Aquele deveria ser um dia maravilhoso para mim! Minha família, depois de torcer um pouquinho o nariz, aceitou minha vocação para as panelas e fogões! Afinal, se tornou impossível não dar apoio, pois fisguei a todos pela boca e para tal conquista ralei muito! Foram muitas sobremesas, daquelas bem elaboradas, após os almoços de domingo; Vários pratos conceitualmente complexos nos jantares comemorativos. Tios, primos, amigos e vizinhos vão saber do que eu estou falando!
Fui aos poucos ganhando experiência em várias "praças de trabalho" (carnes, confeitaria, etc) diferentes . NINGUÉM APOSTAVA nos meus experimentos culinários, mas eles se tornaram tão famosos que minha mãe passou a vendê-los! Por conta disso, aos 13 anos, passei a contribuir com a renda de casa. Naquela época, eu tinha um prazer duplo: o primeiro era cozinhar, obviamente; e o segundo era me sentir útil, ajudando meus pais com as despesas. A única regra era não deixar minhas notas na escola caírem.
Dois anos mais tarde cheguei a participar de um desses "reality shows" sobre cozinha, mas não fui campeão. No entanto, estar na TV deu ainda mais visibilidade ao meu trabalho e o restaurante da minha mãe lotou de clientes.
Mas... voltando ao início: Aquele deveria ser um dia maravilhoso para mim! Quer saber por quê? É que após uma seleção bastante complicada e exigente fui aceito para trabalhar na equipe do chef Augusto Liguorinni! O restaurante dele é um dos mais comentados no Brasil, o Liguorinni's. O que mais um aspirante a chef com 22 anos poderia querer? Era uma terça-feira, 8 h da manhã, tinha acabado de abrir olhos, quando lembrei que dentro de doze horas eu estaria estreando meu avental numa das cozinhas mais cobiçadas do país! Incrível, não?
No entanto, eu estava triste. Muito triste! Acordei preocupado por conta de um desentendimento que tive na noite anterior com Henrique, meu melhor amigo. Ele e eu somos grandes companheiros desde os dez anos. Estávamos juntos nas brincadeiras infantis; permanecemos trocando experiências na turbulência e no dinamismo da adolescência; e hoje, já na fase adulta, seguimos nos apoiando. Certamente tivemos uma ou outra briga, o que é muito natural entre bons amigos. Algumas eram bem bobinhas, mas outras acabam ganhando corpo. Ao meu ver, o principal motivo disso é que Henrique tem a característica de se melindrar em excesso, se colocando com frequência numa postura de vítima. E essa postura, na qual ele realmente acredita, de certa forma revela meu "calcanhar de aquiles", pois não suporto a ideia de que alguém "pense mal" a meu respeito, ainda mais alguém tão querido (e você, como se sente quando é mal interpretado?). Afinal de contas, procuro ser sempre cordial, prestativo, honesto e por essa razão fico angustiado se alguém não enxerga a sinceridade das minhas intenções, ou pior, tira conclusões equivocadas a respeito delas. Bate um desconforto quando sou mal interpretado pelas pessoas que me cercam; Fico agitado internamente quando associam minhas atitudes à conotações negativas, que destoam dos propósitos que circulam em meu coração. E com isso, nos momentos de maior ansiedade, me torno um cara preocupado; uma pessoa que se justifica muitas vezes, com palavras e ações, na tentativa de não deixar nenhuma mancha na própria imagem: de bom amigo, bom filho, bom profissional etc. Algumas vezes as justificativas vinham de forma pacífica e sutil, por meio de frases ou atitudes "estrategicamente" (e inconscientemente) colocadas para que eu mantivesse as aparências; Mas outras vezes minha resposta a essas situações vinham de forma agressiva, por meio ataques ao indivíduo que teceu comentários errôneos em direção a mim: O tom de voz mudava e características ruins do "acusador" (que algumas vezes nada tinham a ver com o assunto em questão) eram relembradas e enfatizadas. Demorei algum tempo para perceber essas engrenagens que me movimentavam muitas das minhas atitudes. Na conversa que tive com Henrique, na noite anterior à minha estreia no "Liguorinni's", meu "calcanhar" foi atingido:
"Fábio, você não podia ter feito isso! Tinha que ter me contado!"
"Henrique, Achei que seria melhor para todos e por isso agi daquela forma. Eu não podia passar por cima de um pedido tão sério da sua mãe."
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Contos sobre a Vida
Short Story"OBSERVAÇÃO"! Essa é uma excelente ferramenta para nos ajudar a aprender! Através dela depositamos atenção nos elementos que nos cercam e que podem nos ser úteis de alguma forma. Somos estimulados a usá-la na escola, no ambiente profissional e até e...