Já passavam das dez da manhã quando Melissa acordou. Mesmo cheia de preguiça e o ombro ainda um pouco dolorido, decidiu levantar-se e pedir ao menos um bom café da manhã para compensar o péssimo dia anterior. Havia mentido para Aaron, ficado com uma dor odiosa e talvez perdido sua última chance de desmascarar a madrasta...
“Bom, pior não pode ficar” pensou ela jogada na cama enquanto esperava o café da manhã, até que batidas secas ecoaram pela silenciosa suíte fazendo-a despertar de seus pensamentos.
-Quem é? – perguntou Mel ajeitando o cabelo da melhor forma possível, embora já imaginasse do que se tratava.
-Serviço de quarto. – respondeu a voz do lado de fora da suíte.
Levantando-se da cama um pouco mais animada, Mel foi até a porta e abriu-a para que o jovem empregado do hotel entrasse com o carrinho repleto de guloseimas que ela havia pedido. Faminta e esquecendo todas as boas maneiras que Sophie insistia em lhe ensinar, Melissa pegou um delicioso pudim e começou a saboreá-lo, como se o açúcar presente naquela sobremesa fosse aliviar todas as sensações ruins que haviam restado do terrível dia anterior.
Repentinamente batidas soaram de novo na porta e Mel, meio que por impulso, acabou ordenando para que a pessoa desconhecida entrasse.
Aaron surgiu na suíte e caminhou até ela bem devagar. Não parecia triste, mas também não demonstrava o sorriso luminoso que sempre possuía.
-Nós precisamos conversar. – afirmou ele, sentando-se na cama ao lado dela depois de beijar-lhe a bochecha com doçura.
- Hum. Ok – respondeu Melissa um pouco nervosa enquanto levava mais uma colherada de pudim a boca.
-Mel...
-Pode falar, Aaron.
-Você gosta mesmo de mim?
Por alguns instantes, ela sorriu aliviada. Pelo visto, a visita repentina de Aaron tinha mais haver com insegurança do que com a atitude inesperada dela no restaurante.
-É claro que gosto! Você ainda duvida disso?!
-Então você vai me dizer o que aconteceu de verdade ontem, não vai?
Ô-ou.
Surpresa com aquela pergunta tão direta de Aaron, Mel sentiu o corpo todo tremer e suas mãos, que até então seguravam firmes a colher e o prato de pudim, ficarem moles, quase sem vida, o que acabou por deixar que a calda e praticamente toda a sobremesa que comia caíssem do prato bem na blusa listrada do garoto.
-Ai meu Deus... Eu sou um desastre mesmo, olha só isso! Desculpa, Aaron, eu não tive intenção de...
-Eu sei, eu sei. Não se preocupe. – interrompeu ele levantando-se da cama. – É só dar uma lavadinha que sai.
-Mas e se não sair? – perguntou Mel cheia de remorso.
-Não tem problema, eu não gosto mesmo desse estilinho “bom moço” de roupas. – respondeu ele referindo-se à blusa pólo com listras verdes e azuis que usava.
Tentando não espalhar mais ainda a calda grudenta que encontrava-se em sua blusa, Aaron foi até o banheiro e pôs-se a lavá-la na pia, um tanto desengonçado já que nunca havia feito aquilo sequer uma vez na vida.
Ainda sentada na cama, Mel olhava triste para um pequenino pedaço de pudim que agora repousava no chão depois de ter feito um estrago na camisa de Aaron, quando Sophie entrou praguejante no quarto falando alto e rápido feito louca.
-Aquele McVeigh é um idiota! Fez fotos da Linda sozinha, sem aquela escória do amante dela. Isso não serve pra provar que ela é golpista! –berrou Sophie, com as faces rosadas de raiva enquanto jogava uma dezena de fotos da futura madrasta em cima da mesa.
Com gestos Mel tentou impedir a irmã de dizer mais coisas comprometedoras sobre a mãe de Aaron, mas Sophie estava tão irada com a situação, que nem mesmo prestou atenção nos movimentos negativos que Melissa fazia com suas mãos e cabeça.
-Aquela vaca loira tem muita sorte desse detetive ser um idiota. Mas ela vai ver só, esse casamento não sai. Eu vou provar todas as armações de Linda Stonewell! –bradou ela dando um soco na mesa onde havia jogado as fotos.
No mesmo instante Aaron saiu estupefato do banheiro com a blusa meio úmida nas mãos e olhou boquiaberto para Mel, que se encontrava em silêncio, totalmente estática. Ao ver o garoto, Sophie também sentiu seu corpo congelar, e a única palavra que conseguiu sair de sua boca foi um “Oops” meio sem graça, típico de alguém que havia feito uma grande burrada e não sabia como sair daquela situação.
-Espera! Eu “to” ficando louco ou ouvi certo, vocês estão seguindo a minha mãe?! –Aaron perguntou com os olhos repletos de raiva ao ver as fotos de Linda jogadas na mesa.
-Olha, desculpa Aaron, mas estamos sim! A gente acha que ela quer dar o golpe no nosso pai e que ela tem um amante, que por sinal é sócio dela nesse e em outros planos sórdidos. – respondeu Sophie sem meias palavras.
-Mas pelo o quê eu ouvi vocês não podem provar nada, não é? E sabe por quê? Porque a minha mãe pode ser tudo, menos esse monstro horrível que vocês estão dizendo. E você sabe muito bem disso, Mel. Ela sempre te tratou com carinho. Dizia que você era a filha que ela nunca teve. Ou já se esqueceu daquela época e vai ter coragem de dizer que a minha mãe não presta?!
Melissa preferiu não responder de imediato às perguntas raivosas de Aaron. Primeiro pediu que Sophie saísse e só então depois que viu a irmã sumir pela porta começou sua defesa contra as acusações de ingratidão e leviandade que o garoto havia feito.
-Olha, eu sei que é difícil pra você entender como filho dela, mas se coloque na minha posição de filha também...
-Mel, você esteve o tempo todo fazendo isso pelas minhas costas. Acusando a minha própria mãe de coisas horríveis sendo que ela nunca te fez nada!
-Aaron, eu sinto muito, muito mesmo, mas eu já vi o amante da Linda, e eu tenho certeza que os dois tramaram a explosão do seu apartamento.
-O quê?! Amante? Explosão?! Você deve estar delirando... –bradou Aaron parecendo desnorteado. - Quer saber, eu não preciso ouvir mais nada. Agora eu percebi que a Mel, a que era minha amiga de verdade, morreu quando foi pro Brasil e nunca mais voltou. Eu não conheço essa garota que está na minha frente. E quer saber outra coisa? Me esquece, está bem? Me esquece!
Irado com acusações de Mel, Aaron pegou a camiseta molhada que em um momento de fúria havia jogado na cama, e saiu da suíte batendo a porta de tal forma, que um dos quadros que decorava a parede do quarto quase caiu devido ao excesso de força usada pelo garoto.
Vendo-o sair daquele jeito e lembrando-se de tudo que ele havia dito, Mel se jogou na cama agarrando seu travesseiro fofo de plumas e começou a chorar de raiva e tristeza. Sentia-se oca, vazia mesmo por dentro, como se algo lhe tivesse sido arrancado do peito à força.
No corredor do hotel, os olhos verdes de Aaron marejaram-se de lágrimas, mas ele as conteve. Por uma fração de segundos o garoto olhou para trás, para a porta de onde havia acabado de sair e magoado alguém que tanto gostava. Até pensou em voltar, tentar conversar com Mel, mas o orgulho e decepção dominaram sua cabeça de tal forma, que o fizeram virar-se para frente e continuar andando firme até seu quarto. Ignorando assim o desejo imenso de seu coração que pedia para ele seguir o caminho inverso e voltar para o lugar de onde nunca deveria ter saído.
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Uma Garota em Nova York (Livro Completo)
Fiksi RemajaMelissa Fenner é uma típica garota de quatorze anos que, após a morte da mãe, é obrigada a morar novamente em Nova York com o pai. Sem saber o que a espera, Mel chega a Manhattan e se depara com uma vida bem diferente que costumava a levar e, tudo i...