Capitulo 3

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-Foi um grande prazer Alice- Fico pensando por horas nesta pequena frase. A forma como ele as pronunciou era como se quisesse dizer outra coisa. O jeito como meu nome dançou em seus lábios. O fogo que vi em seus olhos ao me observar. Deus queira que seja apenas loucura da minha cabeça.

Francamente, não posso crer que um homem como Álvaro possa se quer ter olhos pra mim.

-Foi um grande prazer Alice-Penso novamente.

Ora Alice, não seja estupida. Você não viajou de tão longe para ser cortejada. Ainda mas por Álvaro.
Ok que ele seja lindo, alto, forte e charmoso. Não sou cega. Aquele homem sem duvida deixaria qualquer mulher no céu.

- Vamos Alice, deixe de besteira- Me repreendo.

Já havia tomando um banho quente e posto as roupas molhadas para secar, quando decidi ligar para mamãe.
Pego o celular dentro da mala e disco os números. Ela atende no terceiro toque.

- Filha- Diz ela com um alivio na voz- Jesus Maria e José, estava tão preocupada. Fez boa viagem? Foi bem recebida? Já comeu? Já encontrou um bom apartamento? Filha pelo Amor de Deus...

- Mãe calma- Interrompo seu interrogatório- Nesse exato momento estou relaxada deitada no meu quarto na residência dos Berdinaz.

- Como assim?

- Não vai ser preciso procurar nenhum apartamento. Aqui tenho um espaço reservado da casa onde posso dormir. Tem uma cozinha, quarto com banheiro e uma varanda. Bem, não é exatamente uma varanda, esta mais para área de serviço, mas para mim, é a maior varanda que já vi na vida.

- Oh filha, isso é ótimo.

- Logo vou poder busca-los Mãe. Eu prometo.

- Eu sei querida- sinto as lagrimas se formando.

- Como ele esta?

- Dormindo como uma pedra- Ouço sua risada baixinha- Não se preocupe Alice, vamos ficar bem. Ninguém vai nos achar aqui.

-Ainda assim, não quero demorar em busca-los. Vamos viver uma nova vida aqui. Tudo vai ser diferente. Agora preciso desligar. Amo vocês.

- Também te amamos- encerro a ligação.

O sol esta quase se pondo quando descido me deitar um pouco. Depois procuro algo pra comer. Não me lembro a ultima vez que dormi em uma cama tão confortável.  Alias, nunca devo ter dormido em uma.

Não tive uma vida muito fácil. Filha de pais separados, aprendi cedo a pegar no pesado. Minha mãe, Dona Elis Vilar, sempre foi forte e batalhadora. Criou-me trabalhando em dois empregos como domestica. Nunca tirou férias, nunca viajou, nunca teve qualquer tipo de vaidade. Sua vida foi dedicada a minha criação.

Meu pai nos abandonou quando eu tinha 2 anos. Era um bêbado e viciado em drogas que batia em minha mãe só por diversão. Ninguém nunca soube do seu paradeiro. Talvez esteja morto. Seria melhor assim.

Com muito esforço consegui conclui os estudos e me formei em Administração. Essa não era a profissão dos meus sonhos, e morando em uma cidade tão pequena a única faculdade presente não oferecia muitos cursos, e dentre os poucos, essa foi a que coube no meu bolso.

Apesar de tudo sempre achei importante ter um curso superior. Pensei que tudo pudesse mudar após a formatura. Que encontraria um bom emprego, compraria uma casa nova e daria uma boa vida para minha mãe.
A vida não é uma fabrica de realizações de desejo. De onde eu venho pobre não tem chance de ser feliz. Em pouco tempo vi tudo que eu amava ser tomado de mim.

Agora, deitada nesta cama, nasceu novamente uma esperança de ser feliz. Minhas forças estão renovadas e vou lutar ate o final para defender quem eu amo. Agora tenho motivos para não desistir.
Cada vez que penso em seus olhinhos castanhos, seu rostinho rosado com covinhas e mãozinhas gorduchinhas, sinto que posso lutar contra um exercito.

Não percebo quando pego no sono. Quando acordo já anoiteceu. Minha barriga ronca de fome. Levanto-me e vou até a cozinha. Abro a geladeira e não encontro nada.

Mas é claro que esta vazia. A meses não mora ninguém aqui para abastece-la com comida ou água. Descido descer até a cozinha da casa principal. Não da pra ficar aqui com sede e fome.

Procuro na mala meu casaquinho de tecido e jogo por cima da camisola vermelha de cetim que estou usando. Isso deve servir, afinal não pretendo demorar ou fazer barulho para ser apanhada bisbilhotando a geladeira dos Berdinaz.

Desço as escadas e entro na cozinha. Acendo a luz e vou direto à geladeira. Procuro algo pra comer e logo encontro um pedaço generoso de bolo de chocolate. Coloco sobre a bancada e encho meu copo com agua.

Abocanho o bolo que por sinal esta delicioso. Começo a devora-lo rapidamente e solto um suspiro de satisfação.

- Se esse bolo fosse um homem, eu me casava com ele- digo baixinho rindo da minha própria piada.

- Devo sentir inveja desse pedaço de bolo então?- Surge uma voz me pegando totalmente desprevenida. Dou um salto e cubro a boca para não gritar.

Olho para a entrada da cozinha e vejo Sr. Álvaro escorado na parede, próximo à porta, sem camisa e com as mãos dentro do bolso da calça moletom. Que Deus me ajude.

- Sr. Berdinaz me desculpe, não era minha intenção invadir sua cozinha dessa maneira- começo a me explicar rápido e quase sem respirar – Peguei no sono e quando acordei estava com fome e sede- Ele continuava a me observar com ar de diversão e um sorriso travesso no rosto- A geladeira do quarto estava vazia. Desculpe-me a ousadia

- Você acha que comer um pedaço de bolo no meio da noite é muita ousadia?- Ele me lança a pergunta.

- Quando sou uma completa estranha para o dono do bolo, sim eu acho uma tremenda ousadia.

- Bem- Diz ele enquanto caminha em minha direção- O dono decidiu que precisa experimentar essa maravilha de bolo. Você poderia pegar um pedaço para ele?

Sou pega de surpresa por seu pedido. Vou a geladeira e retiro uma fatia. Quando me viro, vejo que ele esta me observando. Seus olhos percorrem toda a extensão do meu corpo. Droga, a camisola.

- Pronto Senhor- coloco rapidamente o prato a sua frente.

- Me pergunto se esta tão delicioso assim- Diz enquanto olha fixo em meus olhos. Sinto o corpo todo tremer e um formigamento surge bem no meio das minhas pernas.

- O melhor que já provei senhor- Coloco o prato na pia e pego meu copo de agua- Desculpe novamente o incômodo. Não quis acorda-lo.

- Não precisa se desculpar. Você não me acordou. Apenas senti sede e vim beber um pouco de agua. Sou eu quem peço desculpas por não ter abastecido a geladeira. Amanha vou providenciar isso.

- Obrigada senhor, tenha uma boa noite.

- Espere, não quer me fazer companhia? Acredito que ainda tenha mais fatias na geladeira.

-Obrigada, mas preciso descansar. Com licença.

Saio rapidamente da cozinha com o coração aos pulos. Meu pai, esse homem sem camisa é um pecado. Seu abdômen definido cheio de gominhos quase me leva a loucura.
E o que foi todo aquele olhar? Parecia que ia me devorar. Oh céus, preciso dormir, chega de emoções por hoje.

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