Ao abrir a porta de seu ex-apartamento no edifício Dakota em plena Central Park West, Linda nem mesmo perdeu tempo com o funcionário da empresa telefônica que viera solucionar um problema na rede. Ignorando o homem como se fosse uma coisa qualquer, atravessou metade da cobertura que conhecia muito bem e chegando ao aposento de Blos, seguiu direto para o banheiro onde seu amante de certo estaria.
Na jacuzzi gigantesca com detalhes dourados, William Blos tomava um delicioso banho de espuma ao som de “A Day in the life” enquanto ostentava uma taça de champanhe cristal na mão esquerda e fazia círculos de fumaça com o charuto Cubano que havia ganho de presente de Linda. Sentia-se rico, poderoso, e agora, mais do que nunca, tinha certeza de que todo o esforço para se tornar milionário estava valendo à pena.
-Bom dia, amorzinho! Senti tanta saudade de você. Não aguentava mais olhar para o rosto daquele idiota do Albert. Nunca vi um homem tão insuportável quanto ele. Quero dizer, até vi, mas pra minha sorte ele morreu providencialmente de enfarto e está bem quietinho, descansando em paz a sete palmos de terra.
-Eu sei, querida, só que você vai ter que aguentar mais um pouco. O Fenner não me parece ter a saúde tão fraca como a do seu falecido marido. Nós precisamos é nos concentrar para que a primeira parte do plano dê certo, aí então vamos partir para a segunda parte: a eliminação. – afirmou Blos com a maior frieza enquanto tragava mais uma vez seu charuto.
-Quanto a isso não se preocupe. –Linda disse pegando um pouco de espuma e assoprando na direção do amante. – O casamento vai acontecer daqui a quatro dias e ninguém vai nos atrapalhar, nem mesmo as idiotinhas das filhas do Fenner. Elas não têm provas sobre o nosso envolvimento, e a que mais me preocupa justamente por ser a esperta da dupla está apaixonada pelo Aaron. Já faz quase uma semana que os dois não se desgrudam e duvido que a Melissa faça alguma coisa logo contra mãe do namoradinho. Ela sabe que se aprontar algo pode perdê-lo.
-Então as adolescentes mimadas não ameaçam mais os nossos planos?
-Graças a essa virada do destino não. – sorriu Linda, com cinismo enquanto tomava a taça de champanhe da mão de Blos. – Essa paixão adolescente nos veio a calhar, e a Sophie sem a irmã é apenas mais uma patricinha de nariz empinado que só sabe soletrar a palavra Prada. Podemos ficar tranqüilos.
Aproximando-se da amante, Blos pegou de volta a taça de champanhe e a ergueu no ar brindando sozinho pelos futuros milhões que ganhariam. Depois bebeu o pouco champanhe restante e saboreou-o sentindo em meio ao álcool da bebida um certo gostinho de vitória, ainda que antecipado.
-Que tal um almoço em um bom restaurante hoje para comemorarmos? Boas notícias me dão uma fome...
-Só boas notícias? – perguntou Linda irônica. – Mas até que não é má ideia. Nós nunca mais saímos juntos desde que aquelas pestes descobriram o nosso caso.
-Então se apronte, querida. – disse Blos levantando-se cheio de espuma enquanto fazia um círculo de fumaça com o charuto. –Hoje nós vamos usar o Porsche!
Eufórica com a ideia, Linda encheu de novo a taça de champanhe que quase transbordou e colocando a aliança de diamantes que ganhara de Albert dentro dela, bebeu calmamente olhando-se no espelho. Em um futuro próximo ela seria a senhora Fenner e, se tudo corresse como ela e Blos planejaram, a mais nova viúva bilionária de Manhattan.
* * * * *
Desde que havia chegado em Nova York, Mel pela primeira vez sentia-se feliz de verdade. E o responsável por toda essa alegria, óbvio, era Aaron que não saia um só segundo de perto dela.
Naquelas últimas semanas os dois estavam mais grudados do que nunca, e mesmo que não tivessem contado a ninguém que andavam saindo (exceto Chloe e M.J.), não era difícil para Rebeca ou mesmo Sophie perceberem o que estava rolando entre eles. Afinal, todos aqueles programas típicos de namorados como ir ao cinema e andar de carruagem nos entornos do Central Park eram mais do que denunciadores.
Mas enquanto Mel encontrava-se “nas nuvens” por ter conseguido conquistar Aaron, o dia do casamento se aproximava sem que o detetive McVeigh desse “algum sinal de vida”. Melissa até tentou pressionar Sophie uma vez para que ela ligasse e exigi-se alguma ação concreta do detetive, mas agora estava distraindo-se tanto com os beijos e abraços de Aaron, que apesar de saber o quanto uma prova contra Linda seria importante, ela passava mais tempo pensando no “quase namorado” do que na traição da madrasta.
Além disso, havia um impasse bem maior naquele momento. Linda era mãe de Aaron e mesmo que fosse uma golpista maquiavélica sem escrúpulos, ainda assim ela era uma das poucas pessoas com quem ele ainda podia contar na vida, já que o senhor Stonewell havia morrido há algum tempo atrás.
Sabendo dessa triste realidade e envolvida pela paixão que sentia pelo garoto, Melissa resolveu esquecer um pouco de Linda e decidiu então que só agiria contra a madrasta se a situação viesse até ela por mera obra do destino, o que a julgar pelo cuidado que a Miss Botox tinha em relação ao seu plano, isso dificilmente aconteceria.
Pelo menos, era isso que Melissa achava.
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Uma Garota em Nova York (Livro Completo)
Teen FictionMelissa Fenner é uma típica garota de quatorze anos que, após a morte da mãe, é obrigada a morar novamente em Nova York com o pai. Sem saber o que a espera, Mel chega a Manhattan e se depara com uma vida bem diferente que costumava a levar e, tudo i...