Os vejo se aproximando de minha cela.
A morte está próxima, mas não mais do que sempre esteve.
O ar é um tecido, a superfície mais fina e delicada que pode existir.
A promessa distante de algo divino.
Intocável.
Puro.
Corruptível.
Em timbre metálico ele grita ao ser rasgado e reverbera pelas paredes de vidro, correndo até se chocar com meus tímpanos.
Cala a boca de todos, gritos, choros, pensamentos, tudo se emudece como se o ar tivesse se tornado uma parede acústica ou mesmo o som deixado de existir, assim como muitas coisas nesse mundo.
Ninguém ameaça se mover enquanto duas toneladas de metal grita ao ser arrastada pelo piso, correndo em seu trilho e abrindo o inferno.
A menor das vibrações parece ser o suficiente para nos levar à ser dilacerados.
As grossas paredes à minha volta impedem que qualquer coisa lá fora me ouça, mas não é o suficiente.
Me protegem contra qualquer coisa, exceto meus monstros.
Eles possuem a chave, não eu.
Meus olhos se fecham, minha respiração para e meu coração pulsa forte demais.
Mando que se cale.
Imploro que pare.
Mas não sou obedecida.
O único órgão que está além de meu controle me denúncia, pulsa de forma explosiva como uma velha bomba hidráulica.
Um ruído próximo e alto demais para passar despercebido, o único indício de que ainda há vida em mim.
O mundo está morto, mas continuamos aqui e eu não entendo o por que.
A escada de metal range com os passos de pesadas botas enquanto eles sobem para este patamar.
Seguido por um som estridente de unhas monstruosas arranhando a parede de vidro por fora das celas, passando uma após a outra em minha direção.
Um passo para cada batida de meu coração, 70 milímetros de sangue atirado nas intrincadas vias arteriais de meu corpo.
Espalhando o medo em sua forma mais irracional e legítima possível.
Um crianca boba apela ingenuamente para ser escolhida.
Alguém corajoso ou tolo o suficiente para acreditar na mentira que é propagada entre nós e como uma criança birrenta se frustra ao ter seu pedido ignorado.
Não sabe a sorte que possui e se amaldiçoa por ela.
Tudo torna-se mais nítido conforme chegam mais perto.
Os coletores parecem atraídos por mim como mariposas dançando em torno da luz.
Quando chegam à minha cela param por um instante.
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Prisão De Pássaros
Science FictionEssa história conta a vida de um belo passarinho, um animal infeliz com o rumo de seu destino. Algo tão belo e puro quanto livre, símbolo da liberdade, até que foi pego por um caçador e colocado em uma gaiola menor que a envergadura de suas asas. Se...