O Mundo de Isabela

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Em plenos 25 anos de idade, Isabela anda a todo vapor. Até mesmo para seus estagiários, que são alguns anos mais novos, fica difícil de acompanhar os passos da jovem mulher. Olhando de longe, Isabela parece estar sempre com pressa e quando se conhece mais de perto adquire-se a certeza disso!

"Sra. Isabela, anda um pouco mais devagar, tô quase correndo para te acompanhar", era o que se ouvia com certa freqüência pelos corredores da empresa de telecomunicações.

"Desculpe, vou diminuir o passo!"

Ela até tentava... porém, dois ou três minutos depois a marcha acelerava novamente, o que de certa forma deve ter contribuído para que seus pupilos não sofressem tanto com os efeitos do sedentarismo.

Mas o "anda a todo vapor" não se referia apenas à velocidade da caminhada. Seus pensamentos também se sucediam, um após o outro, quase sem dar tempo para que a moça desse atenção a cada um.

"Preciso imprimir o relatório de gastos semanais; tenho que ver se a Saphira já coletou os dados para o plano de saúde dos empregados novos; A conta da Internet vence amanhã, não posso ficar desconectada; Acho que acabou o arroz da dispensa lá de casa...; Fora os dados para o plano de saúde, preciso que Saphira imprima duas declarações de gastos."

Esse ritmo acelerado, interno e externo, começou na adolescência, se estendeu para faculdade e se intensificou na vida profissional, devido aos prazos e cobranças por rendimento. Embora seja bastante compreensível dado o alto fluxo informações e exigências da vida moderna, Isabela foi instrumento passivo a essas sugestões de velocidade. Não foi moldada, mas se deixou moldar, como MUITOS de nós fazemos. Podia ter questionado a muitos pedidos superiores, cujos chefes sabiam ser descabidos, mas preferiu atender cegamente à certas solicitações em nome da própria "eficiência" perante os outros; Podia ter dividido melhor seu tempo entre família, amigos e namorado (que namorado?) mas preferiu concentrar 90% da sua energia nos papéis, gráficos e relatórios (que não conversavam com ela, não a levavam no cinema e nem almoçavam com ela no domingo, mas poderiam lhe render um ou dois tapinhas nas costas na manhã seguinte). Sabiamente, sua mãe lhe advertia:

"Isabela, se você morre, fica tudo aqui! E ainda colocam rapidinho outra no seu lugar!"

E colocariam mesmo, porque apesar de ser querida pelos colegas, a empresa não poderia parar... Mas Isabela retrucava:

"Não vou discutir, a senhora não entende como as coisas funcionam lá, mãe."

É, sua mãe de fato não entendia nada de planejamento de gastos e outras burocracias administrativas, mas isso não lhe tirava a razão.

Qualquer pessoa um pouco mais atenta era capaz de observar que Isabela poderia ter dançado a música de forma um pouco diferente... Isso significaria deixar de fazer o que precisava? Significaria deixar de ser produtiva? Não. Mas Isabela não se contentava com as metas do dia. Trabalhava enquanto houvesse energia para se mostrar cada vez mais eficiente. Ela resolveu agir igual a muitos de seus pares e se tornou uma excelente profissional!! Conheceu 13 países viajando a negócios, era sempre apontada como exemplo de desempenho, ganhou 2 promoções em um ano, ganhou, enfim, muitas coisas... MUITAS... COISAS... mas talvez tenha perdido a que mais importava: sua própria perspectiva de vida. Seus interesses giravam quase todos em torno de ser boa profissional, chegar no topo, tudo após uma lavagem cerebral que ela topou passar de bom grado.

Sei que algumas vezes ela se perguntava o que sobraria após chegar no lugar mais alto, os aplausos acabassem e a platéia que a exaltava tivesse ido embora.

"E aí?"

Ela não sabia responder à própria pergunta, mas não se detinha muito nisso, pois rapidamente algum outro pensamento a desviava da importante reflexão: "Droga, ainda tenho que imprimir a planilha da reunião de hoje!".

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