- E então? - perguntei, enquanto ele preparava nossos chás.
- Por onde quer eu comece? - perguntou ele, dando as costas para mim, enquanto colocava as xícaras no microondas.
- Do começo. - respondi.
- Bom.. Eu não sou filho de Melissa. - suspirou ele - meu pai herdou essa empresa da minha mãe biológica, depois da morte dela. O grande nome Santoro, é graças a ela: Elara Santoro, minha mãe. Não lembro muito bem como eles se conheceram e tudo mais, mas se eu não me engano, também foi um casamento arranjado, a diferença entre o nosso e o deles. É que eles, não se conheciam. - disse ele.
- Faz quanto tempo que ela morreu? - perguntei.
- Já faz exatamente 21 anos.. - disse ele, dando as costas para mim.
- Mas.. - comecei a raciocinar.
- Exatamente Ana. Minha mae morreu, quando eu nasci. Eu sou o culpado pela morte dela. Eu a matei. A culpa é minha. - disse ele, abaixando a cabeça.
Ele ficou daquele jeito por um bom tempo, ficamos em um silêncio ensurdecedor. Foi quando olhei para ele, e vi uma lágrima escorrendo em seu rosto. Felipe Santoro estava chorando. Pela primeira vez na vida pude ver uma cena daquelas. Naquele garoto haviam duas coisas: culpa e tristeza. Eu nunca o vi chorar. E me senti a pior pessoa do mundo naquele momento, por simplesmente não saber o que fazer - Ótima psicóloga - mas realmente não sabia o que fazer, não fazia ideia de como agir. Eu não estava acostumada com aquele Felipe, fraco e vulnerável.
Me senti culpada, pois eu me esqueci que Felipe Santoro, assim como qualquer ser humano normal, era humano, sendo assim, sentia. Sendo assim chorava, gritava, ficava triste. Ele era humano, ele é humano. Ele só se paga de durão, tudo é fachada para esconder o que ele realmente sente.
Não sabia o que fazer, ele chorava, mas não me encarava. Era um choro baixo, quase inaudível, era aquele choro que se chora de madrugada, onde somente os travesseiros são capazes de escutar. Meio sem jeito, lhe dei um abraço, e ele não se moveu, continuava ali, chorando.
Ele sentia culpa por algo inevitável, algo que nem ele nem ninguém jamais poderia intervir. Ninguém jamais poderia prever. Ele não fez nada, ele não tem culpa, ele era apenas uma criança, um recém nascido. Mas de qualquer forma, a culpa o atormentava.
- Eu tenho cicatrizes. - disse ele, após um tempo em lágrimas.
- Pessoas têm cicatrizes. Todas elas. Não sempre sobre a pele, às vezes sobre a alma, ou sobro coração. - respondi, ainda o abraçando.
Ele ficou em silêncio, imagino eu que estava se martirizando mentalmente. As lágrimas voltaram a rolar.
- A culpa não foi sua. - disse, tentando acalmá-lo.
- Claro que foi. - disse ele.
- O que você poderia ter feito?
- Talvez... - ele me encarou com um sorriso nos lábios, mas não o seu sorriso diário, não quele sorriso torto, cafajeste que eu estou acostumada. Era um sorriso triste. - Se eu não tivesse nascido. - finalizou, não senti remorso em suas palavras, não senti nada. Ele falava a verdade, ele falava o que ele sentia ser o certo.
- Não diga uma besteira dessas! - o repreendi - Quem te disse uma coisa dessas?
- Vai dizer que é mentira? - apenas assenti cm a cabeça. - cresci ouvindo meu pai dizer que eu fui culpado da morte dela, cresci ouvindo ele dizer que minha mãe morreu em vão por mim. E ele esta certo, olha no que me tornei, olha quem eu sou. - disse ele, desdenhando de si.
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Love By Contract [REVISANDO]
Novela Juvenil[REVISÃO EM ANDAMENTO] O pai de Anastácia Müller se vê sem saída quando descobre que sua empresa está prestes a falir, a ambição e a necessidade de voltar para o topo lhe faz oferecer uma ideia absurda para a sua filha: um casamento por contrato. An...