Um Sopro de Esperança

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Importante: Esse texto não tem a intenção de fazer apologia a nenhuma crença religiosa! Num primeiro momento, sugiro a leitura sobre o ponto de vista das experiências da personagem (Helena) e, apenas após isso, elabore interpretações de acordo com sua filosofia religiosa, caso tenha uma e assim deseje fazer. Boa leitura.

"Nossa que sonho maluco eu tive... você não faz ideia, acordei chorando!!".

Foi essa a primeira frase de Helena ao entrar apressadamente no consultório de Agenor, seu psicólogo. Ele sorriu simpaticamente como de costume e estendeu a mão na direção da poltrona convidando-a a se sentar.

"Nossa, fico até nervosa de lembrar e foi tão detalhado...", era o que dizia ajeitando os longos cabelos negros atrás das orelhas, enquanto apoiava os calcanhares na base da poltrona.

"Estou vendo que esse sonho teve realmente muita importância para você! Mas antes de começarmos a conversar sobre ele, vamos tentar respirar, relaxar, desacelerar um pouco... Quer um copo de água?"

"Aceito sim."

Enquanto Agenor se direcionava ao frigobar para buscar uma garrafa, Helena repassava mais e mais vezes, mentalmente, as frases que "ouvira" na noite anterior. Por mais que em sua cabeça aquilo tivesse sido de fato um sonho e todos os fatos lhe indicassem isso, seu coração se recusava a aceitar a não-realidade daquela experiência tão detalhada e que lhe conferira tantas emoções.

"Obrigada!"

Entre um gole e outro da jovem moça, Agenor começou à condução da sessão: "E então Helena, como você está?"

"Estou bem, apenas muito impressionada. Desculpe a agitação em que cheguei, mas caramba... acho que nunca mais vou esquecer esse sonho!"

"Gostaria de conversar mais detalhadamente sobre ele?"

"Claro!"

Helena não gostava de si mesma e por isso partiu em busca de terapia. Sentia como se tivesse posto um espelho diante de si e não apreciava a imagem refletida nele. Achava-se feia, horrenda, inadequada, porém, não de uma forma literal. É que ao se avaliar concluía que suas virtudes e habilidades eram de pequena monta, comparado a tudo que ainda precisava desenvolver e aprender. Porém não era apenas com seus desejos sobre si mesma que Helena se comparava: em muitos momentos elaborava uma espécie de competição mental com os outros, nas quais ficava sempre nas ultimas colocações nos quesitos competência, inteligência, clareza de pensamento, gentileza, doçura e tantos outros. Por conta disso, agia como se não merecesse descanso ou situações agradáveis, preparando-se sempre para o pior sob pretexto de ser "realista" (que é o nome que muitos pessimistas usam erradamente para justificar suas visões distorcidas de mundo). Tudo isso a machucava.

Helena queria muitas coisas:

- Queria ser tão eficiente e determinada, quanto sua prima Isabela, a qual considerava uma espécie de "super mulher", que conseguia unir competência e uma mente "zen", sempre doce e educada com todos. Helena, por sua vez, achava-se preguiçosa e sem energia demais para ser tão produtiva quanto sua prima e, se tentasse, crê que arrancaria os cabelos no processo;

- Queria ser sábia para enfrentar as situações com a serenidade necessária, avaliando com clareza os fatos. Contudo, quanto a si mesma, percebia-se como um poço e ansiedade e frequentemente enfiava os pés pelas mãos;

- Queria não ligar para o que os outros pensam dela, porém se sentia uma folha ao sabor do vento, composto de elogios e críticas, que ditavam como ela se sentiria sobre si própria;

-Queria conseguir olhar seus companheiros com olhos sempre fraternos, os mesmos olhos que queria para si, mas muitas vezes se flagrava destilando comentários infundados, avaliando superficialmente comportamentos cujas causas intrínsecas não conhecia. Culpava-se por isso;

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