os cortes?

O homem mais velho tomou a palavra:

- Minha filha é meu sangue, minha carne. Nunca deixaria nada de ruim acontecer com ela, mas ela mesma tem se ferido. Não podemos deixar a garota sozinha por muito tempo. Ela faz coisas abomináveis, com as próprias mãos. Antes achamos que era doida, mas aí ela começou a fazer coisas...

- Que coisas?

- Começou de madrugada. A primeira coisa que ela fez foi ficar se ousando com todos. Ficou sem roupa pela casa, xingando, e eu e a mãe batemos nela achando que estava com maus modos. Depois foi piorando. Até que matou todos os cachorros da casa, dando facadas. Eram dois pastores de quatro anos, e três vira-latas. Todos animais que nos protegiam.

- Pois - voltou a falar o rapaz. Começou assim. O tal do pastor que mandamos chamar ainda não veio. Quando vier ela já vai estar a sete palmos, pelo visto.

- Vocês realmente acreditam nessa baboseira de possessão? - Desdenhou Melissa, mais por estar ainda grogue e sonolenta do que propriamente descrente. Aos poucos suas vistas se tornavam menos turvas e ela começava a revisar mentalmente tudo o que havia acontecido até ali.to obrigado

- A questão aqui não é acreditar, moça. Nós temos um problema. E é um problema bem visível. Bem, não se preocupe, ela não é problema seu. Agradecemos à senhora ter dado abrigo a ela, e pode ter certeza de que não tem nada de errado acontecendo aqui, além do óbvio. Só peço que espere até meu pai ir à nossa casa buscar o jipe, para podermos levar a menina de volta.

Banho De Sangue - Um Conto InfernalOnde histórias criam vida. Descubra agora