Capítulo 48

262 23 51
                                    

Uckermann

Estou com frio, coberto por teias de aranha e poeira. Acuado, perdido e apavorado, totalmente apavorado naquele lugar escuro e desconfortável. As vozes lá de fora se tornavam-se cada vez mais altas e furiosas. Faziam meu corpo tremer. O homem gritava com minha mamãe, sua voz grave e firme ecoava retumbante e arrastada. Mamãe me pediu, quase implorou, para que eu ficasse quieto e não fizesse um único ruído. Então resolvi somente obedecer. Detestava o fato dela ficar chateada comigo.

Me prometera que no fim disso, tudo terminaria bem, que era mais forte do que imaginava. Mas e se não terminasse bem? Eu pensei, Ela iria me deixar ali sozinho? Aquele senhor de cabelos brancos meio careca roubaria nossa alegria? Ele era assustador. Ombros largos demais, olhar frio e duro como gelo. Como o de um vilão. Mamãe tinha os olhos azuis vermelhos e soluçava, chorando. Odiava vê-la triste. Tudo por culpa daquele senhor.

Não temos mais nada a resolver, Vitor. Vá embora! —ela passou as mãos por seus olhos secando suas lágrimas.

Estava vendo que também tinha medo.

Olhei fixamente, pela fresta entre a porta, o homem em sua frente, olhando-a com ódio, estava vermelho e os punhos seguravam com firmeza uma garrafa de vidro verde. Quando mamãe implorava para que se fosse, o que não o fez, continuou ali parado como uma estátua.

Desejava protegê-la. Correr daquele lugar e acertar um chute em sua canela para que aprendesse a não fazer nada daquilo mais com minha mãe.

Mas tinha medo, muito, não sai do lugar. Estava sacudindo como se fosse frio.

Cale esta boca vaga/bunda de mer/da! — acertando-lhe um tapa no rosto para deixar uma marca. Ela cambaleou e batendo contra o armário logo atrás.

Vi seu corpo estremecer de espanto.

Quis gritar, chutar, bater e arremessar todo meu ódio por cima dele. Era um porco nojento que somente falava coisas porcas que não deviam ser ditas e batia em mamãe que era mulher. Não podemos bater nelas.

Tenha piedade. — ela o olhava sôfrega, suplicando. A marca dos dedos avermelhados em sua pele clara.

Piedade!! Po/rra de piedade. Quero que você a piedade e seu filho idiota vão aos quintos dos infernos.

O vi erguer novamente sua mão grande para o alto para novamente bater nela, então minha mãe se ajoelhou aos pés descalços dele se  debulhando em lágrimas. Os dedos daquele homem eram tortos e agressivos como sua própria fisionomia. Mamãe tinha pés lindos e era uma bela, a mais bela de todas que poderia existir, era somente ela. Vi uma ruga grossa surgi no rosto daquele homem e seus poucos cabelos na cabeça.

Mamãe dizia e engasgava nas próprias lágrimas. Pedindo e implorando que a deixasse em paz e fosse embora para nunca mais voltar a machucá-la ou a mim. Mas não pareceu covencê-lo que  continuou a encará-la como um lixo.

Me encolhi dentro do armário e abracei as pernas e fiz um pouco de barulho devido as panelas que haviam nas prateleiras sobre mim. Estremeço e sinto os olhos cheios de lágrimas. Não quero chorar. Homens não choram. Uma lágrima teimosa saiu de um de meus olhos e outras ameaçavam segui-la, então fechei meus olhos com força para impedir. Afundo meu rosto entre meus joelhos.

Sua pu/ta imprestável! Irá pagar por tudo que me fez. —  um estralo e novamente um grito. Ele bateu nela novamente. — nem mais serve para fo/der.

Os soluços e gemidos de mamãe eram altos demais. Sentia meu coração doendo, o corpo dolorido naquela posição em que me encontrava. Tudo estava bom até ele aparecer estragando tudo. Era divertido sem ele, brincava com meus carrinhos ao pé da mesa. Era uma corrida importante que não consegui terminar. O fusca amarelo nunca teve sua vitória. Era culpa dele.

A herdeira {Vondy} √ - Primeiro Livro Da Duologia Herança & Vingança.Onde histórias criam vida. Descubra agora