Capítulo III: Escolha Difícil

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Cerca de uma semana se passou desde que Dan me deixou pela segunda vez e ainda assim eu não me esqueci de tudo que aconteceu no último dia que ele esteve aqui. Aquele dia pela primeira vez eu tive alguma pista do motivo que estou aqui, mas a falta de informações e o pouco que conheço do mundo e das pessoas tornam isso o pior enigma que poderia existir, é como desvendar a imagem de um quebra-cabeças de mil peças tendo apenas duas, não importa o quão inteligente seja jamais conseguirá ver a imagem sem mais peças e eu estou nessa situação, não consigo descobrir por mim mesma porque estou aqui e o que o Dan queria dizer com suas últimas palavras.

Posso não saber nada, mas sei que eu odeio até o mais profundo de minha alma quem me colocou aqui, esse monstro roubou a minha vida, roubou o convívio com os meus pais, roubou o mundo de mim e nada pode justificar isso, e Dan está com eles, aquele garotinho que um dia quis ser meu amigo, que eu vi adoecer e que eu torcia profundamente para que se lembrasse de mim como uma garota boba e ingênua apaixonada por um cafajeste, quero odiar ele, tenho esse direito, mas não consigo, por mais que eu tente eu não consigo e me odeio por isso.

Sou tirada dos meus pensamentos quando as luzes se apagam e a porta se abre. Olho para ela esperando ver os homens que carregam os meus momentâneos companheiros para me levar de volta ao pátio de celas, mas não dessa vez, não entra ninguém.

Quando se passa exatos três minutos e nada muda me levanto hesitante e caminho até a porta, meu coração dispara como se eu estivesse me arriscando em uma aventura. Olho para o corredor e ele está vazio em ambos os lados, exceto por uma porta entreaberta e mesmo estranhando tudo isso meu peito se enche de esperança de eu conseguir escapar desse lugar.

Por um instante penso se não houve uma falha e a segurança foi desativada, mas logo a realidade joga um balde de água fria em meus pensamentos, é claro que se isso tivesse acontecido as portas teriam se trancado, não o oposto.

Por mais que eu pense, a única explicação lógica que chego é que Dan esteja cumprindo sua promessa e fez isso para me libertar.

Deixo que esse pensamento me guie e relaxo um pouco a tensão que me dominava. O corredor adjacente possui muitas portas, testo uma à uma e apenas a sexta está aberta, ela dá acesso à um refeitório todo branco com muitas mesas dispostas de modo que formam cinco corredores.

Devido à ausência de luz não posso ver muito além de alguns metros e só percebo o tamanho do local quando caminho por ele, tento imaginar a quantidade de pessoas que fazem suas refeições aqui e onde todas elas estão agora.

Um grito de medo soa pelo cômodo vazio e em resposta eu paro aonde estou, toda a coragem que possuo repentinamente me deixou e minhas pernas vacilam. O grito é seguido do som de panelas caindo e um rosnado infernal que por si só faz a pessoa mais corajosa tremer de medo como uma criancinha e ouço o pior de tudo, o som de algo sendo rasgado como uma fera comendo, acompanhado de muitos gritos de dor.

Mesmo o medo correndo em cada veia do meu corpo eu contínuo andando, de algum modo a curiosidade gritando mais alto que o medo.

A última mesa do corredor está tombada. Vejo alguns metros depois dela uma porta de ferro dependurada por uma de suas dobradiças, as outras duas estão estouradas, o piso está molhado e escorregadio, mas não consigo ver o que tem no chão e no centro da parede ao lado vejo uma janela de vidro trincada com várias marcas de batida, obviamente causadas por alguém tentando quebrá-la.

Me aproximo da janela e olho para dentro, é uma cozinha industrial clareada debilmente pela geladeira que está com a porta aberta. Vejo uma bancada de mármore depois de uma pia e de frente para ela um fogão comercial, vejo no chão ao lado uma pessoa, um homem perto da meia idade caído de bruços e ensanguentado. Então ele é puxado pelas pernas e desaparece da minha vista deixando apenas um rastro de sangue.

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