Dois.

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Um homem estranho de aparentemente 50 anos entra pela porta. Ele tem uma aparência soberba e eu imediatamente não gosto dele.

- Aquele é um dos homens de maior prestígio da cidade. Dê a ele o melhor tratamento do mundo. - Gerard me diz, mesmo contra a minha vontade, passo a mão pelo avental e caminho em direção a sua mesa.

- Boa tarde! O que você gostaria de pedir?

- O seu número seria possível? - Ele diz e eu sinto repulsa, mas preciso ser profissional.

- Eu não estou incluída no menu, senhor. Você gostaria de pedir algo ou eu chamo alguém para atendê-lo?

- Me trás uma cappuccino e dois pães de mel.

- Com licença. - Eu me afasto após anotar o pedido.

Entrego o pedido para o pessoal da cozinha e vou retirar as coisas deixadas na antiga mesa. Observo que os olhos do tal homem não saem de mim. Ele me acompanha por todos os lados que vou e isso está me deixando nervosa, mas quando sou chamada por Gerard, pego a bandeja com os pedidos e caminho em sua direção.

- Qualquer coisa você pode me chamar. - Me afasto da mesa e olho no relógio. Faltavam um pouco mais de 10 minutos para o fim do meu expediente. Eu estava exausta.

O tal homem acaba e eu entrego a conta para ele, que paga a conta e me dá uma gorjeta maravilhosa. Agradeço e vou me arrumar para poder ir embora.

As ruas estão pouco movimentadas e o frio está terrível, já são quase 00:00. Abraço meu corpo e continuo caminhando pelas ruas. Iria andando para casa. O dinheiro que recebi como gorjeta daria apenas para bancar o almoço do dia seguinte.

Um carro preto passa por mim e buzina, mas graças a Deus ele não para. Duas ruas depois eu finalmente estou em meu bairro. Ele fica na parte mal frequentada da cidade e é conhecido por ser ponto de prostituição e venda de drogas. Nós não gostamos de morar nesse bairro, mas com o dinheiro que eu ganho e com minha mãe doente é a única coisa que podemos pagar. Infelizmente em alguns meses não sobra dinheiro nem para o aluguel e precisamos contar com a bondade dos outros.

 O carro preto que vi a algumas ruas atrás passa outra vez por mim, mas dessa vez ele para.

 Meu corpo todo se arrepia. 

E se alguém tivesse me confundindo com uma daquelas garotas? Ando mais rápido, mas o carro continua me seguindo. O vidro baixa e o homem asqueroso de hoje cedo aparece para mim.

- Olá querida. Eu não quis te assustar, mas eu precisava falar com você a sós.

- O que você poderia querer falar comigo?

- Quanto você recebe naquele café por mês?

- Um pouco menos de 1.500. - Respondo, para que ele tenha certeza que me sequestrar não seria um bom negócio.

- Eu tenho uma proposta para te fazer. Que tal ganhar pelo menos 10x que isso por dia?  - Ele sugere e no exato momento eu sei do que ele está falando.

- Eu não tenho interesse em me prostituir. - Ele ri ironicamente.

- Receber um salário humilhante naquele café e ser mal vista por todos é melhor?

- Ao menos é digno. - Tento me afastar, mas ele me segura.

- Você acredita mesmo nisso? - Ele me olha dos pés a cabeça. - Você tem um corpo muito bonito, é realmente bonita, não deveria precisar passar por isso, não precisa se expor a tantas horas de trabalho a troco de um salário mesquinho, eu sei o quanto Gerard é ruim,  você não precisa passar por isso, você pode ter o que quiser. Dinheiro, luxo, poder, qualquer coisa. Você pode pisar em todos que alguma vez já te olharam torto. A escolha é sua. Vou deixar meu cartão com você. - Ele estende a mão com o cartão para mim e eu considero se devo pegar, mas acabo pegando, na esperança de que ele me deixe ir. Assim que pego, me afasto o mais rápido que consigo, ele não me impede e não me segue. 

É tentador, não posso negar. Mas não é uma opção. É claro que dinheiro resolveria grande parte dos meus problemas, mas minha mãe sempre me disse sobre dinheiro fácil e as consequências.

Entro em casa e dou um suspiro de alívio ao tirar meus sapatos, mamãe caminha em minha direção e me recebe com um abraço.

- Como foi seu dia, querida?

- Cansativo. Estou exausta.

- Você fez o deposito? O dono da casa veio cobrar o aluguel. - E eu tenho a sensação de ter levado um soco no estômago. O dinheiro do aluguel estava na bolsa! Eu faria o depósito após a aula. Como isso foi acontecer? O dono nos deu até o fim da semana para pagarmos, ou ele nos despejaria.

Mexo nos bolsos e tudo o que eu tenho são 100 libras - dinheiro que recebi de gorjeta do tal homem - o aluguel custava 600 e eu não teria como pagar. Gerard não pagava vale e não pagava  transporte. O pouco dinheiro que eu tinha diariamente vinha das gorjetas, o que eu poderia fazer? Mexo no outro bolso na esperança de encontrar alguma coisa e a única coisa que encontro é o cartão do homem. O encaro por alguns segundos e suspiro. 

Eu não poderia fazer isso.

- Depositou ? - Ela insiste.

- Sim! - Eu odeio mentir para ela, mas preocupá-la apenas faria com que sua doença agravasse.

- Eu vou te deixar tomar banho, querida. Seu jantar está pronto! Obrigada por ter pagado mais uma conta e me desculpe por ser um peso.

- Você não é um peso, mãezinha!

Ela se afasta e eu corro até o meu quarto. Disco o número do proprietário da casa e oro silenciosamente para que ele seja bondoso comigo.

" Alô " Ele atende.

" Oi. Aqui é a Beatrice. Eu tive um problema e não consegui depositar o dinheiro. O senhor poderia me dar um prazo maior? Eu poderia pagar 100 libras a mais. "

" Eu não posso. Eu fui claro, uma semana. Você tem até sexta para depositar"  Hoje é quarta.


" Eu perdi a bolsa com o dinheiro.. Por favor, eu não posso ir com minha mãe e meu irmão para a rua. "

" Eu já fui bondoso demais. Bondade não enche barriga ou paga contas.  Até sexta.  Adeus"

E ele simplesmente desliga. As lágrimas começam a rolar pelos meus olhos. E eu sou obrigada a fazer aquilo. Eu não poderia permitir que minha mãe e meu irmão fossem pra rua. Não podia! Antes que eu pense duas vezes, disco aquele maldito número.

" Eu sabia que você me ligaria. " Ele atende antes que chame a segunda vez.

"Oi. Eu.. Hm.."

" Não resistiu e vai aceitar minha proposta. "

" Isso.." Eu me sinto tão humilhada!

" Eu vou mandar um motorista te buscar amanhã as 9:00 não deixe que ninguém saiba onde você vai. Se alguém desconfiar, eu te mato. " E ele desliga.

Onde eu estou me metendo?



The prostitute - L.tOnde histórias criam vida. Descubra agora