A Formiga

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Uma das coisas que Beatriz mais gostava de fazer era passar as tardes de domingo no quintal de sua avó. Perdia-se no meio das flores, deslumbrada com tantas cores e cheiros diferentes; empoleirava-se na mangueira e comia seus frutos no pé, por entre os galhos, o que deixaria Dona Izilda, sua avó, de cabeça branca caso ela assim já não estivesse. Beatriz era uma menina sonhadora, como boa parte das crianças e no auge dos seus 10 anos, muito bem vividos, tinha a intenção de ajudar o mundo, fazer algo importante. Era boa por essência e se afligia pelas coisas que via na TV ou ouvia os adultos dizerem.

"Quando crescer serei uma médica, para ajudar muitos doentes!!!"

Pensava mais um pouco e se corrigia, "Não, não... serei uma cientista e vou descobrir a cura para alguma doença!!!" ou ainda "Viajarei pelo mundo combatendo a fome". Seus pais, bem como sua avó, não lhe cortavam asas, e pelo contrário, estimulavam-lhe a inventividade:

"E como minha filhinha fará para arrumar dinheiro para viajar? Papai vai trabalhar bastante para te ajudar!"

"No natal mamãe vai pedir pro papai Noel te dar um microscópio, aí você já vai aprendendo as coisas da ciência."

"Acho melhor minha netinha crescer e estudar logo pra poder cuidar da coluna da vovó, que anda cada vez mais malcriada."

Aquelas eram preocupações sinceras, intensas, e se apresentavam de forma distinta na menina. Porém, Beatriz não era uma criança tão diferente assim e como todas, apesar da muita energia, ela se tornava um tanto escorregadia quando se tratava dos pequenos afazeres domésticos. Adorava bolo de chocolate, contudo na hora de lavar a batedeira, Beatriz estava a brincar com a mangueira; passear com o cachorro era o programa preferido nas manhãs de domingo, mas no momento de dar banho no mascote, era Beatriz quem fugia de mansinho; No último domingo era para Beatriz ajudar Dona Izilda com a comida. Foi isso o que ela fez? Não... foi brincar com as formigas:

"Nossa, vocês andam em fila, uma atrás da outra... por que??"

Certamente, nenhuma respondeu. Seguiram apenas seu curso carregando pedaços de folhas, insetos e outras coisas que Beatriz não conseguia identificar. Curiosa, a menina resolveu seguir a trilha de formigas pelo jardim. Chegou até um montinho de terra, logo abaixo da mangueira. Então, ela sentou e encostou-se no tronco da árvore. Observou, observou, mais, e mais um pouco até que uma das formigas abandonou a trilha.

"Ei, onde você vai??"

A formiguinha deixou de lado o pedaço de folha que carregava e continuou sua marcha para longe da trilha.

"Porque você está fazendo isso? Volta pra fila!"

"Não quero! Tenho coisas mais relevantes a fazer!"

Sim, para a surpresa da menina, a formiga tinha respondido.

"Você fala???"

"É, se falarem comigo, eu respondo."

"Por que você está saindo da trilha?"

"Por que esse não é o meu destino, nasci para fazer algo melhor do que isso!"

"Como assim? O que tem em mente?"

"Menina, olha meus irmãos trabalhando... tudo é pra eles, para nós. Eu quero ver o mundo e ajudar o máximo de seres que eu puder. Fazer algo importante!!"

"Nossa! Eu também!!!"

"Fiquei sabendo que o casal de sabiá aí em cima tá precisando de uma ajuda com o ninho, para construí-lo. Vou me oferecer!"

A formiguinha subiu até aos galhos e alcançou os passarinhos. Mexe daqui, mexe dali... mas a formiguinha parecia não estar ajudando muito, afinal, ela não sabia nada de construção de ninhos e também nada entendia sobre as necessidades de um sabiá. O casal agradeceu a solicitude, mas dispensou educadamente a ajuda.

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