Capítulo I: Teste de Dor

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Os vejo se aproximando de minha cela.

A morte está próxima, mas não mais do que sempre esteve.

O ar é um tecido, a superfície mais fina e delicada que pode existir.

A promessa distante de algo divino.

Intocável.

Puro.

Corruptível.

Em timbre metálico ele grita ao ser rasgado e reverbera pelas paredes de vidro, correndo até se chocar com meus tímpanos.

Cala a boca de todos, gritos, choros, pensamentos, tudo se emudece como se o ar tivesse se tornado uma parede acústica ou mesmo o som deixado de existir, assim como muitas coisas nesse mundo.

Ninguém ameaça se mover enquanto duas toneladas de metal grita ao ser arrastada pelo piso, correndo em seu trilho e abrindo o inferno.

A menor das vibrações parece ser o suficiente para nos levar à ser dilacerados.

As grossas paredes à minha volta impedem que qualquer coisa lá fora me ouça, mas não é o suficiente.

Me protegem contra qualquer coisa, exceto meus monstros.

Eles possuem a chave, não eu.

Meus olhos se fecham, minha respiração para e meu coração pulsa forte demais.

Mando que se cale.

Imploro que pare.

Mas não sou obedecida.

O único órgão que está além de meu controle me denúncia, pulsa de forma explosiva como uma velha bomba hidráulica.

Um ruído próximo e alto demais para passar despercebido, o único indício de que ainda há vida em mim.

O mundo está morto, mas continuamos aqui e eu não entendo o por que.

A escada de metal range com os passos de pesadas botas enquanto eles sobem para este patamar.

Seguido por um som estridente de unhas monstruosas arranhando a parede de vidro por fora das celas, passando uma após a outra em minha direção.

Um passo para cada batida de meu coração, 70 milímetros de sangue atirado nas intrincadas vias arteriais de meu corpo.

Espalhando o medo em sua forma mais irracional e legítima possível.

Um crianca boba apela ingenuamente para ser escolhida.

Alguém corajoso ou tolo o suficiente para acreditar na mentira que é propagada entre nós e como uma criança birrenta se frustra ao ter seu pedido ignorado.

Não sabe a sorte que possui e se amaldiçoa por ela.

Tudo torna-se mais nítido conforme chegam mais perto.

Os coletores parecem atraídos por mim como mariposas dançando em torno da luz.

Quando chegam à minha cela param por um instante.

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