Metrô

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- DEUS ESTÁ CHEGANDO, SE ARREPENDAM DOS SEUS PECADOS.
Um senhor começou a gritar na entrada do metrô e enquanto um jovem entregava os folhetos, quando ele aproximou-se de Andy entregou um folheto para ele.- Não tenho interesse. Disse ele passando direto pelo folheto e continuou andando

- É A SUA SALVAÇÃO QUE ESTÁ EM JOGO!
O rapaz que entregava os folhetos travou a passagem e começou a gritar assim como o senhor e continuava a querer entregar o folheto para ele.

- Serei salvo ou não, pelas minhas ações e não por gritos.
Andy odiava gritos, já tinha as vozes na mente dele, que falavam em gritos, elas gritavam, talvez se fossem apenas um sussurro ele conseguiria ter a cabeça mais calma, agora estava barulho do lado de fora da cabeça dele e do lado de dentro, tudo parecia um caos, abriu passagem com o braço, viu a expressão de surpresa do jovem que não insistiu e ao andar ele ouviu algo como: "Os pecadores serão queimados".
- Estou sendo queimado diariamente. Sussurrou ele e entrou no metrô

Era assim todos os dias alguém aparecia querendo ser o dono da verdade, quando na verdade apenas queriam cultivar os seus preconceitos, vontades e desejos, vivem mascarados pelo o que a sociedade esperavam deles, Andy queria apenas ficar longe de tudo isso, só que não era tão fácil assim.

Hoje em dia ele era lido como um garoto, nem sempre foi assim e ele sentia a diferença, mesmo as vezes sentia os olhos investigando ele, será que as pessoas ainda conseguiam ver através da barba? A barba ajudou ele a ter mais segurança.

Enquanto estava no metrô, verificou se Tina tinha mandando mensagem, ela tinha ido em uma entrevista e disse que avisaria o resultado, era a quinta nessa semana, por telefone todos pareciam interessados, pessoalmente quando ela explicava a questão dos documentos, magicamente ela não fazia o perfil da vaga, suspirou e como não tinha notificação nenhuma, nem mesmo ela falando algo do aniversário, pensou que talvez o telefone dela estivesse descarregado, ela não largava aquele aparelho ou talvez ainda estava na entrevista.

TREM AGUARDANDO LIBERAÇÃO DA VIA.
Disse a voz no alto-falante e Andy decidiu sentar no banco de idosos, já que ninguém entraria, colocou os fones e começou a ouvir Muse, os pés acompanhavam as batidas e depois de meia hora, pessoas estavam impacientes com a falta de movimentação, vários anúncios foram dados que logo voltariam com a circulação normal e a conversação estava de todos os lados, os fones ajudavam Andy a ficar longe das interações que para ele pareciam inúteis, entre uma música e outras, existiu um breve silêncio e foi nesse momento em que ele ouviu

- Parece que uma menina se matou. O rapaz estava no banco ao lado.

- Que covarde! Respondeu o rapaz do lado, Andy não tinha ouvido, ele leu os lábios e aquilo o arrepiou, decidiu levantar e andar um pouco pelo vagão, outras pessoas faziam o mesmo, a porta estava aberta, ele poderia descer e pegar um ônibus, mesmo assim por uma sensação estranha, quis permanecer no vagão.

Vários pensamentos corriam em sua mente, as risadas das vozes que ele carregava eram altas, elas assim como as pessoas de fora, estavam zombando da situação e ele concluiu que não sabia o que levava as pessoas julgarem com tal simplicidade um ato tão desesperado que é o suicídio?
Não dava mesmo para ele definir como podiam apontar o dedo e dormir tranquilamente?
Dizer "Covarde" e ficar tudo bem, as pessoas não sabem da depressão, não sabem das dores, não sabem de nada.
O Desespero, a vontade de matar a dor que carregavam, levava as pessoas a medida drásticas e ali estava mais um nome, não estranharia se fosse outra pessoa trans.

O vagão moveu-se sem avisar, pessoas pareciam agora se interessar mais e mais no papo sobre o suicídio, ele não ouvia com os fones altos no ouvido, ele lia algumas palavras em cada lábio, decidiu descer na próxima estação e ir de ônibus mesmo.não queria mais estar ali, sentia o peito apertado, poderia ter sido ele, poderia ter sido um amigo dele e mesmo assim, as pessoas queriam apenas julgar.

A cabeça começou a latejar.

Desceu do metrô e correu direto para o banheiro, lavou o rosto e encarou a imagem tão diferente de dez anos atrás, tudo daria certo, pensou ele, o pior já passou, aquelas pessoas ficaram para trás, passou mais água no rosto e tentou respirar fundo, demorou alguns minutos para sentir vontade de sair do banheiro.

P.S: Desculpe a demora, estou sem computador e por esse motivo está horrível para editar.

Andy e o poder da ação e reaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora