Prisão De Pássaros

Capítulo XIII: O Garoto das Tintas e a Resistência

Daren não sabe por que o Mediador está me procurando ou a razão que tenho para fugir, e ainda sim, me ajuda. Ele já tinha um lugar seguro em mente e é para esse lugar que estamos indo.

Hoje é diferente de todos os outros dias que passei aqui, as expressões de todos sempre foram de devastação, tristeza e imparcialidade à tudo o que acontece em torno deles, mas hoje que o Mediador se encontra na cidade, todos estão mudados, as feições são de medo e angústia, e é triste pensar que essa é a feição mais humana que eles tiveram em anos.

Os pais correm para esconder seus filhos, as pessoas escondem ou jogam nas ruas seus pertences que poderia os condenar à morte, fazendo com que por toda a extensão do chão negro da quinta divisa tenha livros desgastados sendo pisoteados, belos desenhos em quadros, todos os objetivos que fazem menção há uma sociedade mais igualitária, sem a cidade prateada e os últimos receptáculos da humanidade que ainda resta deles, tudo que pertencia à essas famílias antes delas estarem na situação atual, objetos que tem valores sentimentais incompreensíveis para os demais, mas que são descartados por seus donos, obrigados pelo medo de serem pegos com eles.

Seguimos para o lado oposto ao lixão, uma região desconhecida por mim até então.

A maioria das velas dos corredores de passagem estão apagadas e por isso está escuro de uma forma que eu nunca havia visto antes. Estava ciente que o Mediador é uma pessoa terrível, gananciosa e inescrupulosa, mas jamais imaginei que apenas sua presença pudesse causar tanto caos.

- Fica por perto. - manda Daren e pega em minha mão, me conduz como se fosse uma criança sujeita à se perder em meio a multidão e acho que poderia mesmo.

O medo se torna ainda mais presente quando gritos ecoam até nós, pessoas correm em sentido contrário ao que seguimos, tantas vozes gritando a mesma coisa.

"Fujam!" E "Estão aqui!"

Eu e Daren apressamos nossos passos. Se estão fugindo do Mediador, deveriam estar correndo no outro sentido, a não ser que estejamos cercados por seus homens e se esse for o caso precisamos chegar o quanto antes à esse abrigo.

- Vamos logo!

Daren firma o aperto em minha mão e me puxa, ele pensa o mesmo que eu.

Seus passos são mais vigorosos e rápidos que os meus, meu corpo ainda dói e meus músculos não estão tão acostumados a correr.

- O que aconteceu? - pergunto vendo a mudança repentina no comportamento de Daren, assim como nos demais, sinto como se apenas eu não soubesse o que está acontecendo e isso é frustrante, mas muito provável devido à minha vida reclusa.

- Tem algo errado, ninguém corre do Mediador, não há para onde fugir dele e não há razões, apenas entregam os bens de valor e o Mediador vai embora.

- Mas e se ele quer apenas à mim? - Seria uma explicação razoável, ele não deseja nada além de mim e comete atos severos com todos que não colaboram com isso ou não possuem informações minhas, mas apenas correriam assim caso o Mediador estivesse os matando de forma descontrolada.

- Ele iria coagir à todos e propor uma troca, mas estão fugindo como se a morte estivesse os perseguindo, o que não faz sentido, nesse caos é mais difícil encontrar uma pessoa específica.

- Está dizendo que não estão fugindo do Mediador? Então do que seria?

Daren se fecha ainda mais e não me responde, mas não preciso fazer suposições por muito tempo, logo o número de pessoas à nossa volta diminui rapidamente e vemos a origem da confusão.

Mikhail está em pé à algumas dezenas de metros à nossa frente, ele golpeia com uma barra de metal todos que passam próximo à ele e grita coisas sem sentido, gritos carregados de ódio e insanidade. Uma insanidade diferente da que conheço, uma loucura criada pela violência e pela vontade de matar, e não pela solidão e abandono que estava tão acostumada a presenciar em meus vizinhos de cela.