Jogo de Encaixar

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 Fernanda trabalhava numa creche e todos os dias acordava com disposição e boa vontade para doar o melhor de si àqueles pequenos, que já lhe dispensavam enorme carinho. "Tia Nanda", era assim que os mais articulados verbalmente a chamavam.

Dentre eles estava Clarinha, uma linda menina de três anos, que agarrava as pernas de Fernanda todas as vezes que a via. Esse comportamento começou em um dia que "Tia Nanda" chegou com uma calça azul escura, repleta de estrelas grandes e douradas. Não se sabe bem a razão, mas Clarinha é aficionada por estrelas! De brinquedos a roupinhas, o gosto da criança nota-se com facilidade.

A creche, como de se esperar, oferecia uma enorme gama de atividades educativas, envolvendo brinquedos e tarefas em grupo (com crianças de faixa etária e desenvolvimento similar). Em um desses momentos de estímulo à aprendizagem, Clara e Fernanda conversavam:


"E então, Clarinha, qual brinquedo você vai querer? Que tal essa casinha? Lembra como abre a porta?"


"Não "quelo" essa."


"Tá bem, vai empilhar os bloquinhos de novo?"


"Não."


"Qual vai querer então?"


"Esse!"


Clarinha apontou para um tabuleiro repleto de formas geométricas vazadas: Quadrados, Círculos e Triângulos. Contudo, a forma do centro era uma estrela! Era um jogo de encaixe, parecido com outro da creche, já conhecido dela. A paixão da menina ditou a escolha.

"Ok, mas as peças não estão aqui... vou buscá-las pra você."


Tia Nanda voltou com um pote cheio de peças passíveis de serem encaixadas no tabuleiro e deixou ao lado de Clarinha.


"Depois não esquece de guardar tudo, combinado, mocinha?"


"Tá bom, Tia Nanda!"


A menina sorriu e começou a brincar. Outras crianças já brincavam. Fernanda se afastou um pouco para ajeitar uns papéis, junto com outra "Tia" da creche. Por um instante a atenção de Nanda voltou-se novamente para Clara. Eis o que a menininha fazia:

Iniciando a brincadeira, Clarinha, com caixa de peças à sua esquerda, esticava a mão e sem olhar pegava uma peça. Independente de qual fosse o objeto, a menina tentava, apressadamente, encaixá-lo no local estrela. O primeiro que veio foi um quadrado amarelo. Rapidamente tentou, não encaixou e deixou a peça de lado, no chão. Depois veio um círculo azul. Tentou repetir o ritual, sem sucesso, terminando por abandonar a peça. A terceira peça tomada aleatoriamente foi um outro quadrado, porém verde. Dessa vez a menina se esforçou mais. Fez força pra fazer a peça preencher o lugar da estrela, sem sucesso novamente. Nesse processo, acabou ficando com as mãos vermelhinhas, de tanta força que fez. Tentou então, raspar um pouco o quadrado no chão, a fim de modificá-lo, mas ele permaneceu rígido. Forçou mais uma vez o quadrado no espaço da estrela e nada! Veio então

a ideia de modificar o formato da estrela, assim talvez aquele lindo quadrado verde coubesse... contudo, ela sabia que ao fazer isso a estrela deixaria de ser o que era, e portanto, seu gosto por ela também não seria mais o mesmo. Não seria mais uma estrela. Clarinha, então, desistiu dessa opção. Deixou o quadrado verde no chão, junto às peças que sorteou anteriormente, e voltou a

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